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Titãs: Titanomaquia e um dos textos mais clássicos da crítica brasileira

Por Ricardo Seelig
Fonte: Collectors Room
Postado em 05 de julho de 2019

Uma das melhores e maiores bandas do rock brasileiro, o Titãs teve um início de década de 1990 explosivo. Após uma trinca excelente com os discos "Cabeça Dinossauro" (1986), "Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas" (1987) e "Õ Blésq Blom" (1989) - com direito a "Go Back" (1988), gravado ao vivo em Montreux, no meio -, o octeto paulista iniciou uma jornada controversa.

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Querendo mudar a sua sonoridade e refletindo o período conturbado que o Brasil vivia na época, com a eleição de Fernando Collor para presidente na primeira eleição democrática após a ditadura militar e os efeitos que ela teve, como o surpreendente confisco das economias depositadas nas cadernetas de poupança, o Titãs mudou radicalmente a sua música. No lugar do pop rock inteligente e inovador, com letras muito bem escritas e repletas de poesia, surgiu um rock agressivo, pesado e com letras escatológicas - pra não dizer de mau gosto.

É isso que se ouve em "Tudo ao Mesmo Tempo Agora", sexto álbum do grupo, lançado em 22 de setembro de 1991 e produzido pela própria banda. O LP traz composições como "Clitóris", "Isso Para Mim é Perfume" e outras, a sua maioria com letras bastante opostas ao que eles faziam até então e explorando temas pra lá de polêmicos, pra não dizer gratuitos. Além disso, musicalmente o Titãs trouxe uma abordagem mais crua e direta, longe do refinamento pop presente nos álbuns anteriores e que alcançou o seu auge em "Õ Blésq Blom". O público estranhou, a crítica odiou e o disco encalhou. "Tudo ao Mesmo Tempo Agora" vendeu muito menos que os números habituais da banda, e os reviews negativos deram início ao fim da relação até então harmoniosa entre o grupo e a imprensa especializada.

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Arnaldo Antunes saiu em 1992, enquanto Nando Reis já alimentava a ideia de uma carreira solo, cuja estreia seria efetivada apenas em 1994 com o álbum 12 de Janeiro.

Dois anos depois, o Titãs retornou com "Titanomaquia", lançado em 10 de julho de 1993 e produzido por Jack Endino, o norte-americano que havia assinado "Bleach" (1989), do Nirvana. Deixando de lado as letras escatológicas mas mantendo o peso e a urgência, o trabalho ficou conhecido como o "disco grunge" do Titãs, tanto pela sonoridade quanto pela presença de Endino. Mais uma vez o álbum não foi bem aceito pelo público (ainda que uma parcela tenha aprovado o trabalho) e pela crítica, que não poupou palavras para classificar a nova fase da banda.

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Esse descontentamento gerou um dos textos mais antológicos da extinta revista Bizz, que foi justamente a análise do jornalista André Barcinski para "Titanomaquia", publicada na edição 97 da publicação, que chegou às bancas em agosto de 1993. Leia abaixo:

"Data: algum dia perdido em 92.
Local: casa de um dos Titãs. Os sete roqueiros se reúnem para traçar as metas de seu novo álbum.
Paulo: Bom, galera. E aí? Nosso último disco foi massacrado.
Toni: É mesmo. Temos que pensar em algo diferente. Vamos começar pelo nome. Alguém tem uma sugestão?
Nando: Que tal Pa-Ra-Le-Le-Pí-Pe-Do?
Marcelo: Não, nada de poesia concreta. O Arnaldo saiu, se liga!
Charles: Que tal um disco grunge? Está bem na moda ...
Sérgio: Será dá certo?
Charles: Porra, até o Capital Inicial tá fazendo cover do Pearl Jam!
Branco: É mesmo! O Dinho rasgou todas as suas calças e tatuou "eu sou roqueiro" na cabeça.
Charles: A gente poderia chamar aquele cara do Nirvana para produzir, o Butch Vig ...
(Segue-se um longo intervalo, durante o qual Charles liga para a gravadora).
Charles: Rapeize, o Butch não dá, mas eles me garantem um tal de Jack Albino.
Paulo: Albino? Legal, talvez ele até curta o Hermeto Pascoal.
Nando: Mas eu não entendo nada de grunge. Só ouço Tom Zé e Marisa Monte!
Branco: Não tem mistério. O negócio é o seguinte: a gente mete umas guitarrinhas distorcidas, fala uns palavrões no meio das músicas e põe no press release que nosso negócio agora é pauleira!
Marcelo: Será que vai colar?
Sérgio: É lógico. Brasileiro é tudo bundão! A molecada toda só tá andando com esse visual grunge, eu vi no Programa Livre.
Toni: A gente pode fazer umas fotos com visual punk!
Marcelo: Oba, vou estrear a minha camiseta do Tad.
Nando: Você também fez este curso de datilografia?
Branco: Só tem um problema: e se esta onda grunge acabar? E se o samba entrar na moda?
Charles: Bom, acho que talvez o Agepê toparia produzir nosso próximo disco."

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Preciso, irônico e inspirado, o texto de Barcinski levou a uma reação da banda, que rasgou edições da Bizz em diversos shows da turnê, além de motivar uma enxurrada de cartas de fãs endereçadas para a redação da revista.

O fato é que, passados 25 anos de seu lançamento, "Titanomaquia" soa interessante e não é esse bicho de sete cabeças que foi pintado na época. É claro que tanto ele quanto "Tudo Ao Mesmo Tempo Agora" soam inferiores a "Cabeça Dinossauro", "Jesus" e "Õ Blésq Blom", porém são superiores a tudo que a banda produziu depois de 1993 e que gerou bizarrices ainda maiores como "As Dez Mais" (1999). Para muitos, "Titanomaquia" marcou o fim do melhor período do Titãs. Opiniões à parte, o fato é que trata-se de um álbum sem dúvida marcante, e que gerou um dos textos mais antológicos já publicados pela crítica musical brasileira.

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E você, qual a sua opinião sobre "Tudo Ao Mesmo Tempo Agora" e "Titanomaquia"?

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Sobre Ricardo Seelig

Ricardo Seelig é editor da Collectors Room - www.collectorsroom.com.br - e colabora com o Whiplash.Net desde 2004.
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