Kreator: crítica à guerra nuclear em "As the world burns"
Por Rodrigo Lourenço Costa
Fonte: Blog HM - História e Metal
Postado em 16 de junho de 2013
Ainda sobre o medo do Holocausto Nuclear, os alemães do Kreator falam sobre o tema na canção "As The World Burns", do seu terceiro álbum de estúdio chamado "Terrible Certainty", de 1987. Como curiosidade sobre essa música, é o último registro em estúdio onde o baterista Ventor assume também a voz principal, tarefa que desenvolveu principalmente no primeiro álbum, e em menor escala no segundo, quando Mille Petrozza assume de vez esse papel.
As The World Burns
Kreator – Álbum: Terribel Certainty (1987)
The war is here
The future stops
Existence ends
Apocalypse will take our lives
One by one
As cities fall
As cultures die
As hope for survival
Turns into nothingness for us
Await your fate
You know there is nothing to save us now
Mankind never learns
Controlled by violent brains
The population has to pay
Doomsday has returned
As the world burns Try to run, try to scream
It's too late
Megatons of death await to explode
To clear away
Fire and Pain
Now the time has come to destroy the planet Earth
Await your fate
You know there is nothing to save us now
Mankind never learns
Controlled by violent brains
The population has to pay
Doomsday has returned
As the world burns
(Tradução)
Conforme o Mundo Queima
A guerra está aqui
O futuro pára
A existência acaba
O apocalipse levará nossas vidas
Uma a uma
Conforme cidades caem
Conforme culturas morrem
Conforme a esperança de sobrevivência
Torna-se inexistente para nós
Espere seu destino
Você sabe que não há nada para nos salvar agora
A humanidade nunca aprende
Controlada por cérebros violentos
A população tem de pagar
O dia do juízo final retornou
Conforme o mundo queima
Tente correr, tente gritar
É tarde demais
Megatons da morte esperam para explodir
Para varrer
Fogo e dor
Agora chegou a hora de destruir o planeta Terra
Espere seu destino
Você sabe que não há nada para nos salvar agora
A humanidade nunca aprende
Controlada por cérebros violentos
A população tem de pagar
O dia do juízo final retornou
Conforme o mundo queima
Análise:
Seguindo o estilo do Kreator, esta música tem uma abordagem bem direta sobre o tema, e o clima predominante é o de total raiva e indignação, que pode ser sentido através do ritmo acelerado dos instrumentos e do som visceral da bateria, onde as batidas soam como se fossem pancadas secas para aumentar a sensação do peso contido na parte lírica. O vocal gutural confirma a impressão que temos de alguém que está extremamente raivoso diante do que julga ser uma estupidez dos governos, que se armam para causar a destruição em massa. Em junho daquele ano temos o famoso discurso de Ronald Reagan no Portão de Bradenburgo, com o Muro de Berlim ao fundo, onde ele pede a Mikail Gorbatchov que derrube o muro, e consequentemente o socialismo, mostrando que o clima ainda era de extremamente tenso entre EUA e URSS (MEYER, 2009, p. 15-17).
A frase que inicia a canção sucita uma reflexão: "The war is here". Em nenhum outro lugar a Guerra Fria teve contornos mais dramáticos que na Alemanha, um país dividido logo após a II Guerra Mundial, por interesses do bloco Capitalista (liderados pelos EUA) e do bloco Socialista (liderados pela URSS). Os germânicos do Kreator evidenciam esse sentimento, colocando o clima de guerra como algo que está na porta de suas casas.
Contextualizando com o temor da guerra nuclear, a letra coloca como o homem comum sente-se impotente diante da situação catastrófica causada como consequência da utilização das armas, como evidencia o trecho "Apocalypse will take our lives / One by one / As cities fall / As cultures die / As hope for survival / Turns into nothingness for us".
O sentimento de medo é reforçado, com tom desesperador impresso nas palavras e na entonação em que são vociferadas, mais uma vez pela passagem "Try to run, try to scream / It's too late / Megatons of death await to explode / To clear away / Fire and Pain / Now the time has come to destroy the planet Earth". Aqui temos a palavra Megaton empregada como poder de destruição das armas nucleares (obs: não vou entrar em descrição detalhada, mas para simplificar aos que não são familiarizados com o termo, é a capacidade de energia armazenada para gerar uma explosão. Para comparação, a bomba que destruiu a cidade de Hiroshima em 1945 tinha aproximadamente 1,2 megaton. No auge da Guerra Fria, URSS e EUA chegaram a desenvolver armas que podiam chegar até 50 megatons.) Segundo a canção, detonar esses arsenais varreriam a existência humana do planeta, literalmente.
O refrão sintetiza o mote geral da canção, sobre destruição, egoísmo e arrogância. "Await your fate / You know there is nothing to save us now / Mankind never learns", diz que ao homem comum não resta nada a não ser esperar sua aniquilação, pois nada irá salva-lo, nem política, nem religião (aqui temos uma das características bem marcantes das canções do Kreator, e suas posições que perpassam a carreira da banda). E quando diz que "a humanidade nunca aprende" está fazendo uma referência às própria história, marcadas por guerras e genocídios insensatos.
Essa mensagem é amplificada na parte final do refrão "Controlled by violent brains / The population has to pay / Doomsday has returned / As the world burns", criticando a própria natureza humana, que é violenta (outra marca da discografia do Kreator), e usando a metáfora do "Dia do Juízo Final" para falar sobre uma possível Guerra Nuclear, travada por interesses de grandes potências e seus governantes bélicos. A guerra é deles, mas quem paga é a população, com impostos e com a vida.
O clima predominante na canção é da mais pura raiva. Começa como uma avalanche sonora, e assim prossegue. Não há como ficar tranqüilo ouvindo a música, pois ela transmite um sentimento de movimento intenso. A música começa com riffs intensos, e é logo acompanhada pela bateria brutal (batidas com extrema violência e secas, acompanhadas das batidas nos pratos, causando a impressão de pancadas mesmo). O vocal gutural e os gritos que acompanham o refrão completam o clima de desespero e indignação que a música passa. Os vocais dessa música são feitos pelo baterista Jorgen "Ventor" Reil, que expele as palavras com seu timbre gutural, colocando força e raiva em cada palavra, dando "vida" à canção. As frases musicais são cantadas pausadamente, dando ênfase fonética à ultima sílaba.
Luis Alberto Braga Rodrigues | Rogerio Antonio dos Anjos | Everton Gracindo | Thiago Feltes Marques | Efrem Maranhao Filho | Geraldo Fonseca | Gustavo Anunciação Lenza | Richard Malheiros | Vinicius Maciel | Adriano Lourenço Barbosa | Airton Lopes | Alexandre Faria Abelleira | Alexandre Sampaio | André Frederico | Ary César Coelho Luz Silva | Assuires Vieira da Silva Junior | Bergrock Ferreira | Bruno Franca Passamani | Caio Livio de Lacerda Augusto | Carlos Alexandre da Silva Neto | Carlos Gomes Cabral | Cesar Tadeu Lopes | Cláudia Falci | Danilo Melo | Dymm Productions and Management | Eudes Limeira | Fabiano Forte Martins Cordeiro | Fabio Henrique Lopes Collet e Silva | Filipe Matzembacher | Flávio dos Santos Cardoso | Frederico Holanda | Gabriel Fenili | George Morcerf | Henrique Haag Ribacki | Jorge Alexandre Nogueira Santos | Jose Patrick de Souza | João Alexandre Dantas | João Orlando Arantes Santana | Leonardo Felipe Amorim | Marcello da Silva Azevedo | Marcelo Franklin da Silva | Marcio Augusto Von Kriiger Santos | Marcos Donizeti Dos Santos | Marcus Vieira | Mauricio Nuno Santos | Maurício Gioachini | Odair de Abreu Lima | Pedro Fortunato | Rafael Wambier Dos Santos | Regina Laura Pinheiro | Ricardo Cunha | Sergio Luis Anaga | Silvia Gomes de Lima | Thiago Cardim | Tiago Andrade | Victor Adriel | Victor Jose Camara | Vinicius Valter de Lemos | Walter Armellei Junior | Williams Ricardo Almeida de Oliveira | Yria Freitas Tandel |
Embora não sendo uma das canções mais famosas da banda, "As The World Burns", ela é um registro muito bom do que o Thrash Metal oitentista produziu, com suas discussões políticas. A música, como outras do período e da própria banda, tratam do Holocausto Nuclear. Aqui o assunto é direto, para que seja entendido pela sua audiência, mostrando que o mundo naqueles tempos, não ia nada bem.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROS, José D’Assunção. O campo da História: especialidades e abordagens. Petrópolis, Editora Vozes, 2004
CHRISTIE, Ian. Heavy Metal: a história completa. São Paulo: Editora Arx, 2010.
GUARINELLO, Norberto L. História científica, história contemporânea e história cotidiana. Revista Brasileira de História, São Paulo, v24, n.48, 13-38, 2004.
HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: O Breve Século XX (1914-1991). São Paulo; Companhia das Letras, 1995.
MEYER, Michael. 1989: o ano que mudou o mundo: a verdadeira história da queda do Muro de Berlim. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2009
MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. A Reunificação da Alemanha: do ideal socialista ao socialismo real. 3ª edição, São Paulo: Editora Unesp; 2009.
NAPOLITANO, Marcos. A História depois do papel. In PINSKY, Carla Bassanezi (org.) Fontes Históricas. 2ª Edição, São Paulo: Contexto, 2010.
______. História e Música: História cultural da música popular. 3ª Ed. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2005
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



Steve Harris não descarta um grandioso show de despedida do Iron Maiden
A banda que Slash considera o auge do heavy metal; "obrigatória em qualquer coleção"
E se cada estado do Brasil fosse representado por uma banda de metal?
Ingressos para o festival Mad Cool 2026 já estão à venda
O histórico compositor de rock que disse que Carlos Santana é "um dos maiores picaretas"
Oficina G3 relata dificuldades em voos enquanto Latam recebe destaque por eventos no Rio
M3, mais tradicional festival dedicado ao hard rock oitentista, anuncia atrações para 2026
A categórica opinião de Regis Tadeu sobre quem é o maior cantor de todos os tempos
Vídeo inédito mostra guitarrista do Lynyrd Skynyrd tocando dias após acidente em 1977
Pink Floyd - Roger Waters e David Gilmour concordam sobre a canção que é a obra-prima
6 álbuns de rock/metal nacional lançados em 2025 que merecem ser conferidos
As cinco músicas dos Beatles que soam muito à frente de seu tempo
O New York Times escolheu: a melhor música do ano de 2025 é de uma banda de metal
Para Wolfgang Van Halen parte do público não consegue ouvi-lo sem pensar no seu pai
Edguy - O Retorno de "Rocket Ride" e a "The Singles" questionam - fim da linha ou fim da pausa?
Por que Casagrande precisou de escolta de psicóloga para participar de programa de Gordo?
O brasileiro que quase assumiu a guitarra do Guns N' Roses
Robert Trujillo fala da promessa feita para Cliff Burton, e diz que nunca pisará na bola


Kreator fará turnê com o Carcass nos Estados Unidos em maio de 2026
Kreator divulga "Satanic Anarchy", faixa de seu próximo disco
10 álbuns incríveis dos anos 90 de bandas dos anos 80, segundo Metal Injection
Guns N' Roses: a trágica história do baixista fundador
Lista: clássicos do rock e do metal que ninguém aguenta mais ouvir - Parte 1
