Noturnall: Um renascimento para músicos que vieram pra ficar
Resenha - Noturnall (Carioca Clube, São Paulo, 29/03/2014)
Por Hugo Alves
Postado em 30 de março de 2014
Depois de lançar seu ‘debut’ autointitulado em fevereiro e de constante propaganda, principalmente pelas redes sociais, e de chamadas massivas para a gravação de seu primeiro show para um vindouro DVD, a Noturnall finalmente subiu ao palco do Carioca Club com o jogo ganho por inúmeros motivos: todos os integrantes – Thiago Bianchi (voz), Leo Mancini (guitarra), Fernando Quesada (baixista), Juninho Carelli (teclado) e Aquiles Priester (bateria) já são músicos mais que consagrados no cenário nacional e até mundial. Além disso, a atmosfera era de festa, pois a noite tinha tudo para ser histórica, até mesmo pelas participações especiais e surpresas prometidas.
O clima era de alegria e muito respeito entre todos no Carioca Club, apesar do atraso de mais de 30 minutos na abertura da casa. Já após entrar era visível a estande de produtos oficiais, que vendia o CD da banda (a um preço que merece elogios), camisetas da banda e de Aquiles Priester, bem como sua biografia, seus DVDs, baquetas e por aí vai... Os fãs rapidamente lotaram a casa e esperavam ansiosamente pela entrada da banda. Fernando Quesada e Thiago Bianchi apareceram por trás das cortinas, incitando os que estavam mais próximos ao palco. Eis que houve uma primeira entrada da banda, quando Aquiles e Thiago falaram sobre o show, as doações dos fãs (que foram condição de entrada para o show) e os clichês de todo show de Heavy Metal e que não poderiam faltar também nesta ocasião.
Pouco tempo depois, a banda subiu ao palco, após uma introdução baseada na capa do disco. Aliás, nessa hora, devido ao tamanho do kit de bateria de Aquiles Priester, a plateia dividiu-se em duas: havia os que exclamavam "Meu Deus!" e os que soltavam um sonoro "Puta que o pariu!". Sério, o kit era imenso, e o mais incrível é que ele realmente usa tudo ao tocar! Enfim, a banda abriu o show do mesmo modo que abriu o disco, com a faixa que praticamente nomeia a banda, "No Turn at All", e aí já era possível notar um problema: o som estava extremamente embolado, com a bateria e o baixo praticamente encobrindo tudo. Em "St. Trigger", outra ótima canção, o problema persistia. Thiago Bianchi então falou com o público sobre voltar no tempo, o que foi a deixa para a primeira surpresa da noite: "Inferno Veil", do quarto disco do Shaman, "Origins", de 2010. A partir daí, o som já estava consideravelmente melhor, e até a metade do show esse problema foi resolvido. Ainda nessa canção, houve um "wall of death" organizado pelo vocalista, o que pode não ter sido a melhor decisão, pelo tamanho do Carioca Club e porque não parecia que havia alguma música no setlist que pedisse isso. É claro que foi divertido pra quem estava lá, mas...
Os tambores da bateria de Aquiles Priester fizeram ecoar a introdução de "Zombies" (que foi precedida por um vídeo que tinha tudo pra ser legal, mas os efeitos não ajudaram). Uma das melhores do disco e que soa ainda mais pesada e violenta ao vivo, ainda que não tão marcante quanto "Master of Deception". As duas foram urradas pelos presentes. Thiago Bianchi veio mais à frente e incitou todos a cantarem a introdução (que também é o refrão) de "Hate", outra que não é menos do que sensacional. Foi interessante notar que, apesar de se tratar do primeiro show da Noturnall, os músicos estavam até certo ponto à vontade com as canções e praticamente todas soaram ainda mais brutais ao vivo do que já são em estúdio. O que se seguiu foi um solo não menos que inacreditável belamente executado por Aquiles Priester, e que até lembra os de Neil Peart do Rush, porque havia uma trilha melódica acompanhando a bateria. Ao final desta peça, o Carioca Club urrava "Aquiles! Aquiles! Aquiles!", mais alto do que qualquer momento em que o nome da banda foi ovacionado, inclusive.
Seguiu-se uma longa pausa para ajustes técnicos, enquanto Leo Mancini e Juninho Carelli improvisavam um Rock dançante dos anos 1960. Thiago Bianchi voltou ao palco e anunciou uma participação especial, a de Luiz Fernando Venturelli, prodígio de 13 anos que subiu ao palco com seu violoncello para que, junto à banda, tocasse "Last Wish", uma das mais belas canções que o Heavy Metal nacional já produziu. Mas o que chamou a atenção foi quando a banda tocou "Symphony of Destruction", clássico noventista do Megadeth. O pequeno Luiz Fernando dividiu os solos com Leo Mancini – sim, ele fez o solo da música no violoncello. No fim, surpreendeu positivamente a todos e foi muito aplaudido!
Leo Mancini, sozinho, tomou a frente do palco para um solo de guitarra de cair o queixo, mas que logo virou o Hino Nacional Brasileiro, com atores mascarados segurando a bandeira nacional e tudo. O próprio guitarrista se surpreendeu porque todo mundo no Carioca Club cantou o Hino a plenos pulmões, mas o belo momento foi estragado por uma horda de "sem-noção" que começou a gritar "Ei, Dilma, vai tomar no...". Leo Mancini fez menção de cantar junto, mas fez sinal de "sujeira", e foi quando essa galera aos poucos foi parando com essa demonstração de imbecilidade. Em seguida, a banda voltou para executar "Fake Healer", uma paulada que serviu para demonstrar toda a habilidade de Fernando Quesada em seu baixo. Aliás, todos os músicos são absurdamente bons naquilo que fazem, e entregam um show muito mais que competente; quase perfeito!
Thiago Bianchi introduziu a canção seguinte dizendo que trata de uma das preferidas da banda, e realmente é uma das melhores do disco: "Sugar Pill", que teve o refrão bem cantado por boa parte dos presentes. E então chegou o final do show, que não poderia ter sido melhor e mais catártico: "Nocturnal Human Side" foi brilhantemente executada e teve a incrível presença do cantor (e produtor da banda) Russell Allen (também vocalista das bandas Symphony X e Adrenaline Mob). O cara é um gigante na história do Metal e também em tamanho, o que certamente contribuiu para sua exímia presença de palco. Esta foi a última canção do disco da Noturnall, mas não a do show, visto que, inacreditavelmente, apareceu a foto do saudoso Ronnie James Dio no palco e a banda tocou "Stand up and Shout" somente com Russel nos vocais, e ainda houve tempo para fecharem, segundo Thiago Bianchi, do modo como começou o Heavy Metal, no que incrivelmente "War Pigs", mega-clássico-arrasa-quarteirão do segundo disco do Black Sabbath. Todos jogaram palhetas e baquetas e então a galera foi saindo do Carioca Club – e se libertando do calor insuportável que fazia lá dentro.
Foi certamente um show histórico, muito bem executado, apesar da demora por falhas técnicas em alguns momentos (normal em gravações de DVD) e do som embolado no começo. Fica agora a torcida pela banda, que com certeza será acompanhada de perto por muitos fãs, como este que vos escreve, e a torcida para que eles possam visitar tantas cidades quanto seja possível, e então o mundo. Fica também o desejo não saciado de ver "The Blame Game" sendo executada ao vivo, pois ela não fez parte do set, mas foi sendo executada nos PAs após o show. Finalmente, a ansiedade pelo lançamento do material gravado em formato oficial. Noturnall foi um renascimento para esses músicos e com certeza vieram pra ficar!
SETLIST:
01. Intro
02. No Turn at All
03. St. Trigger
04. Inferno Veil [cover do Shaman]
05. Zombies
06. Master of Deception
07. Hate
08. Solo de bateria de Aquiles Priester
09. Last Wish [part. esp.: Luiz Fernando Venturelli]
10. Symphony of Destruction [Megadeth – part. esp. Luiz Fernando Venturelli]
11. Solo de guitarra de Leo Mancini/ Hino Nacional Brasileiro
12. Fake Healer
13. Sugar Pill
14. Nocturnal Human Side [part. esp. Russell Allen]
15. Stand up and Shout [Dio – somente Russell Allen nos vocais]
16. War Pigs [Black Sabbath – part. esp. Russell Allen]
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