B. do Velho Jack: Resenha do show em Campo Grande
Resenha - Bando do Velho Jack (CCCG, Campo Grande, 21/09/2007)
Por Marcos A. M. Cruz
Postado em 27 de outubro de 2007
O Centro de Convenções Gil de Camillo, em Campo Grande (MS), foi palco de mais um show do BANDO DO VELHO JACK, formado atualmente pelo baterista João Bosco, pelo baixista Marcos Yallouz, pelo tecladista Alex Cavalheri e pelos vocalistas e guitarristas Rodrigo Tozzette e Fábio "Corvo" Terra.
Mas esta não se tratava de "apenas mais uma apresentação" e sim do lançamento oficial do quinto disco da já veterana banda - afinal são mais de dez anos de estrada - e, como tal, obviamente o repertório foi calcado no CD chamado "Bicho do Mato", cuja música homônima, de autoria de Gastão Lamounier Neto, foi imortalizada pelo SOM NOSSO DE CADA DIA, seguindo a tradição do Bando de resgatar clássicos do Rock Brazuca dos anos setenta - em seus trabalhos anteriores foram regravadas "Ando Meio Desligado" (MUTANTES), "A Minha Vida é Rock´n´Roll" (MADE IN BRAZIL), "Não Fique Triste" (O PESO) e "Sangue Latino" (SECOS & MOLHADOS).
Claro que um evento especial têm de ser em um local também especial, e a escolha foi muito feliz, pois o CCGC de CG possui uma acústica e visibilidade excelentes, além de espaço suficiente para quem quiser uma mega-produção de palco, algo não necessário no caso do Bando pois o negócio deles é plugar os instrumentos e tocar sem maiores firulas ou delongas.
E foi assim que rolou passados poucos minutos das nove da noite, com a breve introdução de "O fim do mato magnetizado" seguida de "Bicho do mato" e "Pedras que rolam", cujo refrão reafirma a fé do grupo no Rock´n´Roll ("Pedras que rolam não criam limo/ por isso vamos rolar/ sem Rock´n´Roll na cabeça o mundo pode parar").
Daí vem "Dois caminhos", que presta homenagem ao ALLMAN BROTHERS BAND do álbum "Hittin´ The Note", e onde o Bando contou com o auxílio do velho conhecido e amigo Carlão (Carlos Roberto), que subiu ao palco para ajudar na percussão. Outro convidado especial se faz presente na próxima canção, "Máquina do tempo": Guilherme Cruz, produtor deste CD e músico do FILHO DO LIVRES, que prosseguiu juntamente com o Carlão nas duas faixas seguintes, primeiras a serem tocadas que não fazem parte do novo disco: "Como ser feliz ganhando pouco" do álbum de mesmo nome, que já se tornou uma espécie de clássico do Bando, e "Cão de guarda", gravada originalmente no "Procurado".
A esta altura do campeonato o palco estava literalmente pegando fogo: de um lado estavam Rodrigo, Fábio, Alex e Guilherme "viajando" numa jam ensandecida, enquanto do outro lado Bosco, Carlão e o elegante Marcos seguravam a "cozinha" mas ao mesmo tempo em que também eram tripulantes da viagem... quando assisto shows assim, onde percebo a genuína empolgação do pessoal no palco, me sinto como se estivesse lidando com sexo e não música, pois convenhamos: "escrever sobre" não é a mesma coisa que "fazer"...
E é chegada a hora de refrescar um pouco a coisa com a seção "baladas": "Quando eu for embora" e "To indo te buscar", seguidas de "Cavaleiro da lua" do álbum "Como ser feliz...", composição de Almir Sater e João Bá. Nesta última Carlão, que havia "dado um tempo" nas duas anteriores estava de volta ao palco.
Passava um pouco das dez da noite, e notei que uma parte do público começou a sair... como não sou da cidade pensei que talvez pudesse ser algo relacionado a ausência de condução até um pouco mais tarde ou similar, afinal era uma plena noite de quinta-feira, mas depois ouvi comentários de pessoas dizendo que como se trata de um Centro Cultural e não um bar, obviamente não há bebidas alcoólicas no lugar, e sendo assim é "difícil permanecer mais de uma hora sentado"... será que este pessoal freqüenta teatros ou cinemas?
Retomando o rock´n´rollzão básico vem "Gasolina" e "Rock das cadelas" de Renato Fernandes (BÊBADOS HABILIDOSOS), editada como bônus no novo CD e que saiu originalmente na "Novidade Nativa", coletânea de artistas locais organizada por Geraldo Roca.
Em "Martinika", Bosco nos deu uma palhinha de suas habilidades nas baquetas, e enquanto era ovacionado o Bando emendava com os acordes de mais um rock´n´rollzão, "Lixo Humano". Uma historinha idiota sobre esta música: imediatamente antes do show eu estava próximo ao palco e o guitarrista/vocalista Fábio "Corvo" conversava com alguém sobre o setlist, daí quando mencionou "Lixo Humano" fez um gesto que eu entendi como se fosse alguém "injetando" algo no braço... como não tinha ligado o nome da canção à letra, na minha cabeça ele quis dizer que ela seria uma homenagem a alguém que havia virado "Lixo Humano" pelo uso excessivo de drogas ou algo parecido, e já comecei a maquinar a idéia de mencionar esta "homenagem" neste texto... mas não têm NADA A VER, pura viagem deste que vos fala: para quem não conhece, segue um trecho da letra, nada próximo da coisa deprê que eu imaginei: "Você me prometeu o paraíso/ numa noite de sexo barato/ mas eu prefiro queimar o meu braço/ com a ponta acesa de um cigarro"...
Talvez a idéia inicial do Bando ao regravar "Bicho do Mato" tenha sido ao mesmo tempo em que, conforme mencionei no início, presta homenagem ao já citado Rock Brazuca dos 70´s, também cita outro elemento que interage para construir sua identidade, que é o profundo respeito às suas origens, marcado pelas suas reinterpretações de músicas regionais do Mato Grosso de maneira bem pessoal, conforme foi relatado pelo Bosco em uma entrevista ao Let´s Rock conduzida por Altair Santos: "Acho muito importante estar fazendo essas releituras de clássicos regionais, por que somos uma banda sul-mato-grossense que leva sua cultura para o interior do Brasil, buscando espaço cada vez maiores. Então acho importante fazer essas releituras de uma forma mais rock & roll, porque as pessoas que ouvem outros tipos de som, podem correr atrás dos originais. Eles ouvem com a gente, acham interessante e depois vem até a banda perguntar onde que eles vão encontrar o disco do Paulo Simões ou do Almir Sater, e começam a comprar a obra desse pessoal. É uma maneira de divulgar os grandes compositores que tem aqui na nossa terra, e isso é importante".
Entretanto, no fim das contas, outro componente acabou sendo realçado - não sei se de forma proposital - que é uma certa influência do chamado "Rock Progressivo" que curiosamente surgiu a partir da versão de "Mito Solar da Morte" registrada na compilação "Bônus Track", e que nesta versão ao vivo contou com a participação especial de ninguém menos que o próprio autor, Geraldo Espíndola.
Para encerrar o espetáculo, as duas canções que faltavam do disco, "Mais perto de mim" e "5-45", além do BIS, que contou com três músicas do "Procurado": "Palavras erradas", "Minha vida é Rock´n´Roll" - com a participação especial de Débora Carvalho, ex-integrante do MADE IN BRAZIL - e "Trem do Pantanal", de autoria do já citado Geraldo Roca, e que possui um videoclipe "escondido" no novo CD.
Repertório:
"O fim do mato magnetizado"
"Bicho do mato"
"Pedras que rolam"
"Dois caminhos"
"Máquina do tempo"
"Como ser feliz ganhando pouco"
"Cão de guarda"
"Quando eu for embora"
"To indo te buscar"
"Cavaleiro da lua"
"Gasolina"
"Rock das cadelas"
"Martinika"
"Lixo humano"
"Mito solar da morte"
"Mais perto de mim"
"5-45"
BIS
"Palavras erradas"
"Minha vida é Rock´n´Roll"
"Trem do Pantanal"
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