PipocaTV: Max Contra O Mundo Chamado Sepultura
Por Daniel Junior
Fonte: PipocaTV
Postado em 16 de novembro de 2013
Já disse em diversas ocasiões que falta pauta criativa ao jornalismo de internet. Especialmente quando falamos de rock. Já que os discos e seus lançamentos não causam mais hype (porque "vazam" antes das datas oficiais), pois os singles se tornaram comuns, com lançamento de clipes (com letras), capas e títulos com muita antecedência. Quando o álbum chega ao público (oficialmente) está mais que mastigado e quase digerido. Isso não é uma crítica. É um novo tempo. Acabou o frio na barriga de ir até uma loja de discos aguardar pelo seu álbum e ser surpreendido pelas faixas.
Por sua vez as bandas demonstram (em sua maioria) não se preocuparem com a qualidade do material novo que compõem (quando compõem). Enchem as lojas de coletâneas, com muitos lados B, com fotos inéditas, faixas bônus e todo o souvenir possível, para reforçar a carga do passado. Homem primata, capitalismo selvagem. As regras do mercado se impuseram para garantir que os maiores consumidores de música (física) sejam os colecionadores. Eles dividem espaço com aqueles que fazem questão de terem o material original das suas bandas preferidas.
Então sobre o que falam os sites especializados em música? Reuniões e brigas.
Não é privilégio deste ou daquele. É sempre a mesma coisa. Fala-se em Pink Floyd, Led Zeppelin, Guns N´Roses, por exemplo. Eles continuam perguntando as mesmas questões aos membros fundadores destas bandas e as respostas, quase que invariavelmente são as mesmas. "Não há chance de estarmos no mesmo palco com fulano", "tudo envolve advogados", "gostaríamos de ver se a mágica ainda está lá, mas beltrano se nega a tocar com sicrano".
O release não é mais dominado por detalhes da gravação, quem compôs a faixa tal, participações especiais, turnês surpreendentes. Tudo é especulativo. "Axl teria dito a um amigo na Philadelphia que existe uma possibilidade dele voltar a tocar com o Slash em 2018" e isso vira lead de revista, de site, todas atrás de visualização, page view e comentários em cima daquilo que nem sabem se de fato é real.
O mimimi mais presente na imprensa mundial, mediante o lançamento da biografia do Max Cavalera ("My Bloody Roots"), é a briguinha via entrevistas entre o antigo vocalista e o restante da banda que leva o nome Sepultura. Max sempre dá cutucadas monstras em todo mundo que está por lá (exceção Eloy Casagrande). Normalmente Andreas e Derrick são categóricos e profissionais em suas declarações não dando margem a possíveis réplicas do vocalista do Soulfly. Não me acho no direito de dizer quem está correto ou não e até confesso que vez ou outra vou dar uma olhada no capítulo da novela "Max Against The World Called Sepultura", mas depois de um tempo perco o interesse pela falta de novidades no enredo.
Mesmo não me achando no direito de arbitrar sobre o assunto fico me perguntando se o Soulfly e o Cavalera Conspiracy não poderiam ser a tal pauta que esperamos da imprensa? Será que os discos dos projetos de Max não seriam mais que suficientes para serem discutidos? Sabe que tem muita gente que desconhece que o vocalista/guitarrista tenha outra ocupação se não falar mal de sua banda? Será que Max vai se transformar em um Paul Dianno, que volta e meia dá uma espetada na Donzela, mas que não abre mão de cantar o repertório do Maiden?
Bem a impressão que fica é que a história do Soulfly (banda que lançou o primeiro disco em 1998) não é suficiente para estar nos sites. O Dave Grohl fala tanto do Nirvana? Ok, as circunstâncias são diferentes, mas se ele (Grohl) cruzasse os braços, ficaria até hoje lambendo as feridas de um passado de glórias e talvez acabasse até fazendo o mesmo que o Cobain.
Max fez uma banda BOA, tem outros projetos, mas infelizmente perde um enorme tempo falando do passado como se ele fosse MUITO melhor do que o seu presente. Enquanto isso, do outro lado do rio, o Sepultura continua produzindo discos inéditos, se desgarrando da sua melhor fase, mas buscando fazer o seu som com sinceridade. Digo isso mesmo sem ter gostado do último disco, mas é preciso respeitar as escolhas da banda.
Seria maneiro que eles deixassem as desavenças e continuassem seguindo seus caminhos sem que precisassem recorrer às mágoas mal resolvidas.
Ah e lógico: seria MUITO bom que os jornalistas aprendessem a fazer perguntas que fugissem dos lugares comuns porque no fundo parece que todo mundo quer ver o circo pegar fogo.
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