Ghost: o sucesso que está incomodando
Por Dan Santos
Postado em 28 de agosto de 2013
De tempos em tempos, uma banda surge do nada e toma de assalto o cenário da mídia internacional. Essas bandas experimentaram, por pouco ou longo tempo, o gosto do anonimato e , de forma meteórica, veem seu trabalho ser reproduzido mundialmente e veem a si próprios estamparem todas as mídias, especializadas ou não. Eles passam a ser a 'banda da vez'. Geralmente essas bandas tem um outro apelo além da sua musicalidade, seja ele o visual, a polêmica ou o marketing.
O que acontece é que as pessoas criaram uma percepção onde essa definição de 'bandinha da moda' passou a ter um caráter apenas recente. Se perguntarmos qual a última bandinha da moda, a maioria das pessoas certamente citará alguma banda que estourou dos anos 90 pra cá. Essa percepção é criada por um fenômeno natural que permeia a mentalidade de fãs: o saudosismo. E, principalmente, o falso saudosismo, que é aquele em que o indivíduo sente-se saudoso por algo que não viveu. Esse fenômeno traz atrelado a si a ideia fixa de que o bom só aconteceu no tempo que já passou e que o que acontece hoje é musicalmente ruim simplesmente pelo fato de que está acontecendo hoje, não nos anos 80, por exemplo.
Na década de 70, uma banda surgia nos cantos de Nova Iorque e não demorou muito para que a mídia voltasse toda a sua atenção para o quarteto. Mas o que será que chamou a atenção? A música? Ou o fato de que, ao olhar pro palco, se via praticamente uma apresentação teatral com personagens maquiados?
No início da década de 90, uma banda saiu do grande bolo grunge de Seattle e alçou voo para o sucesso mundial. O que chamou a atenção? A música? Ou o fato de o seu vocalista estar envolvido em um escândalo atrás do outro devido ao abuso assumido de drogas pesadas? Ou sua vida pessoal conturbada e exposta para o público como um livro aberto?
No início dos anos 2000, uma trupe começa a ganhar notoriedade e logo em seguida estavam em todos os lugares e tinham conquistado uma base de fans assustadoramente grande. O que chamou a atenção? A música? Ou o fato de, ao olhar pro palco, se via um show grotesco, com personagens vestindo trajes presidiários e máscaras assustadoras, performance tão agressiva quanto as letras e berros guturais do vocalista?
No início dos anos 10 deste século, o Ghost saiu do limbo diretamente para os holofotes da mídia internacional. Conquistaram uma legião de fãs apaixonados e acumularam críticas positivas em relação aos seus lançamentos. Mas toda essa maré de sorte tem um preço. À medida em que a banda vai se tornando cada dia mais conhecida, a porcentagem de críticas positivas vai perdendo força perante uma torrente de ódio levantada contra a banda. Isso é novo? Claro que não, está longe de ser. Isso aconteceu com todas as 'bandas da moda', seja da década que for. Sim, nos anos 80, até o hoje glorificado Metallica já foi a bola da vez.
As negativas vão desde críticas técnicas e embasadas, feitas por críticos profissionais e sérios, que estudam a fundo a relação entre a música e a mídia, até desabafos desesperados de simples ouvintes de música, se digladiando em caixas de texto na internet.
Sobre as críticas dos ouvintes, as razões para os ataques ao sucesso em ascensão do Ghost variam muito. Uns acusam a banda de falta de originalidade, utilizando o argumento de que tudo o que eles fazem é apenas cópia de uma fórmula manjada dos anos 70. Mas o que, hoje, no dito Rock pesado, não é cópia de fórmulas manjadas dos anos 70? Claro que novidades surgiram de lá pra cá, mas estas são mescladas aos elementos anteriormente citados. Grande parte dos ouvintes que despejam seu ódio sob esse argumento, em seus momentos livres, defendem veementemente as grandes bandas como Metallica, Slayer, Iron Maiden et cetera, sem notar que também eles fazem uma apropriação de fórmulas criadas nos anos 60 e 70, incrementando-as com sua própria identidade e aparatos técnicos. Isso não é, nem de longe, algo ruim. É simplesmente natural e necessário. Com o passar dos anos, a tendência é que se fique cada vez mais difícil inovar na música. Pelo menos na música como a conhecemos hoje. Sem contar que a dita e defendida originalidade por traz da sonoridade do Ghost está no fato de eles estarem trazendo à tona algo diferente para os padrões do que está na grande mídia há vários e vários anos.
Outro argumento é de que o apelo visual é o único responsável pelo destaque que a banda vem tendo. Vamos pensar. Existe um apelo visual no Ghost? É óbvio que sim. Apenas um cego diria o contrário. Mas existe um coeficiente de diferenciação dentro do meio musical e ele é fundamental para que as coisas funcionem. Sem ele, caímos na falácia em que todas (repito, todas) as bandas do mundo inteiro com sonoridade semelhantes deveriam experimentar notoriedade semelhante. Uma banda do sul do Afeganistão que faz um som muito próximo do som que é feito pelo Foo Fighters deveria ter mais ou menos a mesma repercussão que o primeiro. "Ah, mas é porque o Foo Fighters fez primeiro". Ok, esse é justamente o coeficiente de diferenciação deles, o que não significa que, por regra, tem que ser o de todas as outras bandas.
Outro exemplo: durante o surgimento do New Wave of British Heavy Metal, duas bandas com sonoridade muito semelhantes naquela época apareceram. Uma delas permaneceu no limbo (Angel Witch) e a outra alcançou sucesso internacional por décadas (Iron Maiden). Por que o Iron Maiden ganhou a batalha? Porque eles tiveram um coeficiente de diferenciação, que os tornou mais interessantes, de alguma forma, seja lá ela qual for, que outras bandas do mesmo estilo, movimento e época.
A teatralidade e o apelo visual do Ghost são apenas seu coeficiente de diferenciação. Segundo a própria banda, sem ele, ficaria difícil chamar a atenção. E ficaria mesmo. Não porque a música não é boa o suficiente, mas porque o mercado musical é saturado. Quantas bandas existem no mundo inteiro? Quantas delas estão em suas garagens fazendo um som de qualidade, a nível de grandes monstros e o suficiente pra agradar uma base de fãs que os levariam ao estrelato? Não são poucas. Mas por que elas não fazem sucesso? Simples. Porque se forem competir apenas no ramo da musicalidade e este der um empate técnico, nem uma e nem outra saem do underground. Mas se uma delas, além do quesito musical, parte para uma soma com outro elemento chamativo, isso a destaca dentre as outras bandas sonoramente parecidas e então as suas chances de alcançarem o sucesso são aumentadas significativamente.
Outra coisa que se deve notar. Marketing é um processo simplesmente vital para qualquer tipo de organização. Somente uma banda que toca para 50 pessoas em um festival desconhecido do interior do menor estado de um país pouco relevante não precisa de marketing. Quanto maior o espaço que a banda almeja alcançar, maior tem que ser o esforço do marketing por trás dela. Marketing cuida da relação entre concorrência e público-alvo, as duas maiores, e talvez únicas, variáveis para determinar se uma banda vai emplacar ou não. Portanto, da próxima vez que for criticar negativamente uma banda, pense duas vezes antes de incluir no seu argumento o 'uso de marketing'.
Para fechar, gostaria de fazer algumas considerações:
Em momento algum comparei o Ghost às demais bandas citadas, e também não "descomparei". Estou analisando aqui fenômenos midiáticos causados pelas bandas, não as bandas propriamente ditas.
Não afirmei que o Kiss, Nirvana ou Slipknot não foram reconhecidos pela sua musicalidade.
Caso o seu conceito de 'bola da vez', estranhamente, seja 'banda ruim'. Acredite, não era isso que eu queria dizer sobre o Metallica.
Por fim, o Ghost está aí e não são suas críticas que vão mudar isso. É fato que o sucesso que eles fazem e a promessa de que o mesmo só tende a aumentar está deixando muita gente incomodada. É preciso diferenciar 'banda da moda' de 'banda descartável'. Bandas que são lembradas até hoje um dia podem ter sido a bandinha da moda, mas não foram descartáveis. Se o Ghost vai ser descartável, nem eu, nem você e nem ninguém pode afirmar ainda. Só o tempo vai responder essa pergunta. Não dê uma de profeta.
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