O rock nacional não é brasileiro!
Por Thiago Sarkis
Postado em 22 de maio de 2005
É preciso deixar claro, logo de início, que o presente texto visa tratar da cena principal do rock nacional, e não de seus movimentos menores. Falamos aqui das bandas recorrentes em nossas televisões e rádios, apoiadas por gravadoras poderosas e onipotentes, dispostas a despachar o jabá que for necessário por um minuto de fama de seus artistas. Inaptas à conquista por méritos próprios, e desinteressadas na cultura de um país, tais selos esterilizam e moldam seus músicos, já bastante alienados, usando nosso território de eco para outros folclores, costumes, civilizações, e realidades.
Pra começar, o melhor é perguntarmo-nos o porquê da afirmação "o rock nacional não é brasileiro!". Bem, tarefa fácil. Você nem precisa atravessar "a fronteira do pensar", mas simplesmente entender "a força de um pensamento, pra nunca mais esquecer". Oras, esse Thiago vai falar de rock ou ficar citando trechos de músicas do Cidade Negra, uma banda de reggae? É aí que mora a questão.
Um dia, sabe-se lá quando, o rock ‘n’ roll nasceu, numa terra distante daqui. Recebeu voz através de Elvis Presley, dos Beatles, e tantos outros. Foi amplificado de tal maneira que chegou aos tupiniquins desse lado de cá do mundo. Empolgou muitos, como não poderia deixar de ser, mas se reproduziu diferentemente de quando fomos colonizados. Nada de portugueses com indígenas ou negros. A transa aqui ocorreu por telepatia, ou osmose, para definirmos com exatidão.
A repetição tomou o reinado do tal "rock nacional". Ninguém parou pra pensar que, para que ele se tornasse brasileiro, talvez fosse necessário um batuque mais forte, influências do afoxé, passagens inspiradas na viagem jamaicana de Robert Nesta Marley, na riquíssima cultura dos afro-descendentes, no samba de raiz, bossa nova, chorinho, etc. Isso só para delimitarmos alguns dos inúmeros referenciais que poderíamos ter instrumentalmente, caso este estilo tivesse algo de realmente brasileiro.
Enquanto Chico Buarque, Caetano Veloso, Tom Zé, João Gilberto, Juca Chaves, Antônio Carlos Jobim, Vinícius de Moraes, Gonzaguinha, Geraldo Vandré, Elis Regina, e nossa imensa lista de - é claro - exilados, suaram para driblar a censura nas décadas de 60 e 70, a nova geração, potencializada por suas guitarras distorcidas, gozou do que todos os citados acima e diversos militantes conquistaram: a famosa "liberdade de expressão"; o céu almejado que se tornou um verdadeiro inferno na cena principal do rock.
Agrupações como Charlie Brown Jr., Planet Hemp, e Raimundos, colocaram o Brasil na dúvida de que troféu era esse de liberdade. Se na época de sua conquista ele foi de ouro, transformou-se num verdadeiro abacaxi através desses conjuntos, em letras de rebeldes sem causa, calça, e qualquer interesse pela realidade de seu próprio país.
Mal sabíamos nós que o ‘suposto’ devaneio de Humberto Gessinger e dos Engenheiros do Hawaii em "Terra de Gigantes", cantando que "a juventude é uma banda numa propaganda de refrigerantes", apareceria como predição quase Nostradâmica nos anos 90, com a ‘inteligência’ do Jota Quest no comercial da Fanta, ou já no novo milênio, com Chorão carregando uma nação de alienados em propaganda da Coca-Cola para Jogos Olímpicos.
O que falar então do Capital que, no rock nacional, passou de inicial para essencial? Um grupo que tem em seu repertório músicas como "Fátima", "Veraneio Vascaína", e "Música Urbana", de repente vira um expoente de adolescentes americanos, vivendo o dia-a-dia brasileiro. É como um Aerosmith cantando em português. Ninguém entende mais nada, mas vamos lá. Dinho Ouro-Preto declama: "essa música vai para os políticos do Brasil, falô?" e pronto, tá tudo certo. Mais um enxame de revoltados dementes apresentam-se prontamente para segui-lo e ainda responder à pergunta "Que país é este?" com um ‘inteligente’ "é a porra do Brasil".
Oh, e os Titãs. Depois de seu acústico MTV, decidiram seguir a linha dos colegas do Distrito Federal, mas de maneira mais romântica glacê. Provavelmente, já por essa razão, Arnaldo Antunes tirava o corpo fora muitos anos antes, posteriormente seguido de Nando Reis. Este último tendo o seu valor maior por ter dado ao rock BRASILEIRO o seu último suspiro, na música de uma intérprete fenomenal chamada Cássia Eller.
Temos também Pato Fu, Los Hermanos, Pitty, num movimento um pouco de lado, menos aclamado pela mídia detentora do poder de alienação. Mesmo com bons músicos, preferem se eximir de compromissos políticos. Afinal, poucos problemas temos nós; pra que cantar, compor, e tentar achar uma solução ou uma idéia através da arte? Bobagem. Pitty define bem a história: "Admirável Chip Novo". É só isso mesmo. Quiçá fossem os gados novos do Grande Encontro (Elba Ramalho, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo).
Não poderíamos esquecer de nossas maiores estrelas, os mineiros do Skank! Quando resolveram melhorar o instrumental, e finalmente evoluírem musicalmente, apresentaram à juventude a solução a-política que fez parte de toda a sua história: "Vamos fugir deste lugar, BABY". Interpretaram a música de Gilberto Gil numa outra época, fora de contexto, como cegos num tiroteio e mais uma vez enlouqueceram a juventude.
O pior de tudo é que temos grande parcela de culpa nisso. Banimos, jogamos ovos, e vaiamos, muitos dos que falaram da nossa realidade, nosso mundo chamado Brasil, nosso rock batucado, sambado, pagodeado, reggaeado, etc. Por exemplo, ‘chutamos’ a cara de Lobão, que ainda hoje batalha para que tenhamos algo mais descente para escutar.
Por essas e outras, hoje digo que o rock nacional NÃO É BRASILEIRO! Agradeço aos esforços de Arnaldo Baptista, Rita Lee, Os Mutantes, Raul Seixas, Renato Russo e Legião Urbana, os atuais "Zé Ninguém" do Biquíni Cavadão por algumas poucas coisas; Engenheiros do Hawaii, Paralamas do Sucesso, Sérgio Mendes, Karnak, Ney Matogrosso e Secos e Molhados, até Gabriel O Pensador e Cidade Negra. E poderíamos citar muitos outros brilhantes por longas datas, vacilantes em certos momentos; aqueles que sempre tentaram mostrar a cultura do Brasil, envolvidos em nossos costumes, origens, política e realidade de cento e setenta milhões de pessoas, independentemente da musicalidade ou qualidade de gravação. Para o resto - incluindo CPM 22, Detonautas, Tihuana & cia - os super produzidos e conceituados, suprindo os interesses de nossa classe dominante, só é possível ecoar a frase eternizada pelo poeta que buscou o encontro da bossa nova e do rock ‘n’ roll: BRASIL, MOSTRA A TUA CARA!
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