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Music; What Happened?: uma aula de rock em 258 páginas

Por Nacho Belgrande
Fonte: Site do LoKaos Rock Show
Postado em 24 de julho de 2011

O produtor, músico e agora escritor SCOTT MILLER escreveu um dos melhores livros do ano até agora, ‘Music: What Happened?’ Nele, ele faz uma compilação da duração de um CD com canções de cada ano de 1957 a 2009. Estas listas, atualizadas a partir de anotações pessoais que ele manteve desde sua adolescência, não só apresentam visões claras sobre sua música favorita, mas elas também acabam sendo crônicas das mudanças dos estilos musicais ao longo das décadas.

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Como parte da semana ‘Viagem no Tempo’, o site UltimateClassicRock.com decidiu resenhar um ano do livro de Miller, 1973, o qual ele declara ser ‘o pico dos clássicos anos 70’.

No seu livro, você lista 1973 como o ápice dos anos 70. Isso quer dizer que, você está escolhendo um ano sem discos dos Beatles ou de Jimi Hendrix, e escolhe ‘Houses of the Holy’ ao invés de ‘Led Zeppelin IV’?

Bem, você não escolhe o ano apenas por causa de uma banda, mas eu de fato gosto muito de ‘Houses of the Holy’. Vamos ver, de qual desses dois eu gosto mais? Talvez... eu sou mais fã de ‘Houses of the Holy’, falando relativamente, do que a maioria das pessoas, eu acho, mas eu gosto muito de ‘Led Zeppelin IV’.

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Você tinha 13 anos de idade em 1973. Qual era sua banda de classic rock favorita na época?

Depende de qual seja sua definição. Os Rolling Stones são uma banda de classic rock? Meio que são. The Who, eu gosto muito. Provavelmente, das bandas às quais você anexa o termo ‘classic rock’, o Led Zeppelin seria meu favorito. Tal como afirmo em meu livro, eles têm uma reputação entre os críticos de rock dos anos 60 de serem brutos, meio que headbangers, mas eles são na verdade um grupo muito policromático, com várias nuances. Eu sempre gostei de canções mais sutis, por mais estranho que isso possa parecer, mais do que qualquer outro tipo.

As impressões de Miller sobre ‘Dark Side of the Moon’:

"Dark Side" foi o grande prenúncio da estética ‘do estado sólido’ que iria colocar em perigo a qualidade do som quase quanto tudo mais desde que o áudio para consumidores finais chegou – agora nós nos percebemos disso – a seu auge, por volta do final dos anos 50.

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Então você está dizendo que o Pink Floyd na verdade afetou a maneira como os discos soariam no futuro com ‘Dark Side of the Moon’?

Foi mais a reação ao disco, há muita reação idólatra a ‘Dark Side of the Moon’. Eu estava ciente na época do burburinho no meio dos audiófilos, sendo que você tinha que ter som ‘de estado sólido’. O estado sólido é um som muito morto, comparado à alternativa, que eram os circuitos de tubos de vácuo (ou valvulados). Eu me lembro de ficar horrorizado com minha primeira experiência com amplificadores de estado sólido. Era simplesmente mais difícil de tirar um som gravado ao vivo dele, do que de qualquer outra tecnologia. A ideia era que você tinha um ruído muito baixo em cada canal, então o som era muito contido. Mas houve uma tamanha fetichização daquilo por um tempo que eu acho que as pessoas perderam a mão para fazer um disco com um som dinâmico. Pelo menos, essa era minha opinião pessoal. Não foi tanto que as pessoas fazendo aqueles discos causaram quaisquer danos. Aquelas eram pessoas com excelentes ouvidos; Geoff Emerick, eu acho, trabalhou em ‘Dark Side’, muita gente de gabarito, e claro, os próprios membros do Pink Floyd. Então, foi muito mais a reação da massa a ele do que o disco em si.

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Então você concorda com as opiniões de Neil Young conta a gravação digital?

Eu li os primeiros comentários dele, e pensei, ‘essa pessoa é louca’, eles são uns desses oponentes ao digital que exageram demais na falta de qualidade. Mas eventualmente um dia eu ouvi ao que ele estava dizendo. É meio que uma daquelas situações rarefeitas quando você ouve e percebe, geralmente em gravações que você mesmo fez. Nunca, nem em um milhão de anos eu conseguiria ouvir a uma gravação do Arcade Fire e pensar, "Ah, é aquele som terrível de CD, eu preciso de belas gravações analógicas em vinil." Mas quando eu de fato fui o produtor de um projeto, e fico muito acostumado ao que estou ouvindo, daí você efetua uma mudança como ir do sinal de 24-bits, que é a qualidade que você usa quando está gravando, para o sinal de 16 bits, que é usado para a masterização, havia situações onde eu podia ouvir a queda na qualidade.

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As impressões de Miller sobre ‘Knockin’ on Heaven’s Door’ de Bob Dylan:

"Qualquer um que não ache que Bob Dylan canta não ouviu a ‘Knockin’ on Heaven’s Door’, uma obra-prima de técnica (vibrato subtonado de maneira perfeita) assim como feeling e poesia. E que dramaticidade."

Você acha que Bob Dylan é um cantor muito melhor do que o creditam como sendo?

Sim, eu acho. Quando eu era mais jovem, eu não o achava um bom cantor, eu o considerava um cara com uma voz anasalada e suja, e eu não estava muito ligado no conteúdo de protesto. A primeira vez que eu o ouvi por várias faixas em sequencia foi em ‘Concert for Bangladesh’, eu tinha 11 anos e foi difícil pra mim agüentar aquilo. Logo após eu ter ouvido ‘Knockin’ on Heaven’s Door’, ficou difícil de acreditar que era a mesma pessoa. Eu comecei a repassar seu material dos anos 60 e a apreciá-lo cada vez mais. Eventualmente, quando me tornei adulto, eu consegui entendê-lo como um letrista importante, e reconhecer que tanto sua voz como sua música são muito boas na verdade.

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As impressões de Miller sobre ‘Funeral for a Friend/Love Lies Bleeding’ de Elton John:

"Eu queria muito apagar toda a primeira parte para dar espaço para outra canção, mas o motor de foguete de ‘Love Lies Bleeding’ meio que depende do combustível sólido de ‘Funeral for a Friend’. Baixo muito complicado, todavia encorpado. Riff de guitarra eterno."

Fico feliz por você ter mencionado Elton John, eu acho que as pessoas esquecem o quanto ele mandava bem antes dos anos de ‘cartão de amizade’...

Eu não relaciono tudo que Elton John já fez, mas ele fez algumas coisas fantásticas, e o núcleo da banda, aquela formação dos anos 70, eles eram realmente arrebatadores – o baixo, particularmente, mas a banda inteira.

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OK, última pergunta: você dá algumas alfinetadas no Kiss, você pode se explicar?

Oh... bem... eu simplesmente não...(risos) gosto da maioria das músicas deles. Eu posso pensar em algumas canções do Kiss que eu gosto. Eu gosto de ‘Black Diamond’, ‘Strutter’... elas foram lançadas e eram meio juvenis, o público deles era meio jovem pra mim. Eu estava em uma banda, eu queria fazer um material mais voltado para Roxy Music do que pro Kiss, e então as linhas de batalha foram traçadas de um modo do qual eu possa talvez nunca me recuperar. Eu posso dar mais uma escutada neles, mas eu tendia a curtir mais do lance de atmosfera do que Kiss naquela época da minha vida.

As impressões de Miller sobre ‘The Song Remains The Same’ do Led Zeppelin:

"The Song Remains The Same’ é tão sinfônica e policromática quanto qualquer grupo de três músicos possa já ter soado. John Paul Jones faz pelo menos sua parte na suspensão do peso; a guitarra mantém sua atenção, mas é uma frase de baixo incrivelmente expressiva. Um tipo de estrutura não-convencional, de exploração-de-terreno, ela galopa entre climas e pontos de referência de maneira incansável, talvez algo como ‘Rhapsody in Blue’. Eu quero achar que há um pouco de influência do YES ali."

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Sobre Nacho Belgrande

Nacho Belgrande foi desde 2004 um dos colaboradores mais lidos do Whiplash.Net. Faleceu no dia 2 de novembro de 2016, vítima de um infarte fulminante. Era extremamente reservado e poucos o conheciam pessoalmente. Estes poucos invariavelmente comentam o quanto era uma pessoa encantadora, ao contrário da persona irascível que encarnou na Internet para irritar tantos mas divertir tantos mais. Por este motivo muitos nunca acreditarão em sua morte. Ele ficaria feliz em saber que até sua morte foi motivo de discórdia e teorias conspiratórias. Mandou bem até o final, Nacho! Valeu! :-)
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