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MP3: Por que o formato é tão demonizado? O escárnio é justo?

Por Nacho Belgrande
Fonte: Playa Del Nacho
Postado em 15 de agosto de 2015

A maioria dos audiófilos culpa a disseminação do formato MP3 como o fator determinante para a completa eliminação da qualidade da experiência fonográfica da civilização contemporânea.

O motivo? Bem, a linha de raciocínio mais prontamente usada é que o encodamento em MP3 é lossy, tem uma bruta redução na qualidade de reprodução e nunca soará tão bom quanto o formato original do qual foi ripado; além disso, pelo formato ser tão ubíquo, os consumidores de música se acostumaram com sua fidelidade parca e, desse modo, não entendem o dilema dos audiófilos. ´

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Como resultado, audiófilos de todo o mundo – ou pelos menos os que são incansáveis em sua infindável busca pela fidelidade absoluta – pegaram em armas para denunciar o mal que o MP3 causa.

Há alguma verdade nisso, mas a história toda é muito mais complicada, e certamente muito menos preto no branco do que os audiófilos querem que o público acredite. O MP3, em grande parte, tem péssima reputação por ser uma forma de compressão extrema de uma faixa, mas o que é que isso significa para um leigo [99,999999% dos que estão lendo este texto]?

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Em primeiro lugar, essa compressão – que o qualifica como ‘lossy’ – não é a mesma coisa que compressão de faixa dinâmica, e essa confusão é BASTANTE comum entre os audiófilos e aficionados por áudio. Então, de movo a entender de fato como um MP3 funciona, precisamos passar pela questão da compressão, que é como se chama popularmente a compressão de dados, ou o processo de formatar uma informação usando menos bits.

A compressão de dados tem suas raízes na teoria da informação, uma disciplina que foi criada praticamente da noite para o dia quando Claude Shannon publicou seu seminal artigo de 1945, "Uma Teoria Matemática da Comunicação", que formalizou o conceito de entropia da informação, ou quanta duplicação de informação é contida em uma mensagem, e também introduziu o teorema de Shannon, que estabelece que para qualquer ruído contido em um meio de comunicação, ainda é possível transmitir uma informação livre de erro através desse meio em seu máximo de taxa. Se tal teorema lhe soa minimamente familiar, é porque a taxa de amostragem de Nyquist também é baseada nesse conceito.

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A compressão de dados pode ser classificada como lossy ou lossless [‘com ou sem perdas’, em tradução bastante obtusa e livre]. Os esquemas de encodamento lossless preservam cada bit de informação que fora impressa na mensagem original. Eles o fazem explorando a entropia de informação intrínseca de uma mensagem, e então re-encodando esses bits redundantes de modo mais eficaz. Contudo, quando a mensagem é decodificada, todos os bits, incluindo aí os redundantes, são restaurados de maneira intacta. Um excelente exemplo é quando você compra música do site Bandcamp, que é enviada a você por meio de um arquivo de extensão .ZIP. E desde que arquivos .ZIP comprimem os arquivos contidos nele de modo lossless, você pode ficar tranquilo que quando você descomprimir aqueles arquivos, todo e cada bit estará lá.

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Mas o MP3 é lossy, o que significa que ele analisa a música e descarta informação que achar ‘desnecessária’. Mas espere aí, as samples não são todas criadas de modo igualitário? Como é que o programa sabe quais bits são necessários e quais não são?

Bem, é aqui que entramos no campo da psicoacústica.

A psicoacústica é o estudo de como percebemos e respondemos ao som. Se você de fato parar para pensar, a sensação de ouvir Death Metal não é constituída apenas de ondas atingindo nosso aparelho auditivo, mas sim de nossos ouvidos coletando tais ondas e criando sinais eletroquímicos para que nosso cérebro os interprete. E não é preciso ser nenhum otorrino para saber que nossa audição nem sempre é perfeita. Na verdade, ela está LONGE disso.

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Dependendo da frequência, a intensidade [volume] e locação [fase] do som em questão, nossos ouvidos podem ou não perceber todo o conteúdo espectral presente nele. Na verdade, nossa habilidade em distinguir duas frequências diferentes quando tocadas simultaneamente é definida como a resolução de nossos ouvidos, e nos humanos ela é de mais ou menos 2 Hz. Os especialistas em psicoacústica classificam essa inabilidade de perceber frequências como uma forma de máscara auditiva, e ela não é a única.

Sua audição tem vários tipos de máscaras auditivas no domínio das frequências, mas também possuímos o que se chama de máscara temporal, que é nossa inaptidão para ouvir sons distintos no domínio do tempo. Por exemplo, um som muito alto pode mascarar um mais baixo se ambos forem tocados simultaneamente, mas se tais sons forem tocados com um pequeno atraso entre eles, digamos, 5 milissegundos um do outro, você vai poder ouvir a ambos.

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Levando tudo isso em conta, agora você tem uma noção de como um programa de encodamento em MP3 pode decidir quais informações são ‘desnecessárias’. Essa explicação foi bastante simplificada de modo a ser breve, mas, essencialmente, quando você dá um arquivo para um conversor, ele analisa o material em questão, determina como perceberemos a música usando seu modelo psicoacústico embutido, e então começa a remover trechos de informação que ele julga que não conseguiríamos ouvir de qualquer modo. Acredite ou não, o encoder de MP3 também faz uso de uma forma lossless de compressão de dados para que o arquivo não seja comprimido demais.

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Ainda assim, se o MP3 é tamanha maravilha da engenharia, por que é que os audiófilos o criticam tão acintosamente? É simples. Ele tira todo o ego das audições críticas. O encoder de MP3 não se importa com a linhagem intelectual e cultural do ouvinte, ou se a aparelhagem de áudio pela qual ele ouve música custou dezenas de milhares de dólares. Ele tem um modelo cientificamente projetado e o segue sem dó nem piedade do modo que ele julgar adequado. E esse modelo sabe que, seja você audiófilo obcecado ou não, nossa audição é inerentemente falha, e ele tira vantagem desse simples fato. Na verdade, o modelo psicoacústico do MP3 é tão bom que testes têm mostrado que a maioria de nós [não TODOS nós] não conseguem de fato ouvir a diferença entre um MP3 de alta taxa de bits e um CD.

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Mas claro, apesar de o modelo psicoacústico do MP3 em si não ser configurável, o número de bits que você permite como parâmetro de encodamento o é. E caso você não dê ao encoder bits suficientes para abrigar informação, daí então DEPENDENDO DO CONTEÚDO ESPECTRAL da música em questão, isso causará o surgimento de elementos audíveis que NÃO faziam parte da gravação original.

Isso fica muito claro nesses arquivos promocionais que bandas lhe mandam em MP3 por e-mail. O som delas é terrível porque não há padrões estabelecidos pela indústria como um todo e as gravadoras fazem isso de propósito para combater a pirataria [como se adiantasse]. Mas é difícil de discordar que MP3s de alta taxa de bits soam muito boas, ainda mais quando se pensa que as ripadas em 320 kbps são superiores aos outrora tão cobiçados MiniDiscs [que eram gravados a 292 kbps].

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Mas então, você deveria ripar tudo que tem em CD para MP3 como backup de sua coleção? Isso se justifica pelo que é dito acima e pela versatilidade do formato [casa, carro, transporte público, computador, etc.]?

DE JEITO NENHUM.

O MP3 não foi concebido para tal fim. Se você está selecionando a opção MP3 quando compra arquivos pela internet, você também está cometendo um grave erro. Codecs perceptuais como o MP3 e seu sucessor aprimorado, o AAC, não foram desenhados para serem transcodificados. Assim, se você converter, por exemplo, um arquivo em FLAC para um em MP3, a experiência será bastante semelhante [a grosso modo, ok? ] – o que não acontece de você realizar o processo reverso. É por isso que é absolutamente imperativo que você tenha uma cópia perfeita, bit por bit, do material original em caso você precise convertê-lo.

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E por fim, dado o fato que armazenamento e banda larga são ordens de magnitude muito mais abundante do que quando o MP3 foi inventado, parece supérfluo, nessa altura do campeonato, comprimir megabytes em menos megabytes – especialmente agora quando capacidade de armazenamento é medida em terabytes e sinal de internet de alta velocidade é bastante disseminado.

Para encerrar: O MP3 ajudou a fãs descobrirem mais música do que qualquer equipamento de ponta de altíssimo custo jamais inventado. E até onde se saiba, é a música, e não o equipamento que deveria ser alvo de amor mais intenso. Se os audiófilos quiserem de fato melhorar o som da música moderna, comecem com o modo pelo qual a música é gravada e processada antes de reclamar do formato no qual ela é distribuída para os consumidores mais ignorantes e abnegados [99,999999% dos que estão lendo este texto]. Um bom começo seria um mega abaixo-assinado para que gravadoras, engenheiros e músicos cessassem com a Loudness War. Uma vez que isso fosse resolvido, daí então poderemos voltar a falar sobre fidelidade.

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Baseado em texto original por ‘Alex’ do Site Angry Guy

http://www.angrymetalguy.com/angry-metal-fi-mp3-not-four-letter-word

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Sobre Nacho Belgrande

Nacho Belgrande foi desde 2004 um dos colaboradores mais lidos do Whiplash.Net. Faleceu no dia 2 de novembro de 2016, vítima de um infarte fulminante. Era extremamente reservado e poucos o conheciam pessoalmente. Estes poucos invariavelmente comentam o quanto era uma pessoa encantadora, ao contrário da persona irascível que encarnou na Internet para irritar tantos mas divertir tantos mais. Por este motivo muitos nunca acreditarão em sua morte. Ele ficaria feliz em saber que até sua morte foi motivo de discórdia e teorias conspiratórias. Mandou bem até o final, Nacho! Valeu! :-)
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