Aloha Haole: "Nossa mensagem sempre vai ser antifascista e anti qualquer preconceito"
Por Pedro Hewitt
Fonte: FullRock
Postado em 09 de dezembro de 2019
Formado inicialmente por Guilherme Muniz em setembro de 2013, em Teresina, a qualidade musical do Aloha Haole é uma coisa que vale ressaltar sempre que um material é lançado. Após alguns materiais gravados, longos shows e uma turnê no exterior, a banda retorna após um hiato e os integrantes disponibilizaram um tempo para falar um pouco da história, planejamentos futuros e alguns detalhes imprescindíveis, confira:
Pedro Hewitt: Salve salve galera do Aloha Haole. Tudo bem com vocês? Satisfação em poder trocar essa velha ideia de sempre. O que talvez não falam nos shows ou nos bastidores, irão falar aqui, mesmo sem microfone.
Aloha Haole: Opa, tudo ótimo e vamos nessa!
Pedro Hewitt: A banda teve seu início com uma marca bem interessante, mas difícil de se ver pelo nosso Nordeste, o Surf Punk Instrumental. Antes mesmo da primeira formação ter sua concretização, o conceito já estava pré-formado ou foi mudando conforme os ensaios passavam?
Aloha Haole: De início a Aloha Haole surgiu de um projeto de monoband do Guilherme Muniz, a ideia inicial era de tocar ao vivo com um sample de bateria no fundo, oque de fato aconteceu, o primeiro show da história da banda foi nesse formato. Depois, quando rolou as gravações do If You Wanna Dance em 2014, sentiu-se a necessidade de montar um banda com integrantes reais.
Pedro Hewitt: Todos os materiais possuem suas características específicas, mas sempre caminham na mesma linha de sonoridade e forma positiva que a banda sempre consegue enquadrar. As composições em si são compostas com quais elementos para chegar ao ponto final, que é o resultado dos CDs?
Aloha Haole: A banda já nasceu com certa identidade pode-se dizer, de fazer um Surf Rock com muita influência de Punk/Hardcore, então as composições partem sempre dessa linha. O Summer on Mars, ultimo trabalho lançado teve muita influencia de Stoner Rock, mas mesmo assim tem muita coisa do If You Wanna Dance.
Pedro Hewitt: Ainda levando em conta o contexto de formações, o Aloha Haole passou por alguns ajustes e a que está mais fixa é o trio atual. Como foi achar os membros perfeitos e que se iriam se agradar com o som?
Aloha Haole: A banda teve algumas mudanças de formação no decorrer desses anos, mas tudo foi ocorrendo de forma natural. Todos que passaram pela banda deixaram sua parcela de contribuição de alguma forma. É, a formação atual funciona muito bem no palco e foram dele também, além de tocarmos juntos, somos bem amigos, então essa "química" talvez venha dai.
Pedro Hewitt: Vocês acabaram de retornar aos palcos, ainda estão na adrenalina pós-palco, e inclusive estão a poucos passos do lançamento do DVD. De quem surgiu essa ideia e porque justo um DVD Live? Mesmo não lançado completamente, estão felizes com o resultado?
Aloha Haole: A ideia do DVD é um pouco antiga, mas surgiu do Guilherme. Pensamos em fazer a gravação do DVD por dois motivos principais, que era de comemorar os 5 anos da banda, e de também sedimentar tudo que foi feito nesse tempo (a banda possui dois álbuns e dois EP’s). Pode-se dizer que a Aloha Haole é uma banda que sempre vai pensar em fazer coisas novas, em relação a shows, músicas novas, e "registrar" de fato tudo que já foi feito foi uma experiência muito positiva. A banda teve alguns hiatos nesses últimos tempos, o que de certa forma atrasou um pouco esse processo de lançamento, mas em contrapartida, será lançado no melhor momento possível da banda.
Pedro Hewitt: Passando por alguns shows, grandes festivais e uma mini turnê pela América do Sul, com certeza acabaram ganhando mais que espaço por aí, então precisaram criar uma aura de ‘’microfone mudo’’ para causar algo mais íntimo ao público, um feeling mais específico, uma causa mais nobre. Em consideração a público e mercado musical, como vocês acham que eles olham para o cenário independente instrumental e com músicos audaciosos, que são vocês?
Aloha Haole: O cenário independente de forma geral infelizmente é restrito em relação a incentivos (dos mais variados), comparando com outros ramos da música do nosso país. Além disso, o fato da banda ser instrumental, o alcance de certa forma também é menor, então quando tocamos ao vivo tentamos sempre passar a energia do nosso som para o publico, talvez daí venha esse "feeling específico".
Pedro Hewitt: Falando em turnê, vocês soltaram um spoiler adorável que haverá a passagem 2.0 por alguns países. O que podem nos adiantar?
Aloha Haole: Sim! A banda já tem um histórico de algumas turnês, e uma delas foi na Argentina em 2015, que foi muito massa. Estamos planejando voltar lá, e também tocar no Uruguai e Chile, fazer uma turnê Sulamericana.
Pedro Hewitt: Sejamos francos, os citados na última pergunta dão forças necessárias ou hoje a banda consegue sustentar alguns ‘’rojões’’ por si só?
Aloha Haole: Bem, o saldo da turnê no exterior foi muito positivo, foram quatro shows e todas as pessoas envolvidas, desde produtores, profissionais da imprensa e público corresponderam as expectativas, e como a banda já possui certa bagagem, qualquer "rojão" que apareça, a gente já consegue lidar da melhor forma possível. O saldo foi tão positivo que o If You Wanna Dance foi lançado em fita cassete por um selo Argentino, Piramide Records, e desde então sempre aparece um convite ou outro pra gente voltar, e os planos pra 2020 é de voltar a tocar por lá, e também no Chile e Uruguai.
Pedro Hewitt: A música Punk nacional em si surgiu como uma crítica ao Regime Militar e vemos tanto nas músicas antigas quanto nas músicas atuais a força que possuem para criar uma reflexão e um novo âmbito de debates, infelizmente estamos vivendo um período de ‘’guerra sem armas de fogo’’. Tais destas letras estão relacionadas não só a política, mas a assuntos gerais da sociedade, das pessoas, enfim, até de diversões e muitas cantadas antigamente, ainda fazem sentido atualmente. Como algumas coisas no nosso cotidiano, entender é uma coisa, sentir é outra. Acreditam que os acordes, batidas e graves de vocês poderão fazer tanto sentido no futuro quanto fazem agora?
Aloha Haole: Com certeza. Não é pelo fato de sermos uma banda instrumental que não temos uma mensagem nessa direção. Somos uma banda com muita influencia sonora e também ideológica com a cena Punk, e nossa mensagem sempre vai ser antifascista e anti qualquer forma de preconceito que infelizmente ainda existe no nosso dia a dia, quem nos acompanha e nos conhece sabe disso.
Pedro Hewitt: Vejo que o Underground não é comercial e nunca será, ideologicamente, mesmo com todo sucesso que algumas nacionais já fizeram, sejam com ou sem microfone. Algumas de Teresina mesmo poderiam ter uma grande ênfase pelo Brasil a fora, Vulgo Garbus é um bom exemplo, mas não sei a realidade que se encontra, talvez um hiato básico. Vocês observam que comentários e fake News podem afetar de alguma forma alguma espécie de estouro? Por exemplo; canso de ver um pessoal bem carente de atenção e de curiosidade, já que não saem de suas casas para prestigiar alguns shows, falando que o Underground tá morto ou que o Rock já teve sua época de ouro.
Aloha Haole: Fake News atrapalha tudo em qualquer situação. Não gosto dessa frase de que o "rock morreu", talvez ele tenha mudado seu foco, deixou aparecer na TV e nas rádios por motivos óbvios, dinheiro. Nosso país não tem uma cultura forte de Rock (como outros lugares), então a grande massa não vai consumir isso como, por exemplo, consome sertanejo ou forró, mas nem por isso ele vai morrer. A leitura que eu faço é que o mercado musical de forma geral, sempre vive de "ondas" e nesse momento o Rock de fato não está em alta, como esteve há anos atrás, onde existiam novelas que o tema central era uma banda de rock, mas em contrapartida para o Underground, e pra cena independente, sempre vai ter bandas legais pra você conhecer e curtir, e o melhor, bandas reais, com mensagem e propósito de verdade, e não produtos de mainstream, e você só conhece frequentando os shows locais, acompanhando os festivais que acontecem por aí, ou seja, consumindo de fato isso.
Pedro Hewitt: Como estão observando as novas águas pelo Piaui, sejam shows, espaços para fazer eventos, bandas novas, enfim?
Aloha Haole: Completando a ideia anterior, sempre vai ser difícil fazer algo relacionado a rock no Brasil, e aqui no Piauí não seria diferente, mas eu gosto de ter uma visão positiva. Algumas bandas novas vêm surgindo, e quanto mais bandas tocando melhor pra todos, e enquanto um espaço para tocar deixa de existir, a gente torce para que surja outro um tempo depois, então minha analise é nessa visão.
Pedro Hewitt: Em relação a criação e persistência das bandas que estão a anos, acho que vocês podem dar os devidos conselhos de como fazer uma execução ao vivo superar a do CD. É admirável quem faz isso, creio que não deva ser um diferencial, e sim uma obrigação, seja executar de forma mais rápida, mais intensa ou até mais pesada. Quais os tipos de bandas na atualidade que merecem ser entendidas como Undergrounds e 'médias', e aquelas que, na opinião sensata de vocês, claro, não merecem ser?
Aloha Haole: A gente quando faz qualquer tipo de apresentação, de ensaio a show, nos concentramos naquele momento e só, não tem segredo, é só deixar a música fluir, e como a energia na banda é muito boa, tudo acontece da forma mais natural possível. Acredito que toda banda Underground tem seu valor, então tudo que se faz é válido, ainda mais com as dificuldades que sempre vai ter.
Pedro Hewitt: Seguindo a mesma linha de raciocínio; O que vocês acham dessa galera que faz sucesso muito rápido hoje em dia, isto é, sobre o mercado musical? E desses movimentos em prol ao rock atuais, como coletivos, etc…?
Aloha Haole: De fato eu não acompanho muito artistas que fazem sucesso repentino, mas a meu ver são motivados por outros aspectos além da música, business de um modo geral, que nesse caso prevalecem mais do que a qualidade musical, em uma grade parcela desse mercado. Sobre movimentos em prol do rock, como coletivos, é uma ótima sacada pra tudo isso que está acontecendo, ter mais oportunidades de mostrar seu trabalho, e com pessoas que entendam e queiram fazer acontecer, é muito válido e de extrema importância pra toda cena independente.
Pedro Hewitt: Uma pergunta que geralmente possui bons debates e até algumas farpas jogadas ao ar; Qual a diferença entre ser um músico ''profissional'' que toca metal, hardcore, e ser um headbanger que toca metal?
Aloha Haole: Boa pergunta! Eu (Flávio), como baixista da Aloha Haole, penso em focar 100% no som que eu faço. Não preciso de certas técnicas de baixo para fazer meu som, como por exemplo: slap, ou pizzicato. Então eu foco em fazer oque é útil para mim e para a banda, que é deixar o meu som do jeito que gosto e usar técnicas que valem a pena para mim, como o uso da palheta (de onde vem o ataque que preciso), por exemplo. Por ser um cara que sempre ouviu Punk Rock, eu tento focar ao máximo a sonoridade das bandas que pra mim sempre serão referência, como Descendents, Rancid, e Ramones. Então nesse caso, por conhecer bem minhas referencias e saber aonde quero chegar, não procuro versatilidade, procuro algo bem específico, então ser um "headbanger" que faz um som, é um ponto positivo.
Pedro Hewitt: ALOOOOOOOOOHA!!! O espaço agora é de vocês, especialmente para falar mal um do outro, xingar, agradecer, dar algum spoiler, enfim. Agradeço a atenção e nos vemos nos Haoles!
Aloha Haole: Opa! Valeu demais pelo espaço, e sempre é um prazer. Passamos um bom tempo parado, mas foi bom pra descansar, recarregar as energias e seguir em frente. Próximo ano vai ter muitas novidades, acompanhem a banda pelas nossas redes (@alohahaoleband) e fiquem ligados que vai ter muita coisa legal, e logo no primeiro semestre de 2020. Valeu demais!! #STAYHAOLETILLDEATH
Para mais informações, shows e merchandise:
https://www.facebook.com/AlohaHaoleBand/
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