Quando 2.000.000 de calcinhas inflamáveis catapultaram a carreira de Alice Cooper
Por Bruce William
Postado em 17 de agosto de 2022
"School's Out" é o quinto álbum da carreira de Alice Cooper, lançado propositalmente poucos dias antes do início das férias escolares em junho de 1972, que era para servir de trilha sonora da liberdade dos jovens.
Acontece que a ideia da canção que abre e dá título ao álbum surgiu para Alice quando ele assistia a reprise de um seriado dos anos quarenta, "The Bowery Boys", e se viu surpreendido com um diálogo onde um personagem diz para outro: "Hey, Satch, school's out!".
No contexto da cena, a expressão significava algo tipo "pare de levar as coisas tão a sério", no sentido de alguém que não está mais na sala de aula, mas Alice teve a ideia de usar a expressão para satirizar o início das férias escolares, e com isto surgiu também o conceito da arte gráfica do álbum, reproduzindo uma carteira escolar toda rabiscada, que nas primeiras edições do vinil tinha o requinte de abrir pra cima, como se fosse de fato uma carteira.
Para realizar a capa foi contratado Craig Braun, que já havia feito trabalhos especiais como a capa do "Sticky Fingers" dos Rolling Stones, aquela idealizada por Andy Warhol e que traz um zíper. "Nos disseram que 'School's Out' era o título do álbum e do primeiro single, então, enviamos quatro ideias, uma das quais era uma mesa que encontrei no meu estúdio em Nova York. Nós a esculpimos do jeito que as crianças fazem, com canetas esferográficas e canivetes, e chegamos até a colar chicletes nela, sem contar que os caras do estúdio estavam cutucando o nariz e esfregando na mesa antes de fotografarmos, então ela ficou parecendo legítima", contou Craig.
Foto da carteira usada para criar a capa do "School's Out do Alice Cooper
Uma imagem da carteira que foi usada para criar a capa, que hoje pertence ao acervo do Hard Rock Cafe e corre o mundo nas suas filiais, pode ser vista no sickthingsuk.co.uk.
Eles ainda não estavam satisfeitos e decidiram então que o álbum viria embalado em uma calcinha de papel. "Um cara da minha produção encontrou um fornecedor em Londres, os primeiros 500.000 exemplares foram enviados de avião e, quando o single se tornou um sucesso, pedimos outro milhão e meio com meio milhão voando para JFK e o restante sendo enviado por navio", contou Craig.
Esta ideia da calcinha gerou um brilhante golpe de publicidade, conforme relatou Bob Greene em seu livro "Billion Dollar Baby - On Tour with Alice Cooper", totalmente fora de catálogo mas que pode ser encontrado online: "Quando saiu o 'School's Out', cada disco vinha com uma calcinha de papel embalando o vinil. Alice Cooper ainda não era tão popular na época, mas isso logo mudaria. Funcionários da alfândega dos Estados Unidos apreenderam subitamente meio milhão de calcinhas de papel que estavam sendo importadas da Inglaterra. Os oficiais disseram que trazer a calcinha para os Estados Unidos era uma violação de algo chamado Lei de Tecido Inflamável e, portanto, ilegal. O pessoal ligado a Cooper pôs a boca no mundo e, no dia seguinte, quase todos os jornais do país publicaram matérias com manchetes fazendo trocadilhos tipo 'A calcinha de Alice é quente demais para segurar' e coisas do gênero. Pessoas que nunca tinham ouvido falar de Alice Cooper estavam lendo sobre ele no café da manhã".
O genial golpe publicitário do empresário de Alice Cooper que enganou a todos
À primeira vista parecia um desastre iminente, com prejuízos imensos que dificilmente seriam recuperados. Mas não era nada disso. Na verdade, examinando atentamente aquilo soava como um inacreditável golpe publicitário inesperado para o cantor que na verdade de inesperado não tinha nada, já que a ideia tinha vindo de Shep Gordon, empresário do Alice Cooper. "Ele ouvira falar de uma lei antiga que não permitia a importação, para os EUA, de roupas íntimas feitas de papel por elas serem inflamáveis, e elaborou seu plano em silêncio, encomendando calcinhas de Inglaterra. E ele discretamente deixou o pessoal da alfândega saber que as calcinhas estavam a caminho, e permitir que elas entrassem nos Estados Unidos seria contra a lei. Então as calcinhas foram retidas na fronteira, as histórias foram divulgadas nas agências de notícias e Gordon disse ao mundo que as calcinhas deveriam ser usadas em um álbum chamado 'School's Out' por um grupo chamado Alice Cooper".
Uma versão ligeiramente diferente da história apareceu no livro de Michael Walker que leva o pomposo nome de "What You Want Is in the Limo: On the Road with Led Zeppelin, Alice Cooper, and the Who in 1973, the Year the Sixties Died and the Modern Rock Star Was Born": "Gordon providenciou para que a capa de cada exemplar do 'School's Out' fosse embrulhada em calcinhas de papel. Isso por si só provavelmente já seria controvertido, mas Gordon queria mais, e concebeu o plano depois que alguém lhe contou sobre uma obscura lei que proibia a importação de roupas inflamáveis. 'Eu pedi uma quantidade muito pequena de calcinhas inflamáveis e uma quantidade muito grande de calcinhas não inflamáveis', contou Gordon. 'E quando as calcinhas inflamáveis chegaram eu chamei as autoridades'. As calcinhas foram confiscadas e Gordon entregou a história a um repórter do The Washington Post, que a publicou na primeira página".
Reprodução da matéria do The Washington Post pode ser vista neste link. No meio do artigo, uma declaração atribuída a Alice Cooper: "Sei que estamos quentes hoje em dia, mas não imaginei que nossas calcinhas pudessem pegar fogo".
A gravadora ficou preocupadíssima e chamou Gordon, que revelou a peripécia tranquilizando os executivos, preocupados em ter que recolher milhares de cópias do álbum, e ainda teve outra ideia para catapultar ainda mais o nome de Alice Cooper: em um show realizado no Hollywood Bowl que teve seus ingressos esgotados, Gordon pagou para um piloto de helicóptero despejar 15 mil calcinhas sobre a multidão. "Todos urraram e gritaram quando as calcinhas caíram sobre eles, o que causou uma tremenda confusão no local", contou o produtor e diretor musical Joe Gannon, que estava dirigindo o show de Alice. "O piloto obviamente foi preso por violar o espaço aéreo do local sem autorização, o que rendeu ainda mais publicidade para a banda", disse Joe, revelando que ele ficou preso por alguns meses e eles arcaram com as despesas legais e também sustentaram a família do piloto até ele sair em liberdade.
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