O álbum gravado por Bruce Dickinson que ele rejeita, apesar de vários fãs terem gostado
Por Marcos A. M. Cruz
Postado em 26 de janeiro de 2024
"Tattooed Millionaire", primeiro álbum solo de Bruce Dickinson, é considerado um caso à parte na discografia do cantor, que começou a ser delineado em 1989, quando ele chamou seu amigo de longa data e que acabou se tornando parceiro de banda Janick Gers para gravar uma música chamada "Bring Your Daughter…To The Slaughter", que ele forneceu para a trilha sonora do filme "A Nightmare On Elm Street 5: The Dream Child" ("A Hora do Pesadelo 5", no Brasil), a pedido de Rod Smallwood, empresário do Iron Maiden. "Bruce me ligou, eu fui vê-lo, e ele trouxe uma música que parecia AC/DC", relembrou Gers sobre a canção, que acabou sendo gravada também pelo Maiden e incluída no álbum "No Prayer For The Dying".
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A música foi tão bem recebida pelas pessoas próximas que Bruce acabou aproveitando um período de férias do Maiden para, novamente junto com Gers, escrever e gravar "Tattooed Millionaire" em duas semanas, com ajuda do baixista Andy Carr e do baterista Fabio Del Rio. O resultado foi um álbum que traz uma sonoridade diferente dos trabalhos com o Maiden, algo com uma pegada um pouco mais Hard Rock.
E apesar da faixa-título ser uma contundente crítica ao Glam Metal, conforme Bruce disse em depoimento a um documentário - "Não se trata de ter uma tatuagem ou não ter uma tatuagem. 'Tattooed Millionaire' é sobre toda uma área que eu vejo como um esgoto grande, purulento e aberto no traseiro da humanidade em termos de música. Toda a vibração dessa cena não tem nada a ver com música. Não tem nada a ver com ser verdadeiro; tem a ver com uma atitude de merda que se resume a: 'Sim, queremos andar de limusine. Queremos ter garotas, cara'" - o vocalista confessou para a edição de janeiro de 2024 da revista Classic Rock (via Igor Miranda) que ele detesta esta álbum.
Vamos ver como foi a conversa, com trechos ligeiramente resumidos, começando com o entrevistador questionando Bruce se ele ainda sairia do Iron Maiden dois anos depois de lançar o "Tattooed Millionaire": "Sim, não teria mudado isso, mas faria de forma melhorada, teria planejado um pouco mais", confessando que foi meio que uma decisão impulsiva que ele tomou ao perceber que ele estava se tornando algo meio institucionalizado dentro da banda. "Na época, eu estava lá fazendo o que acabou sendo o 'Balls To Picasso', e percebi que eu não tinha muita ideia do que fazer fora do Iron Maiden", confessou Bruce, citando seu segundo álbum solo, lançado em 1994.
Daí é perguntado para Bruce se ele não considerou o "Tattooed Millionaire" como o início de sua carreira solo, e o vocalista respondeu: "Não, ele foi um monte de clichês do rock'n'roll bem feitos. As pessoas gostaram - o que eu respeito - mas se eu quisesse fazer algo que seria o início de uma carreira solo, eu não teria feito o 'Tattooed Millionaire'. Ele caiu no meu colo. Depois de eu ter feito 'Bring Your Daughter To The Slaughter' algum cara de A&R disse: 'Eu amo isso!' e me contratou por conta da CBS nos Estados Unidos. Eu disse: 'Sério?' Nós escrevemos todo esse álbum em duas semanas".
Ao ser perguntado sobre a possibilidade de manter uma carreira solo paralela ao Iron Maiden naquela época, Bruce explica que não iria dar certo: "Eu estava em um estado de limbo naquela época. Eu pensei: 'tenho que sair, porque, caso contrário, qualquer coisa que eu faça, ninguém vai levar a sério. Eles vão apenas dizer: 'Ah, é o projeto paralelo dele'. Eu li uma citação em um jornal que me despertou atenção para isto, do escritor Henry Miller, dizendo: 'Todo crescimento é um salto não premeditado no escuro, sem ideia de onde você vai cair'", diz Bruce, citando a frase de Henry que na verdade tem uma pequena diferença que não altera a essência: "Todo o crescimento é um salto no escuro, um ato espontâneo não-premeditado sem benefício da experiência".
Apesar de rejeitar o "Tattooed Millionaire" e de inclusive deixar isto bem claro, a ponto de ser um dos dois álbuns que não terão músicas tocadas na turnê do "The Mandrake Project", Bruce abriu a possibilidade de, no futuro, vir a tocar músicas do álbum: "Novamente, não vou fazer nada do 'Tattooed Millionaire' - não nesta turnê. Quero me concentrar nas músicas mais pesadas".
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