"Nem todo Eloy usa capa; o meu usa máscala": Slipknot e o complexo de Nelson Rodrigues
Por Gustavo Maiato
Postado em 02 de maio de 2024
O anúncio do brasileiro Eloy Casagrande Lopes como novo baterista do Slipknot fez retornar à mesa o debate sobre o famoso "Complexo de Vira-Lata", termo cunhado pelo dramaturgo Nelson Rodrigues às vésperas da Copa do Mundo de 1958 como puxão de orelha nos desacreditados que ainda morriam de medo do Brasil pipocar igual fez nas Copas de 1950 e 1954.
Na visão de Nelson, o time que contava com Gylmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando, Nilton Santos, Zito, Didi, Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo tinha chances sim. O mais importante? Ele acreditava nos canarinhos. Ele dizia que os brasileiros se colocavam voluntariamente como inferiores ao resto do mundo. É o problema da fé em si mesmo, de acordo com o escritor.
Agora em 2024, décadas depois dessa cruel constatação de Nelson, parece que o Brasil melhorou. Já criamos certa casca no campo esportivo com medalhas olímpicas e vencemos a Copa cinco vezes. Ainda é preciso correr atrás do Nobel e do Oscar para o currículo verde e amarelo, mas, na área da música pesada, Sepultura, Angra, Crypta, Krisiun e Nervosa já asfaltaram o caminho do sucesso no exterior.
A surpresa de todos com a confirmação de Eloy no Slipknot não pode ser traduzida apenas como "Complexo de Vira-Latas" mais. Hoje o sentimento é orgulho. Não muito tempo atrás, Kiko Loureiro fez feito parecido ao surgir como guitarrista do Megadeth. Eloy, bem mais novo, não deixou de fazer história. Se Nelson Rodrigues nos botou o rótulo de desacreditados na década de 1950, agora no Século 21 parece que o jogo virou.
Nelson escreveu: "qualquer jogador brasileiro, quando se desamarra de suas inibições e se põe em estado de graça, é algo de único em matéria de fantasia, de improvisação, de invenção". Da mesma forma, o músico brasileiro pode se inspirar nessas palavras. O escritor concebeu essas palavras num cenário em que o Brasil ainda não havia vencido a Copa. Exercício de otimismo!
No caso do cenário metálico brasileiro, o espaço já foi conquistado – não cabe mais derrotismo ou falta de amor próprio. O Slipknot que ganhou com a chegada de Eloy. O baterista fez por merecer. Ponto final. Da mesma forma que Pelé e Garrincha venceram a descrença, Eloy – como verdadeiro herói – vestiu sua máscara conforme tradição da banda americana e escreveu novo capítulo do metal nacional.
E que venha a máscara do Fofão!
Eloy Casagrande no Slipknot
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