O hit dos Beatles que foi gravado somente com músicos de estúdio, nenhum deles está tocando
Por Bruce William
Postado em 03 de novembro de 2024
Em 1966, vamos encontrar os Beatles já famosos e consolidados como uma das bandas mais influentes do mundo. Após o sucesso estrondoso dos primeiros álbuns e da beatlemania que tomava conta de cada cidade por onde passavam, o grupo começava a experimentar uma nova fase musical. O álbum "Rubber Soul", lançado no ano anterior, trouxe uma sonoridade mais sofisticada e letras mais profundas, sinalizando que eles estavam prontos para explorar novos caminhos. Nessa época, eles estavam mais focados em experimentar sons diferentes, abandonando progressivamente o formato tradicional das turnês, que já não trazia a mesma empolgação.
Essa busca por inovação culminou em "Revolver", onde arriscaram técnicas de gravação avançadas e expandiram suas letras para temas mais introspectivos e experimentais, marcando o início de uma transformação artística que mudaria a direção do Rock. Esse sétimo álbum de estúdio, lançado em 5 de agosto de 1966, foi o último projeto de gravação antes de sua aposentadoria definitiva dos palcos e destaca um uso mais sofisticado da tecnologia de estúdio. É consenso geral que "Revolver" ampliou os limites da música Pop, revolucionou o modo como as gravações eram feitas, reforçou princípios da contracultura dos anos 1960 e influenciou o desenvolvimento de gêneros como Rock Psicodélico, Música Eletrônica, Rock Progressivo e World Music.
Depois de "Taxman", que abre o disco, vêm "Eleanor Rigby", que também foi lançada como Lado B de um single, que tinha como Lado A a canção "Yellow Submarine". O single atingiu o 1º lugar na Austrália, Bélgica, Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido, e altas colocações nas paradas de outros países, incluindo os Estados Unidos.
A canção foi inicialmente escrita por Paul McCartney, embora John Lennon tenha dito que "o primeiro verso era do Paul, mas o restante era basicamente meu". Pete Shotton, amigo próximo de Lennon, que estava presente na época, discordou dessa lembrança. Ele disse: "Acredito que John (cuja memória podia ser muito falha) tomou crédito, em uma de suas últimas entrevistas, por muitas das letras, mas, para mim, 'Eleanor Rigby' foi uma típica composição Lennon-McCartney, na qual a contribuição de John foi praticamente nula". E Paul, que canta a música, comentou que a ajuda de John foi "algo como metade de uma linha".
"Eleanor Rigby" não tem um acompanhamento Pop tradicional. Assim como já havia acontecido em "Yesterday", ela usa um conjunto de cordas clássico, que neste caso se tratava de um octeto de músicos de estúdio formado por quatro violinos, duas violas e dois violoncelos, executando uma partitura composta por George Martin. Nenhum dos Beatles tocou instrumento algum na faixa, embora Lennon e Harrison tenham contribuído com harmonias vocais, e Ringo Starr não participou de nada.
A mixagem original em estéreo trazia o vocal principal isolado no canal direito durante os versos, com as cordas em um canal separado, enquanto a versão mono no single e no LP oferecia uma mixagem mais equilibrada. Em 1999 foi criada uma nova mixagem em estéreo para a coletânea "Yellow Submarine Songtrack", que centraliza a voz de McCartney e distribui o octeto de cordas em ambos os canais.
A origem da letra de "Eleanor Rigby", dos Beatles
Em uma entrevista de 2018 para a GQ, Paul McCartney contou a origem da canção: "Quando eu era pequeno, morava em um tipo de conjunto habitacional. Havia muitas senhoras idosas, e eu gostava de passar tempo com elas, pois tinham histórias ótimas, muitas vezes sobre a Segunda Guerra Mundial. Uma delas eu visitava com frequência e até fazia compras para ela, já que não conseguia sair de casa. Então, essa figura de uma senhora solitária ficou em minha mente".
"Ao longo dos anos, conheci outras pessoas assim", prossegue Paul, "e talvez a solidão delas tenha me feito simpatizar com essas figuras. Pensei que seria uma ótima personagem para uma música, uma senhora solitária que recolhe arroz na igreja e que nunca realizou seus sonhos. Depois, criei o personagem do padre, o vigário, o Padre McKenzie. E, então, tínhamos esses dois personagens. Era como escrever uma história curta, inspirada nessas senhoras que conheci na infância. A música 'Eleanor Rigby' falava sobre isso - o fato de ela morrer e ninguém realmente notar. Eu sabia que isso acontecia."
Em seu podcast A Life In Lyrics, Paul McCartney também explicou como sua mãe influenciou um trecho da letra. Ao explicar o título da faixa, ele contou: "Existe um túmulo onde John e eu passeávamos, falando sobre nosso futuro, e havia uma lápide com o nome Eleanor Rigby. Não lembro de ter visto essa lápide, mas sugeriram que, psicologicamente, talvez eu a tivesse registrado na minha mente."
E ao falar sobre o verso "Wearing a face that she keeps in a jar by the door" ("Usando um rosto que ela guarda em um pote perto da porta"), McCartney revelou que sua mãe, fã de creme Nivea, foi sua inspiração: "Minha mãe adorava Nivea, e eu ainda gosto desse creme até hoje. Sempre me assustou um pouco ver as mulheres usando tanto creme. Meu receio, quando eu crescesse e me casasse, era que minha esposa usasse muitos cremes, toucas de banho grandes e bobs de cabelo. Isso ficou em minha mente por muito tempo, daí o verso 'ela usa um rosto que guarda em um pote perto da porta'."
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