Quando Eric Clapton percebeu que estava sobrando e deixou Jorge Ben e Gilberto Gil sozinhos
Por Bruce William
Postado em 12 de abril de 2025
Em 1975, Eric Clapton veio ao Brasil de férias, acompanhado de seu empresário Robert Stigwood. Hospedado no Rio de Janeiro, Clapton demonstrou interesse em se reunir com artistas brasileiros. A ocasião foi organizada pelo executivo André Midani, que promoveu um jantar em sua casa com nomes como Gilberto Gil, Jorge Ben, Rita Lee, Caetano Veloso, Erasmo Carlos, Nelson Motta e até Cat Stevens.
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Midani conta no livro "Música, Ídolos e Poder. Do Vinil ao download" (Amazon) que Clapton chegou com uma guitarra branca, e a noite se transformou em uma jam session espontânea. Gil, Jorge e Stevens se juntaram com seus instrumentos, mas Cat Stevens foi o primeiro a desistir, dizendo: "Eu não sou guitarrista para enfrentar isso". Em seguida, Clapton, mesmo reconhecido como um dos maiores guitarristas do mundo, também preferiu se afastar, impressionado com o que estava ouvindo. Midani narra que ficou apenas como espectador, fascinado com a interação entre Gil e Jorge.
Nas palavras do produtor, os dois músicos pareciam duelistas de outro mundo. Gil explorava harmonias com extrema habilidade, enquanto Jorge mantinha um pulso rítmico constante e hipnótico. Por vezes, Gil se apropriava do ritmo por instantes, mas logo Jorge retomava o controle. Em outros momentos, os dois se fundiam de forma magnética. Ao fim, suados e exaustos, retornaram "do paraíso", como descreveu Midani.

Já segundo o próprio Jorge Ben, a lembrança do momento tem uma nuance curiosa: Clapton não teria sequer se animado a tocar. "O Midani pediu ao Eric Clapton para tocar. Todos queriam ver o considerado monstro da guitarra. Ele fez doce e não quis tocar pra gente", contou, conforme relata o Soul Art. A reação de Midani foi imediata: "Já que ele não quer tocar, toca vocês aí e mostra pra ele como é que é".
Nessa noite nasceu a ideia de levar Gil e Jorge para o estúdio. Poucos dias depois, sem ensaios, com pouca preparação e algumas garrafas de licor de jurubeba, os dois gravaram nove músicas em dois dias. Dentre elas, canções como "Nega", "Essa É pra Tocar no Rádio", "Taj Mahal" e "Jurubeba". Algumas ultrapassaram dez minutos, em longos improvisos que misturavam musicalidade tribal, lirismo e pura intuição.

O resultado foi o álbum duplo "Gil & Jorge: Ogum Xangô", lançado naquele mesmo ano. Embora não tenha sido um sucesso comercial imediato, o disco se tornou uma obra cultuada por músicos e colecionadores, reconhecida como uma das colaborações mais ousadas e ricas da música brasileira. Clapton pode até ter saído de fininho naquela noite, conforme relatou Midani, mas ele testemunhou o nascimento de um dos encontros mais lendários da nossa música.


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