O disco solo de Paul McCartney que Ringo Starr odiou; "Acho que ele está perdendo tempo"
Por Bruce William
Postado em 07 de junho de 2025
Quando os Beatles se separaram, era natural que os integrantes avaliassem com desconfiança os caminhos uns dos outros. Paul McCartney, que já tinha sido visto como controlador dentro do grupo, partiu para uma trajetória solo marcada por liberdade criativa — e isso não caiu muito bem com seus ex-companheiros. Um dos que mais se incomodaram, curiosamente, foi Ringo Starr, conhecido justamente por evitar atritos.
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Lançado em 1971, "RAM" foi o segundo disco solo de McCartney, mas o primeiro com colaboração intensa de sua esposa, Linda. Gravado em clima doméstico e com uma proposta estética improvisada, o álbum causou estranheza em muitos ouvintes da época. Ringo, que em geral era diplomático, não poupou críticas. "Fico triste com os discos do Paul. Não acho que tenha uma música sequer no último, o RAM. Acho que ele está perdendo tempo. Parece que ele está ficando estranho", disse em entrevista ao Express.
A observação pode ter soado dura, mas fazia eco ao sentimento de parte da crítica e do público naquele momento. O disco não tinha a coesão melódica esperada de um ex-Beatle, alternando faixas suaves com momentos de delírio psicodélico. Para alguns, parecia um projeto inacabado. Para outros, era uma quebra proposital de padrões — algo que só mais tarde seria entendido.

Faixas como "Monkberry Moon Delight", com seu vocal rasgado e clima de pesadelo infantil, ou "The Back Seat of My Car", com arranjo grandioso e estrutura fragmentada, destoavam radicalmente do que McCartney fazia com os Beatles. E mesmo a mais acessível "Uncle Albert/Admiral Halsey", que chegou ao topo das paradas nos EUA, era vista com reservas por Lennon e Ringo.
Mas o tempo é mestre em rever julgamentos apressados, aponta a Far Out. Décadas depois, "RAM" começou a ser redescoberto por músicos e críticos, apontado como influência decisiva para o indie pop e o art pop modernos. Seu estilo "feito em casa", suas colagens de humor e som, e a liberdade com que McCartney flertava com diversos gêneros serviram de inspiração para artistas que buscavam romper com o formato radiofônico tradicional.

Hoje, faixas como "Dear Boy", com harmonias vocais complexas, ou "Heart of the Country", com arranjos acústicos rústicos, são vistas como precursoras de estilos que só seriam amplamente reconhecidos a partir dos anos 2000. A produção detalhada de Paul, muitas vezes subestimada por parecer caótica, revelou-se um exercício de controle por trás do caos.
Ringo nunca voltou publicamente atrás em sua crítica, mas também nunca deixou que isso abalasse sua amizade com McCartney. Talvez hoje ele visse o disco com outros ouvidos — ou, no mínimo, reconhecesse que Paul, ao seguir por um caminho "estranho", acabou antecipando tendências. E se alguém tivesse que explorar os cantos excêntricos do pop, era mesmo ele.

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