Quando Frank Zappa se rendeu ao rock britânico por causa de uma linha de baixo
Por Bruce William
Postado em 09 de outubro de 2025
Frank Zappa não era um cara que distribuía elogios à toa. Ele vivia em guerra com expectativas, rótulos e, em especial, com a imagem "arrumadinha" da música britânica. Ainda assim, reconhecia quando alguém tocava num nervo que quase ninguém alcança. Com os Rolling Stones, isso aconteceu - e não foi por causa do escândalo ou da pose.
Em uma seleção para a BBC Radio 1 (via Far Out), Zappa pegou "Paint It Black" e mirou onde poucos miram: o baixo. Ele disse que o que mais o arrepiava era "a maneira como a linha entra e, de repente, faz 'wooom, woom' - é realmente empolgante, provavelmente uma das coisas mais finas que já aconteceram no rock britânico".

Não era sobre exotismo do uso de sitar, nem sobre provocação: era sobre fundação rítmica. E faz sentido. Em "Paint It Black", o baixo (Bill Wyman) desliza por baixo da pulsação seca de Charlie Watts e do motivo de sitar de Brian Jones, criando uma pressão constante - o baixo empurra a música por dentro. É aquele motor grave que move a canção para frente, dá corpo ao transe e, quando "respira" nas passagens, provoca exatamente o "wooom" que Zappa descreveu. A performance da banda inteira se organiza ao redor desse chão.
A letra, por sua vez, é um exemplo de economia cruel. Imagens simples, quase infantis - "eu quero pintar tudo de preto" - viram metáfora total de luto e alienação. Nada de floreios: o mundo perde a cor, o narrador perde a vontade, e a repetição vira mantra. Essa brilhante simplicidade dá à canção um peso universal que dispensa explicação. O arranjo amplifica o texto sem competir com ele. A batida marcial, o sitar como lâmina melódica e o baixo em movimento contínuo criam um corredor estreito, por onde a voz de Jagger passa quase sem vibrato. Tudo "segura" um pouco, e é nesse quase que a música prende. Nada sobra, nada falta.
Zappa tinha o hábito de furar a superfície. Enquanto a maioria falava da "novidade" do sitar ou da aura sombria, ele ia ao que realmente faz a engrenagem rodar: a arquitetura do grave. É olhar de produtor e de compositor, o olhar de quem sabe que, sem o alicerce certo, todo o resto é maquiagem.
Talvez por isso "Paint It Black" resista tão bem ao tempo. A canção não depende de contexto, moda ou polêmica: ela se sustenta no encontro raro entre letra cortante, interpretação contida e uma base que pulsa como coração aflito. Zappa, que não era exatamente um torcedor dos Stones, reconheceu a faísca onde ela de fato mora: no baixo que faz o mundo escurecer junto com a música.
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