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Templo de Fogo: Gólgota é ápice da criatividade musical

Resenha - Gólgota - Templo de Fogo

Por Marcelo R.
Postado em 31 de outubro de 2020

Nota: 10 starstarstarstarstarstarstarstarstarstar

Radicada na cidade de Itu, interior de São Paulo, a banda Templo de Fogo é veterana e velha conhecida na cena local. Em atividade desde os anos 90, a banda reúne uma extensa discografia, com diversos full-lenghts, demo-tapes e EPs já lançados.

Abordando temática cristã e com letras cantadas exclusivamente em português – exceção feita apenas ao EP Judgement (2003) – o Templo de Fogo é daquelas bandas que enriquecem, abrilhantam e, assim, orgulham e agigantam o Heavy Metal nacional.

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Em meados deste ano de 2020, a banda deu vida ao seu novo álbum, intitulado Gólgota. Nesse recém lançado material, a banda atingiu o ápice da criatividade e da maturidade musical, fruto de trabalho duro somado à extensa experiência adquirida após mais de duas décadas em atividade.

Em Gólgota, o Templo de Fogo entregou um som pesado, bem produzido e bastante variado, preservando, porém, a essência do Heavy/Power Metal que caracteriza e marca o seu estilo.

A faixa de abertura, atmosférica e, em certos aspectos, soturna, dá início à viagem sonora de Gólgota, deflagrando um clima sombrio que cativa o ouvinte logo nas primeiras notas. Essa sorumbática faixa introdutória é emendada e contraposta, logo em sequência, pela pesada e cadenciada canção Ressuscitou, com seus riffs poderosos e viscerais, empolgando no melhor estilo do Heavy Metal tradicional oitentista (ao qual o ouvinte é prazerosamente remetido, numa agradável viagem nostálgica).

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Prosseguindo na mesma linha do Heavy Metal tradicional, mas com um andamento um pouco mais arrastado e lento, o ouvinte é presenteado, em sequência, com a faixa Aos Pés da Cruz, uma verdadeira aula de peso, técnica e melodia, em doses equilibradas.

Aliás, essa mencionada canção – Aos Pés da Cruz – merece um destaque especial: as dobras de guitarras ao final, tão marcantes e tão bem encaixadas, remetem o ouvinte ao melhor estilo do Iron Maiden. A banda, por sinal, repetiu essa técnica – de guitarras gêmeas/dobradas – em outras faixas ao longo do álbum, sempre em doses balanceadas e moderadas (a exemplo da parte final de Dono da Vida), característica que, ao lado de outras tantas qualidades desse álbum (adiante detalhadas), tornou a audição de Gólgota extremamente prazerosa.

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Sem perder a essência e o direcionamento que caracterizam o estilo do Templo de Fogo – com fincas no Heavy/Power Metal –, Gólgota é bastante variado. Prova indiscutível dessa versatilidade pode ser conferida na faixa Caminho de Dor. Essa canção, com seu início calmo e atmosférico, desenvolve-se de maneira semelhante a um crescendo, convolando-se numa repentina e intensa explosão sonora. Pesada, densa e com vocais extremamente potentes, Caminho de Dor é marcada por um feeling inexprimível por palavras, tangível apenas pela audição que essa viagem sonora proporciona. Essa faixa é, particularmente, uma das minhas favoritas de Gólgota.

O álbum, como não poderia deixar de ser, também entrega ao ouvinte aquele Power Metal melódico técnico e bem executado, no melhor estilo de bandas como Gamma Ray e Helloween (em sua fase mais pesada), apenas para mencionar algumas referências. Nessa linha, citam-se, especialmente, as excelentes canções Sacrifício e Tua Voz, ambas marcadas pelo ritmo mais veloz (com elogiável destaque aos trabalhos de bateria) e pelos riffs enérgicos, potentes, melodiosos e empolgantes, características típicas do gênero.

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O álbum contém, ainda, duas espécies de interlúdios – Sonho Perdido e Pra casa –, que realizam, ao longo da audição, uma ótima comunicação entre as diversas faixas, conferindo unicidade e singularidade ao conjunto da obra.

A precitada faixa Pra Casa, a propósito, antecede a canção derradeira, Eu Voltarei. Essa última faixa se inicia e se desenvolve de forma potente, forte e agressiva, mas sofre uma brusca e repentina ruptura de andamento, encerrando Gólgota de forma obscura, sombria, atmosférica e, até mesmo, "enigmática". Um verdadeiro "apagar de luzes".

Fecham-se, então, as cortinas desse espetáculo sonoro, deixando ao ouvinte um gosto de quero mais.

Gólgota é aquele típico trabalho que se aprecia do começo ao fim sem pular faixas. É, sem exageros, um deleite sonoro inexprimível por palavras de uma singela resenha. O único defeito de Gólgota é que ele acaba.

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A banda trabalhou de forma coesa e, como anteriormente destacado, entregou um som variado e agradável, sem, porém, perder a identidade e a direção.

Todos os integrantes são destaques no álbum. O vocalista Moisés Missão, a propósito, possui um vocal limpo, forte e potente. Com um marcante e inconfundível timbre e esbanjando feeling, ele não apenas canta, mas interpreta e incorpora as canções. E, fazendo-o com singulares paixão, emoção e intensidade, dá vida às letras e às músicas.

Ao seu turno (e como já dito e repetido), os trabalhos de guitarra, a cargo de Lucas Gonçalves e de Jica Pelegrino, são surpreendentes, para dizer o mínimo. É inquestionável que a banda atingiu, nesse quesito, o ápice criativo, entregando uma enxurrada de solos e uma saraivada de riffs criativos, fazendo dessa audição uma experiência sonora única, resfolegante e empolgante, do início ao fim.

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Os trabalhos de bateria em Gólgota são outro destaque indiscutível. Titulando capacidade técnica surpreendente, o baterista Ronaldo Vicente executou uma performance irrepreensível num álbum que variou entre ritmos lentos, médios e rápidos.

Algumas canções contêm, nelas próprias, quebradas de tempo e variações bruscas de ritmos, o que certamente tornou o trabalho das baterias especialmente dificultoso. Ronaldo Vicente, porém, deu conta do recado com maestria, esbanjando versatilidade e criatividade num álbum evidentemente desafiador.

Ronaldo Vicente detém aquele talento para unir técnica e feeling, rara habilidade que o coloca na categoria dos grandes. Provou isso em Gólgota, como, aliás, já o havia provado, também, nos álbuns anteriores do Templo de Fogo.

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Gólgota é um álbum que demonstra, uma vez mais, a força do Heavy Metal brasileiro.

A música pesada nacional – em todas as suas vertentes – é de extrema qualidade, fato notório. E o Templo de Fogo está aí para provar isso: que a música pesada do nosso país está no catálogo das melhores do segmento no mundo. O Brasil, em seus recônditos, é fonte riquíssima de excelentes bandas do gênero, que, portanto, merecem valorização e apoio de nós, os fãs.

Apoiemos, assim, a música pesada nacional! Sempre!

Faixas:
1. Introdução
2. Ressuscitou
3. Aos Pés da Cruz
4. Caminho de Dor
5. Dono da Vida
6. Gólgota
7. Sacrifício
8. Sonho Perdido
9. Tua Voz
10. Pra Casa
11. Eu Voltarei

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Sobre Marcelo R.

"Marcelo R. é natural de Itu. Da fama de sua cidade, herdou alguns exageros, como o gosto pela música e pela literatura. Ávido leitor e aficionado por uma imensa gama de subgêneros do rock, possui especial paixão pelo metal nacional, do qual é incansável apoiador. É colecionador de discos, já tendo completado algumas discografias, como a do Katatonia e a do Bruce Dickinson. Nas horas vagas, é um despretensioso escritor, aventurando-se especialmente em resenhas de livros e de música. Colabora com a página Rock Show, sediada no site Medium. É formado em Direito."
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