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Titãs: Um roteiro de teatro em formato de álbum

Resenha - Doze Flores Amarelas - Titãs

Por Renan Soares
Postado em 10 de junho de 2018

Acho que essa será uma das resenhas mais complicadas que me propus a fazer aqui, pois, como o álbum em questão se trata de uma "ópera rock", será necessário eu avaliar algo muito além da própria sonoridade e da música em si, tendo que levar a letra muito mais em questão do que o normal, e principalmente a condução do enredo retratado na obra.

Já na apresentação da banda no Rock In Rio de 2017, Sérgio Britto já havia anunciado que o álbum "Doze Flores Amarelas" teria como enredo a história de três garotas jovens que foram estupradas por cinco homens em uma festa, e toda a consequência causada em suas vidas após o crime, já deixando claro um grande enfoque na temática do feminismo e da Lei Maria da Penha, tanto que as três protagonistas se chamam "Maria".

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Antes de tudo, uma coisa que já esperava do "Doze Flores Amarelas" era que os Titãs voltariam a soar como uma banda de "trilha sonoras de novelas da Globo", mesmo tendo voltado um pouco as suas origens no antecessor "Nheengatu", mas nem os julgo por isso, pois a sonoridade utilizada no novo álbum se encaixa muito melhor na proposta do que o peso do antigo "Cabeça Dinossauro". Mas enfim, esse não é o principal foco agora.

Para facilitar a análise, dividirei o texto em três partes, uma para cada ato do disco.

Ato I

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No primeiro ato, a banda conseguiu se expressar bem nesse que seria o cartão de entrada para a obra como um todo, a própria sonoridade da música "Nada nos Basta" soa realmente como o início de uma peça de teatro, e o mesmo acontece em "O Facilitador".

Nessa parte do enredo as três Marias são apresentadas como jovens na flor da idade querendo curtir a vida, mostrando inclusive consumo de drogas por parte das mesmas em faixas como "O Facilitador" e "Disney Drugs".

Alguns podem até questionar o fato da música "Weird Sisters" ser em inglês, mas na minha interpretação, isso representaria a americanização que atinge a maioria dos jovens de hoje em dia.

As canções "A Festa", "Fim de Festa" e "Me Estuprem" representam o ápice do enredo, onde as três jovens são abusadas por cinco rapazes em uma festa. Em "A Festa", os Titãs tocam com uma sonoridade mais pesada justamente para demonstrar a animação da ocasião, e nessa mesma lógica, "Fim de Festa" tem um ritmo mais lento e calmo, tendo um pouco mais intensidade quando os personagens masculinos estão prestes a cometer o ato.

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Em "Me Estuprem", a banda ironiza na letra os velhos argumentos conservadores de que as garotas teriam sido estupradas por conta da roupa que utilizavam, por estar alteradas e afins, aquela velha conversa fiada que culpa a vítima pelo ocorrido.

Ato II

Ao meu ver esse é o ato mais intenso de toda a obra, pois mostra o que as três Marias passaram após terem sido abusadas. Começando com a faixa "O Bom Pastor", sendo esse o pai de uma das Marias, onde ele se utilizaria da sua base religiosa para julgar o que aconteceu com a sua filha, enquanto ela bateria de frente com o mesmo, como é visto na música "Eu Sou Maria".

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Em "Canção da Vingança" é retratado quando uma das garotas decide caçar um dos seus abusadores em busca de vingança, sendo essa uma das faixas mais pesadas do ato (tendo também a surpresa de finamente ouvir o Tony Bellotto cantando). O mesmo é demonstrado na faixa "Personal Hater".

Após o segundo interlúdio, a história se foca na reação de uma Maria em especifico que teria sido abusada pelo garoto o qual se interessava, onde de início ela tentaria fugir na faixa "De Janeiro até Dezembro", e depois, na faixa "Mesmo Assim", demonstrado ainda ter sentimentos por ele mesmo assim.

O principal destaque do ato é a canção "Não Sei", onde Branco Mello e Sérgio Brito interpretam os abusadores ironizando a reação das Marias àquela noite, alegando que não teriam feito nada de errado e elas teriam pedido por aquilo. A interpretação dos dois vocalistas acabou sendo o diferencial para a música.

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Ato III

O que era para ser o ato principal, pois seria o momento onde as três Marias confrontariam seus abusadores de frente e armariam a sua vingança, acabou sendo a parte mais fraca do álbum.

Ao meu ver, o enredo acaba se perdendo nessa parte da história e fica difícil para o ouvinte decifrar o que está acontecendo exatamente, isso sem falar que a ideia das três Marias se envolverem com magia para se vingarem dos abusadores acabou sendo uma forçada de barra desnecessária.

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Mas, tecnicamente e musicalmente falando, a parte mais interessante desse ato são as músicas que passaram a receber linhas de orquestra, reforçando a atmosfera de uma peça de teatro.

Agora fazendo um balanço geral de toda a obra, vejo que o "Doze Flores Amarelas" foi um álbum pensado bem mais "teatralmente" do que musicalmente, por isso, ver como as faixas conduzem a história retratada acaba sendo mais interessante do que ouvir as músicas separadamente.

Musicalmente falando, as faixas não chegam a empolgar, nem mesmo as mais pesadas como "A Festa", "Canção da Vingança" e "Me Chamem de Veneno", mas, observando o álbum como um roteiro de uma peça acaba deixando o ouvinte curioso em relação a atuação das personagens no palco, coisa que a banda tem trazido nas últimas apresentações ao vivo.

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Gostei bastante da interpretação das cantoras Corina Sabbas, Cyntia Mendes e Yás Werneck, responsáveis por darem voz as três Marias, e ainda digo que a participação delas poderia ter sido melhor aproveitada se a banda tivesse deixado elas cantarem sozinhas todas as partes onde o eu-lírico é do gênero feminino, pois soaria mais verdadeiro e a "teatralidade" da obra ficaria mais fiel.

Claro, não podemos esquecer de destacar a participação de Rita Lee na locução da abertura e dos interlúdios, onde ela se saiu muito bem, apresentando a voz certa para narrar um espetáculo com uma temática desse tipo.

Após ouvir todo o álbum, fico curioso para ver como a banda estar apresentando todo o trabalho nos shows, onde os mesmos prometeram algo digno de uma peça teatral. Sendo assim, mesmo tendo me desanimado um pouco com os Titãs após a saída de Paulo Miklos (que poderia ter adicionado bastante a esse disco, principalmente por conta da sua experiência como ator) e o afastamento de Branco Mello para tratar de um tumor na garganta (e fica nossa torcida para que ele se recupere logo), fico na expectativa para que a banda passe pela minha cidade em breve para que eu possa ver como o "Doze Flores Amarelas" é apresentado ao vivo e com toda a produção armada por eles.

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Nota: 8

TRACKLIST:

-Ato I

Abertura
Nada nos Basta
O Facilitador
Weirds Sisters
Disney Drugs
A Festa
Fim de Festa
Me Estuprem

-Ato II

Interlúdio I
O Bom Pastor
Eu Sou Maria
Canção Da Vingança
Hoje
Nossa Bela Vida
Personal Hater
Interlúdio II
De Janeiro até Dezembro
Mesmo Assim
Não Sei
Essa Gente Tem Que Morrer

-Ato III

Interlúdio III
Me Chamem de Veneno
Doze Flores Amarelas
Ele Morreu
Pacto de Sangue
O Jardineiro
Réquiem
É Você
Sei Que Seremos


Outras resenhas de Doze Flores Amarelas - Titãs

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Sobre Renan Soares

Nascido em Recife no dia 03 de novembro de 1994, Renan adentrou ao mundo do rock/metal a partir dos 13 anos de idade e até hoje permanece fielmente no mesmo. Desde que se formou em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco, tem se dedicado a conseguir dar a relevância merecida ao nome do estilo.
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