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Resenha - Firepower - Judas Priest

Por Sérgio Henrique dos Santos
Postado em 13 de março de 2018

Nota: 9 starstarstarstarstarstarstarstarstar

Mesmo sendo rotulado comumente como heavy metal tradicional o JUDAS PRIEST ao longo de quase toda carreira foi uma banda que, dentro dos seus limites, não teve receio de ousar e experimentar. Se você compara Stained Class (1978) com British Steel (1980) e depois pula para Turbo (1986) as diferenças são nítidas - e tudo em menos de 10 anos. E se dá um salto de mais uma década vai parar em Jugulator, uma guinada brutal (em todos os sentidos!) de 180 graus em comparação aos tempos de flerte com o glam metal americano.

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Firepower, assim como Angel of Retribution e Redeemer of Souls, mantém uma característica presente nos últimos 15 anos (Nostradamus foi a exceção): o PRIEST mais conservador e tradicional, procurando fazer o que já sabe e utilizando elementos que tem todo o direito de clamar para si (e usar quando bem entender).

Em Firepower existe tanto a sonoridade mais moderna, legado do Painkiller e de alguns dos trabalhos solo do Halford, quanto pequenos detalhes espertamente pinçados de volta dos anos 80. Uma coleção de 14 faixas diretas e bastante objetivas, fazendo com que uma audição na íntegra não seja difícil.

E a "ala Painkiller" do disco é representada logo no começo com a trinca formada pela faixa-titulo seguida de Lightning Strike e Evil Never Dies. Três músicas rápidas e que sozinhas já mostram como os caras estão em boa forma. SCOTT TRAVIS ainda usa bastante (e poderia ter usado até mais) as levadas de pedal duplo que são uma de suas marcas registradas e que foram fundamentais para a renovação do som da banda em 1990.

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E é dele também o detalhe mais chamativo da quarta faixa, a que inicia o lado "olá anos 80!". A sensacional virada de bateria com efeito que ele faz, temperada com um singelo sintetizador ao fundo, faz o fã lembrar na hora dos tempos de Ram it Down. Never The Heroes é heavy metal oitentista com jeitão de hino e sem nenhum receio bobo de parecer trilha de filme do tipo Comando Para Matar.

Essa mescla entre moderno e retrô é fruto justamente da sacada de mestre que foi terem contratado o atual Rei Midas das produções de metal, ANDY SNEAP, e o veterano TOM ALLOM, que produziu todos os álbuns da década de 80. Inspirados e apoiados pelo melhor produtor da atualidade, trabalhando ao lado de um colega que com certeza conhece melhor do que ninguém o som clássico deles, como poderia dar errado? Dá até para vislumbrar como deve ter sido a primeira reunião desse pessoal todo: "aqui nesta sala estão as únicas pessoas que querem e que podem fazer o melhor disco do JUDAS PRIEST em 30 anos, essa é a nossa missão e não podemos decepcionar".

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A propósito, também não pode ser desprezada a presença de RICHIE FAULKNER, que herdou um posto difícil e que por ser muito mais jovem que os outros integrantes inevitavelmente acabou trazendo energia e (principalmente) a motivação extra que eles precisavam nesses últimos anos. Como se diz no golfe, hole in one, Richie!

Necromancer lembra um pouco alguns trabalhos solo de HALFORD e usa uma artimanha bem conhecida: linha vocal acompanhando os riffs. Covardia! Children of the Sun tem algo de BLACK SABBATH da Era DIO (preste atenção no riff e no ritmo). Rising from Ruins (precedida pela intro Guardians, que num tracklist alternativo poderia ser a primeira faixa) é a primeira balada e novamente espalha uma fumaça de gelo seco oitentista em tudo. Atuação perfeita de HALFORD e um show à parte nas guitarras: se você estava com saudade de belas harmonias e solos aqui está seu deleite.

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Flame Thrower é uma boa ideia que poderia ter sido melhor executada: fosse só um pouquinho mais acelerada (repare como a bateria a deixa parecendo com o freio de mão puxado) o resultado ficaria certeiro. Mas tudo bem porque em seguida vem a espetacular Spectre, a continuação espiritual de The Ripper. O mesmo clima ameaçador, trilha sonora de psicopata.

A curtíssima e eficiente No Surrender é um presente para os fãs de Screaming for Vengeance e Defenders of the Faith. Feche os olhos e você poderá jurar que está ouvindo algo de 1984 restaurado de algum arquivo de gravadora. Um refrão muito grudento em um tipo de música que parece facílimo de fazer mas que toda banda sonha em ter à disposição. Em outros tempos seria um hit em qualquer rádio rock.

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Após a quase blueseira Lone Wolf chega o encerramento com a emocionante Sea of Red. HALFORD usa sua (intacta) voz grave em primeiríssimo plano e dá um show à parte. Num contexto em que a banda aproxima-se do fim essa é uma power ballad épica que além de belíssima ganha toda uma importância histórica de eventualmente ser a despedida em estúdio de um gigante do heavy metal. Se realmente o for terá sido um adeus grandioso e digno.

Não é possível falar de Firepower sem mencionar o recente anúncio da doença de GLEEN TIPTON. Ouvindo os riffs nervosos e solos tipicamente distorcidos e rasgados em abundância ao longo do disco agora é possível imaginá-lo no estúdio lutando até sangrar os dedos para conseguir extrair o máximo de notas das cordas da sua guitarra enquanto ainda consegue ter domínio sobre as mãos que foram seu ganha-pão ao longo da vida. GLEEN sabe que luta contra o tempo para conseguir expressar sozinho no instrumento tudo o que tem vontade e isso certamente acabou tendo impacto na garra demonstrada não só por ele mas também pelos companheiros (consciente ou inconscientemente). A angústia por uma perda inevitável que se aproxima é o combustível da vontade de fazer e acertar.

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Desde que ROB HALFORD retornou, em 2003, os fãs têm esperado um lançamento que possam chamar de clássico com total segurança. Finalmente essa oportunidade chegou e pode ter sido a última vez, então aproveite o momento. Obrigado JUDAS PRIEST.

Rob Halford (vocal)
Glenn Tipton (guitarra)
Richie Faulkner (guitarra)
Ian Hill (baixo)
Scott Travis (bateria)

Tracklist:

1. Firepower
2. Lightning Strike
3. Evil Never Dies
4. Never the Heroes
5. Necromancer
6. Children of the Sun
7. Guardians
8. Rising from Ruins
9. Flame Thrower
10. Spectre
11. Traitors Gate
12. No Surrender
13. Lone Wolf
14. Sea of Red

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