Deep Purple: Sem surpreender, mostra estar mais viva que nunca
Resenha - InFinite - Deep Purple
Por Erick Silva
Fonte: Blog Punhado de Coisas
Postado em 10 de abril de 2017
Nota: 8 ![]()
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49 anos de existência e 20 discos depois, o que ainda esperar do Deep Purple em plena era da Internet, das redes sociais, dos downloads rápidos de música, etc? Ao contrário dos outros alicerces que fazem parte da santíssima trindade do rock pesado (Zeppelin e Sabbath), o Purple, na maioria das vezes, apresentou uma regularidade invejável em sua carreira, mesmo após tantas mudanças de formação (praticamente a mesma quantidade de álbuns lançados). No entanto, convenhamos: há quanto tempo, o lendário grupo britânico não lança algo verdadeiramente relevante? Ao que me lembro, o último grande disco deles foi o ótimo "Perpendicular", no já longínquo ano de 1996. De lá pra cá, foram muitos álbuns ao vivo da época de ouro do grupo (os anos 70), e mais alguns lançamentos feitos no mais preguiçoso piloto automático, como se eles estivessem precisando gravar algo apenas para cumprir contrato com as gravadoras ("Bananas" e "Now What?!"). Portanto, é com imenso prazer que, em pleno 2017, o Deep Purple, finalmente, lança um disco digno de nota depois de muitos anos: "Infinite".
Mas, não se enganem. Nem pensem em encontrar aqui algo similar ao "In Rock", ao "Machine Head" ou ao "Burn". Nada de comparações, até mesmo porque seria injusto, por exemplo, querer que Ian Gillian, ainda hoje, conseguisse alcançar as mesmas notas que em "Child in Time", 47 anos atrás. Ao passo que, ao contrário das explosões vocais do Gillian de outrora, o que encontraremos, e muito, em "Infinite" são interpretações com a garra de quem está empunhando a bandeira do rock'n roll há décadas. Nada exagerado, e com muita honestidade da parte dele, diga-se. Já, o "caçula" da banda, Steve Morse, poucas vezes, esteve tão preciso na guitarra do Purple quanto agora. Sem solos complicadíssimos, Morse compensa tudo com muito groove, num feeling contagiante. O baixista Roger Glover, novamente, contribui milimetricamente para que as composições da banda sejam encorpadas na medida certa, e, junto com outra lenda (o baterista Ian Paice), fazem da cozinha do grupo algo a ser invejado. E, na formação atual, o tecladista Don Airey cumpre muito bem o seu papel, evitando comparações desnecessárias com o saudoso Jon Lord.
Feitas as devidas considerações de que os integrantes do Purple continuam afiados em suas respectivas funções, vamos ao disco em si. "Infinite". Sem comparações descabidas com os clássicos da banda, mas, analisando o álbum friamente à luz do rock feito atualmente, não é, sem sombra de dúvidas, um trabalho ruim, ou, sequer, mediano, mas, infelizmente, está longe ser considerado excelente também. Na maioria das vezes, empolga, e podemos perceber porque a banda se tornou esse verdadeiro patrimônio do rock pesado. Já, em outros momentos (poucos, é verdade), o som fica imensamente arrastado, clichê e meloso, o que impede o disco de ser, no geral, memorável. Em todo caso, ele começa muito bem, com três ótimas músicas: "Time for Bedlam", "Hip Boots" e "All I Got is You"; todas bem compostas, com cada elemento se encaixando à perfeição na proposta do som atual da banda. Dá pra vislumbrar, facilmente, o grupo, empolgadíssimo, executando essas canções num show bastante lotado, com a plateia indo ao delírio. Primeira impressão aprovadíssima. A seguir, quando se pensa que o Purple vai dar uma "amansada" no som, surge a excelente e swingada "One Night in Vegas" (séria candidata a melhor música do disco, e com louvor). A quinta faixa, "Get Me Outta Here", mantém o nível lá em cima, também apostando em algo mais cadenciado.
É com "The Surprising", no entanto, que o disco desanda um pouco, sendo uma faixa que poderia ter sido limada na edição do disco. Ela é até bem executada, porém, só fica interessante em momentos esparsos, sendo chata na maioria do tempo; é como se fossem duas canções em uma, faltando, nisso, uma certa unidade. Já, "Johnny's Band", com sua estrutura mais simples, é melhor resolvida, e entrega algo mais dinâmico. "On Top of the World" está no mesmo patamar das melhores canções do álbum. Melódica e muito cadenciada, mostra um perfeito entrosamento de todos os integrantes. É quase como se fosse uma aula de "como se fazer rock dos bons". Na contramão, "Birds of Prey" é uma balada que poderia ter sido melhor explorada em suas possibilidades, não sendo, de maneira alguma, descartável, mas, não atingindo o seu potencial. Por sinal, em alguns momentos, ela chega a lembrar, pela estrutura, algumas das melhores composições do Pink Floyd, mesmo sem a mesma qualidade. Ao menos, ela não se alonga muito, não chegando, em hipótese alguma, a incomodar.
Nesse ponto, chegamos a uma agradável surpresa: uma cover do Purple para uma canção do The Doors ("Roadhouse Blues"). Obviamente, que a agitação e a urgência da composição original não está aqui, dando lugar a uma interpretação mais contida, mais elegante. Ainda assim, uma versão feita com categoria. Na edição "normal", o disco acaba por aqui. Na "deluxe", há alguns bônus interessantes, que foram lançados em fevereiro deste ano, no EP "Time for Bedlam". Começa por "Paradise Bar", boa faixa, que lembra um pouco as músicas do Van Halen. Os bônus continuam com a versão instrumental para "Uncommon Man", música lançada originalmente no disco "Now What?!", e que, nesse formato, foi consideravelmente melhorada, tornando-se uma bela "trilha sonora", digamos assim. Em seguida, uma reprise (também instrumental) de "Hip Boots", gravada num ensaio quase "descompromissado". Pra encerrar de vez, uma boa versão ao vivo do clássico "Strange Kind of Woman", que não supera outras versões já feitas, claro, mas, que também não decepciona. Fecha, portanto, de maneira satisfatória, um disco competente, e, acima de tudo, honesto.
Fica visível que o tempo passou para o Purple, não há o que discutir. Mesmo assim, eles continuam fazendo o que gostam com muita dignidade, sem quererem ir além das suas possibilidades, e lançando, depois de muito tempo, um disco para deixar qualquer fã orgulhoso. Nem passado, nem futuro; a banda está mesmo é olhando para o presente, entregando, com isso, algo que o público já esperava deles há anos. E, por isso (independente da ótima qualidade de "Infinite"), já merecem aplausos.
Destaques:
Hip Boots
One Night in Vegas
On Top of the World
Faixas:
01. Time for Bedlam
02. Hip Boots
03. All I've Got Is You
04. One Night in Vegas
05. Get Me Outta Here
06. The Surprising
07. Johnny's Band
08. On Top of the World
09. Birds of Prey
10. Roadhouse Blues (The Doors cover)
11. Paradise Bar (Non Album Track) - Deluxe Bonus
12. Uncommon Man (Instrumental Version) - Deluxe Bonus
13. Hip Boots (Rehearsal, Ian Paice's Recording) - Deluxe Bonus
14. Strange Kind of Woman (Live in Aalborg) - Deluxe Bonus
Integrantes:
Ian Paice – bateria, percussão
Roger Glover – baixo
Ian Gillan – vocal, harmônica, percussão
Steve Morse – guitarra
Don Airey – órgão, teclado
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