Iron Maiden: uma análise sincera de "Senjutsu"
Resenha - Senjutsu - Iron Maiden
Por Eduardo Quagliato
Postado em 06 de setembro de 2021
Para contextualizar, vou começar a resenha do novo álbum de estúdio do Iron Maiden do mesmo modo como comecei a do último (confira no link abaixo), no já distante ano de 2015...
Ao mesmo tempo em que sou mais um fã "xiita" desses senhores agora sexagenários (!!), daqueles que curtem a banda desde criancinha, conhecem cada detalhezinho de sua história e discografia e têm vários shows e encontros com os caras no currículo, sou extremamente crítico a tudo o que o sexteto liderado por Steve Harris produz.
Assim, o anúncio de Senjutsu, o primeiro trabalho de inéditas após um hiato de seis longos anos (o maior da história do Maiden), foi, naturalmente, cercado de muita curiosidade e "achismos" - algo que foi ainda mais aguçado com todo o "hype" gerado pela excelente campanha de marketing em torno da tal "Belshazzar's Feast", que culminou com o anúncio álbum em julho deste ano. Não era para levar tanto tempo, já que ele foi gravado no começo de 2019, mas a pandemia do COVID-19 ferrou até isso!
A capa, de novo, é simples, apenas com um Eddie encarnado como samurai e um fundo escuro (custava muito colocar um cenário atrás?)... Em relação às composições, dessa vez a longa duração do disco - mais de oitenta minutos - não chegou a surpreender tanto, uma vez que The Book Of Souls é ainda mais comprido e também já tinha sido um álbum duplo. Além disso, lá em 2015, esse detalhe foi, no começo, motivo de apreensão para os fãs mais antigos (eu incluso), porque a principal característica dos últimos trabalhos do Maiden é o direcionamento mais progressivo que os caras tomaram, com cada vez menos faixas com cara de "hit" (aquelas mais curtas e mais "porrada", como as que tornaram o som da banda tão característico no passado), e cada vez mais músicas longas que quase sempre têm a mesma estrutura; porém, ao final, tivemos uma grata surpresa, já que para a grande maioria dos fãs (eu, de novo, incluso), as enormes composições de The Book Of Souls são excelentes!
Mas chega de lenga-lenga. O disco vazou, e mais uma vez, fui fazendo minhas anotações já na primeira audição, que complementei nas seguintes. E, novamente me esforçando ao máximo para me despir de preconceitos e ser o mais imparcial possível (convenhamos que ler resenha de fã cego e sem senso crítico é um saco!), escrevi o seguinte...
1) SENJUTSU: uma introdução atmosférica e instigante precede guitarras nervosas e muitas camadas de vocais ao longo de toda a música, tipo o que o Blind Guardian costuma fazer (bem legal essa inovação!). Belo refrão. O primeiro solo de Adrian Smith (há dois do guitarrista) tem muito feeling, e todo o andamento da faixa é diferente, marcado por uma levada de tons da bateria num ritmo marcial (ou "tribal"?). Há um forte clima de tensão na música, que combina com a letra sobre tambores de guerra e "invasores do norte", e termina com uma enorme explosão. Muito bom!!
2) STRATEGO: várias marcas registradas do Maiden se fazem presentes aqui. Ritmo galopante (com o baixo estalando e acompanhado pelo agilíssimo pé direito de Nicko McBrain), guitarras dobradas, e notas vocais muito agudas (mas alternadas com passagens em tons graves). Apesar de não ser comprido, o segundo single do álbum tem várias partes distintas. O timbre da Fender de Janick Gers que acompanha a melodia é fraco (seria bem mais "encorpado" se fosse tocado por Adrian com sua Jackson), e o teclado ao fundo também soa meio estranho... Mas o saldo final é, sim, positivo!
3) THE WRITING ON THE WALL: o início acústico lembra o final de If Eternity Should Fail. Riffs diferentes, que parecem música celta (ou seria country?)... Se ouvida acelerada, ela melhora muito (fica parecendo algo do álbum Killers - reproduza a 1,25x e confira)! Mas pena que a banda não deixou a música assim, resultando numa faixa cadenciada e que não tem muita cara de single... Apesar de que, como todo mundo já sabe, ela gerou um videoclipe bem legal!
4) LOST IN A LOST WORLD: começa e termina lenta. O início é acústico e tem efeitos curiosos no vocal (ao menos para os padrões do Maiden), mas que ficaram bem interessantes. Depois vem um riff com uma levada de bateria quebrada, que parece o cruzamento dum trecho de Paschendale com algo tirado do The X Factor (Judgement of Heaven? The Unbeliever?). A maior parte do solo são na verdade só melodias, sendo que a principal delas lembra bastante um pedaço de When The Wild Wind Blows, e a linha vocal no fim traz The Man Of Sorrows à mente. Não empolgou taaanto.
5) DAYS OF FUTURE PAST: disparada a menos comprida do disco, e na verdade a única faixa que pode ser considerada curta. Tem um riff principal rápido, mas também há espaço para passagens mais lentas. Porém, o maior destaque aqui é Bruce "Air Raid Siren" Dickinson estourando os autofalantes no refrão! Boa música, cativante, sendo, ironicamente, uma que poderia ser mais longa!
6) THE TIME MACHINE: início e final lento, que lembram bastante The Talisman (também do Janick), assim como uma passagem no meio da música que também tem um riff parecido com outro dessa mesma música. Mais pra frente, há uma melodia de guitarra que é praticamente a mesma da ponte da música The Book Of Souls (outra escrita por Gers), apenas mais acelerada, ao mesmo tempo que soa como uma polka (seria influência das raízes polonesas dele? - vide a música Dance Of Death). Não empolgou muito, e provavelmente é a faixa menos boa do álbum.
7) DARKEST HOUR: som do mar e gaivotas dão a deixa para uma "power dark ballad", mas que ao contrário do que falaram algumas resenhas, não parece uma das baladas da carreira solo do Bruce; não há violões, nem temas amorosos na letra. Ocupa o lugar que Journeyman, Out Of The Shadows, Coming Home e Tears Of A Clown tiveram, respectivamente, nos 4 últimos álbuns da banda, mas sem superá-las. Contudo, há belos solos da dupla dinâmica Adrian e Dave, e assim como em The Writing On The Wall, Janick também acompanha o último refrão com pequenos solos.
8) DEATH OF THE CELTS: o baixo acústico, o teclado e a temática da letra realmente fazem desta faixa uma "The Clansman 2" (o que não é ruim, porque a "1" é fantástica). O solo é longo, com umas quebradas no começo que lembram as de To Tame A Land. Tem até "solinhos" de baixo! Naturalmente, há mais melodias que parecem as das danças celtas (e, talvez por consequência, The Clansman), intercaladas com o que quiçá é o conjunto das melhores performances dos três guitarristas neste álbum! Ótima musica!
9) THE PARCHMENT: talvez como fosse de se esperar (por causa do título), "O Pergaminho" é marcada por melodias com influências árabes/egípcias (algo já explorado pelo Maiden e que sempre dá certo - vide músicas como Powerslave, The Nomad e The Pilgrim). Também tem um certo clima de "tensão", o que, claro, combina com heavy metal. Há muitos solos de todos os guitarristas e diversas mudanças de andamento, tornando-a a faixa mais longa do disco. Mais pro final, antes da acelerada cuja base tem um quê da música Brave New World, há um trecho com uma reminiscência de No More Lies. Mas convenhamos: essa fórmula de acabar igual ao começo tá manjada demais, Steve...
10) HELL ON EARTH: mais uma só de Steve Harris, com início lento e baixo marcante... Quebrado por uma virada de bateria que leva a um ritmo galopado. Bruce demooora pra aparecer (são 3 minutos e meio só de introdução!), com mais uma melodia que remete um pouco a When The Wild Wind Blows. Também é outra com vários solos e mudanças de andamento. Final em fade out (fazia tempo que não tínhamos isso!), como se fosse uma despedida... Mas tomara que não seja a última música da carreira do Maiden!!
CONCLUSÕES:
Como todos os últimos discos do Iron Maiden, este é mais um trabalho longo e complexo, que exige várias audições para ser absorvido. Isso pode ter um lado bom e outro ruim, dependendo do ponto de vista.
[an error occurred while processing this directive]A produção está boa, com destaque para o som da voz e da bateria. Ponto para Kevin Shirley, que nem sempre acertou muito a mão.
Novamente, o Maiden peca por cometer diversos autoplágios, e onde isso é mais evidente é em The Time Machine (que tem como principal compositor o mesmo cara que assinou a música com mais autoplágios no disco anterior: Shadows Of The Valley). Mas pelo menos em The Book Of Souls, Gers entregou a faixa-título daquele disco, que para mim, é a melhor música dele - algo que não se repetiu desta vez com Stratego, que considerei apenas "legalzinha".
Tudo bem que depois de mais de 40 anos de carreira e 17 álbuns de estúdio, é difícil a banda evitar esse problema (e nem acho que os trechos "não muito originais" são intencionais), mas talvez eles pudessem usá-los como um filtro, cortando-os para deixar as músicas um pouco mais curtas e diretas. Afinal, isso é algo que, inegavelmente, faz falta - só uma com menos de 5 minutos é sacanagem! O mesmo vale para a já batidíssima e totalmente previsível fórmula de composição da qual Harris usa e abusa desde Fear Of The Dark (1992), com longas introduções lentas e finais iguais ao começo.
A propósito, como se vê, em Senjutsu, praticamente todas essas referências ao que a banda já criou no passado dizem respeito só ao que foi feito dos anos 90 em diante, afastando, assim, semelhanças com muito do que ela já produziu de melhor: os discos dos anos 80, óbvio! Por isso, fãs saudosistas certamente vão torcer o nariz para o novo álbum. Particularmente, em relação a esse ponto, fico meio em cima do muro, porque sim, idolatro os trabalhos mais antigos, mas também curto bastante coisa que saiu depois (amo o The X Factor, por exemplo).
Performances individuais: como já deu para perceber, não achei Janick Gers muito inspirado dessa vez, assim como Dave Murray (que já há muito tempo participa minimamente do processo de composição, e agora não co-escreveu nenhuma faixa - mas ao menos, o bochechudo apresentou um ou outro solo bem bacana). Nicko mandou muito bem, saindo do lugar comum em vários momentos ao inserir elementos que não estamos tão acostumados a escutar no Maiden, além de super requisitar a pele de seu poderoso bumbo simples. O trio que é o pilar da banda (Steve, Bruce e Adrian) dispensa muitos comentários: sempre competentes, muitas vezes virtuosos e, geralmente, criativos.
[an error occurred while processing this directive]O destaque "de cara" é a faixa-título, sendo a única musica que, pelo menos nessas primeiras audições, realmente me deixou "de orelha em pé". Acho que outras "crescerão" em mim com o tempo (aposto principalmente em Death Of The Celts), mas é provável que algumas fiquem meio "esquecidas" - algo que me aconteceu em maior ou menor grau com todos os álbuns do Maiden desde o Dance Of Death.
Impressão final: comparando com os demais discos da "fase sexteto" (acho que a única comparação cabível), não bate o ousado The Book Of Souls, muito menos o sensacional Brave New World. Talvez perca do muito bom A Matter Of Life Death também. Contudo, é claro que nada disso significa que Senjutsu é fraco.
Dificil dar uma nota, mas independente disso, o Iron Maiden continua sendo, na humilde opinião deste resenhista, a única grande banda do mundo a nunca ter lançado um disco realmente ruim: todos têm um padrão de qualidade e trazem no mínimo algumas músicas excelentes! Ademais, só o fato de ainda estarem na ativa e lançando coisas novas - sendo que todos os integrantes têm mais de 60 anos de idade - é motivo pra qualquer fã aplaudir de pé e agradecer aos céus...
... UP THE IRONS!
DISCO 1:
1. Senjutsu (Smith/Harris) - 8:20
2. Stratego (Gers/Harris) - 4:59
3. The Writing On The Wall (Smith/Dickinson) - 6:13
4. Lost In A Lost World (Harris) - 9:31
5. Days Of Future Past (Smith/Dickinson) - 4:03
6. The Time Machine (Gers/Harris) - 7:09
DISCO 2:
1. Darkest Hour (Smith/Dickinson) - 7:20
2. Death Of The Celts (Harris) - 10:20
3. The Parchment (Harris) - 12:39
4. Hell on Earth (Harris) - 11:19
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