Stones: novo disco é um tributo rústico e agradável ao blues
Resenha - Blue & Lonesome - Rolling Stones
Por Igor Miranda
Postado em 06 de dezembro de 2016
Nota: 9 ![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
Geralmente, bandas de rock que decidem gravar canções blues costumam descaracterizá-las. Não sei se é algo natural ou se há a intenção de adaptar (e modificar tanto) músicas que se destacam, justamente, por sua rusticidade.
Não foi o caso dos Rolling Stones. A lendária banda inglesa resolveu prestar tributo aos ídolos do blues em "Blue & Lonesome" - e fez direitinho. O álbum, com 12 canções do gênero, foi gravado em apenas três dias (11, 14 e 15 de dezembro de 2015) em um caráter de jam. Quase tudo soa como se tivesse sido gravado ao vivo, em pouquíssimos takes.
Rolling Stones - Mais Novidades
O cuidado com os timbres é a principal característica musical se destacar em "Blue & Lonesome". Cada textura instrumental parece ter sido escolhida de modo que a pegada fosse 100% vintage. E afirmo com clareza que não é fácil soar tão rústico com tantas tecnologias facilitadoras disponíveis.
A banda em si dispensa comentários, entretanto, há alguns pontos que me chamam a atenção. Um deles é Mick Jagger. Fala-se que Keith Richards é imortal, mas desconfio é que Mick Jagger seja o dono desse posto. O cantor de 73 anos demonstrou fôlego e potência vocal ao longo de todo o registro. Além disso, simplesmente arrebentou em suas passagens na gaita. Deixa trintões no bolso.
O restante do grupo soa afiado. Keith Richards e Ronnie Wood demonstram entrosamento nos arranjos, apesar de eu esperar mais destaque a eles neste disco. O baixista Darryl Jones e o baterista Charlie Watts se entendem bem - e Watts soa incrível tocando blues.
O repertório foi feito com base, especialmente, em clássicos do Chicago blues. Little Walter e Howlin' Wolf foram os mais homenageados, com, respectivamente, quatro e duas canções no setlist. Gostaria de vê-los explorando outras vertentes, como o guitarrístico Texas blues e até o pré-histórico Delta blues, entretanto, entendo que a escolha das canções seja algo pessoal, dos próprios músicos.
A curta "Just Your Fool" (Little Walter) abre o disco com uma gaita classuda. Divertida, mas sem muitas surpresas na releitura. "Commit A Crime" (Howlin' Wolf) destaca o instrumental e parece ter sido gravada em uma jam. Dá para sentir a autenticidade.
Mais arrastada, a faixa que dá nome ao disco (Little Walter) evidencia a capacidade de interpretação de Mick Jagger. De levada gostosa, "All Of Your Love" (Magic Sam) volta a evidenciar a pegada jam do disco. Mick Jagger se mostra inteiraço em quesitos vocais.
A enérgica "I Gotta Go" (Little Walter) é quase um rockabilly e volta a destacar Mick Jagger - agora, na gaita. Com Eric Clapton na slide guitar, "Everybody Knows About My Good Thing" (Little Johnny Taylor) diminui os ânimos em uma pegada levemente soul. Enfim, há (ótimos) solos de guitarra. E, curiosamente, a partir daqui, a produção está melhor, com uma sonoridade mais aberta.
Mais animada, "Ride 'Em On Down" (Eddie Taylor) não foi escolhida à toa como o segundo single: é de fácil assimilação e gostosa de ser ouvida. "Hate To See You Go" (Little Walter) retoma a pegada rústica notável na primeira metade do disco, com gaita na linha de frente e cozinha tímida.
"Hoo Doo Blues" (Lightnin' Slim) traz as guitarras em uma pegada totalmente jam. Cheira a mofo - o que é ótimo em um registro do tipo. A lenta "Little Rain" (Jimmy Reed) cativa, especialmente, pelo seu início guiado apenas por voz e guitarras. O solo de gaita ao fim também é de arrepiar.
O híbrido blues/rockabilly "Just Like I Treat You" (Howlin' Wolf) aposta no básico e convence de primeira. O encerramento com "I Can't Quit You Baby" (Otis Rush) é o momento de destaque do álbum. Mick Jagger brilha em sua interpretação e as guitarras de Keith Richards e Ronnie Wood se entrelaçam perfeitamente com a do convidado Eric Clapton.
No geral, "Blue & Lonesome" é um disco divertido e despretensioso, apesar de notáveis cuidados com timbragens. Em alguns momentos, poderiam, sim, ter sido mais inventivos, entretanto, creio que isso descaracterizaria a ideia que a banda teve neste disco.
O álbum, definitivamente, não mostra a aura de superbanda que os Rolling Stones adotaram em seus lançamentos das últimas décadas - o que, para mim, é fantástico. As origens blues dos Stones, enfim, voltaram a ser escancaradas em um disco deles. E eu gosto disso.
Mick Jagger (vocais, harmônica)
Keith Richards (guitarra)
Ronnie Wood (guitarra)
Charlie Watts (bateria)
Músicos adicionais:
Darryl Jones (baixo)
Eric Clapton (slide guitar em 6 e guitarra em 12)
Matt Clifford (teclados)
Chuck Leavell (teclados)
Jim Keltner (percussão)
01. Just Your Fool (Little Walter)
02. Commit A Crime (Howlin’ Wolf)
03. Blue and Lonesome (Little Walter)
04. All of Your Love (Magic Sam)
05. I Gotta Go (Little Walter)
06. Everybody Knows About My Good Thing (Little Johnny Taylor)
07. Ride ‘Em On Down (Eddie Taylor)
08. Hate to See You Go (Little Walter)
09. Hoo Doo Blues (Lightnin’ Slim)
10. Little Rain (Jimmy Reed)
11. Just Like I Treat You (Howlin’ Wolf)
12. I Can’t Quit You Baby (Otis Rush)
Veja também:
Comente: O que achou do disco?
Outras resenhas de Blue & Lonesome - Rolling Stones
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



Divulgados os valores dos ingressos para o Monsters of Rock 2026
Não é "Stairway" o hino que define o "Led Zeppelin IV", segundo Robert Plant
A banda que serviu de inspiração para o Eagles: "Até os Beatles curtiam o som deles"
Aos 74 anos, David Coverdale anuncia aposentadoria e diz que "é hora de encerrar"
Por que o Kid Abelha não deve voltar como os Titãs, segundo Paula Toller
A capa do Iron Maiden que traz nove bandeiras de países envolvidos na Guerra Fria
Quem são os músicos que estão na formação do AC/DC que vem ao Brasil
O pior disco de cada banda do Big Four do thrash, segundo Mateus Ribeiro
Show do AC/DC na Austrália é registrado por sismógrafo
Halestorm é anunciada como atração do Monsters of Rock 2026
Ronnie James Dio não era o maior fã do Black Sabbath, admite Wendy Dio
A melhor gravação de bateria de todos os tempos, segundo Phil Collins
O clássico absoluto do heavy metal que salvou a carreira do Megadeth
Dave Mustaine acha que último disco do Megadeth é o melhor da banda em décadas
As 5 melhores músicas de progressivo com menos de 3 minutos, segundo a Loudwire
O rockstar rejeitado pela Rainha Elizabeth II que foi condecorado, mas não por ela
Metal Brasileiro: 10 bandas recomendáveis fora o Sepultura
A sugestão de Cazuza que Leoni driblou para tornar "Exagerado" maior hit de sua carreira

Keith Richards relembra o dia que Jeff Beck (quase) entrou para os Rolling Stones
6 artistas que regravaram músicas que escreveram, mas originalmente foram registradas por outros
O cantor "pretensioso" com quem Mick Jagger disse que jamais soaria parecido
Os álbuns dos Rolling Stones que Mick Jagger detesta: "Nem na época eu achei bom"
O único frontman que Charlie Watts achava melhor que Mick Jagger
O megahit dos Beatles que Mick Jagger acha bobo: "Ele dizia que Stones não fariam"
As duas lendas do rock contracultural que Keith Richards considera "músicos puros"
A maior cantora de todos os tempos, segundo Keith Richards; "não tem só a ver com cantar"
O apelido que John Lennon dava aos Rolling Stones quando sentia raiva da banda
A melhor cantora de todos os tempos, segundo Keith Richards do Rolling Stones
Os 50 anos de "Journey To The Centre of The Earth", de Rick Wakeman



