Black Sabbath: na Discoteca Básica Bizz por André Barcinski
Resenha - Black Sabbath - Black Sabbath
Por Ricardo Seelig
Fonte: Collectors Room
Postado em 16 de novembro de 2016
Texto escrito por André Barcinski e publicado na Bizz #070, de maio de 1991.
O texto abaixo foi publicado na ediçãp #70 da revista Bizz, que chegou às bancas em maio de 1991, e fazia parte da seção Discoteca Básica, onde os colaboradores da revista discorriam sobre álbuns fundamentais para a história do rock. Contextualizando no tempo e espaço, naquela época vivíamos uma onda de reconhecimento crítico em relação ao Black Sabbath, devido à influência da banda na então muito popular cena grunge.
Abaixo está o texto do jornalista André Barcinski na íntegra:
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No início de 1970, um então desconhecido quarteto da cidade inglesa de Birmingham chocaria a Europa ao gravar um álbum que ultrapassava todas as fronteiras da brutalidade sonora que eram conhecidas até então.
Muitas bandas já tocavam alto na época: The Who, Cream, Deep Purple, Led Zeppelin e o pré-punk de Detroit (The Stooges e MC5). O heavy do Black Sabbath, no entanto, era diferente - mórbido, cruel, demoníaco. Enquanto o psicodelismo dos hippies ainda ecoava por todo o mundo e o rock progressivo passava por seu período mais promissor, o vocalista Ozzy Osbourne declarava: "Nossa música é uma reação a toda essa babaquice de paz, amor e felicidade. Os hippies ficam tentando te convencer de que o mundo é uma maravilha, mas é só olhar ao redor para ver a merda em que nós estamos".
Ozzy tinha todas as razões para reclamar da vida: teve uma infância pobre e passou boa parte de sua adolescência trancado nas cadeias de Aston, o bairro miserável de sua cidade natal. Em 1967 resolveu montar um grupo com o guitarrista Tony Iommi, o baixista Terry "Geezer" Butler e o baterista Bill Ward, começando a tocar no circuito de bares por cachês irrisórios. Como resultado direto de suas frustrações e problemas financeiros, viram seu som se tornar mais sujo e agressivo a cada dia.
"Black Sabbath", o álbum de estreia do grupo - lançado numa sexta-feira, 13 de fevereiro -, foi a válvula de escape de toda essa revolta acumulada ao longo de três anos de estrada. A violência condensada em vinil. Da abertura da faixa-título, com o som de chuva e sinos, até a última nota de "Warning", tínhamos um festival de acordes tonitruantes, vocais ensandecidos e ritmo pulsante. Os temas abordados - missas negras, encontros com Lúcifer e predições catastróficas - eram frutos, principalmente, da leitura exaustiva das obras do inglês Dennis Wheatley.
Três músicas deste LP, ao menos, ficariam marcadas para sempre na história do heavy: a já citada "Black Sabbath", "The Wizard" e "N.I.B.". Junto a "Behind the Walls of Sleep" (inspirada num livro de H.P. Lovecraft), "Evil Woman", "Sleeping Village", "Warning" e, em algumas edições, a faixa extra "Wicked World" (lançada no mês anterior como o primeiro compacto da banda), formam um álbum fundamental e precursor do que se viria a fazer em termos de rock pesado.
Com sua sonoridade única, o heavy do Black Sabbath não nasceu de nenhum desdobramento de outro gênero, mas surgiu num rompante de ousadia de quatro músicos moldados pelas dificuldades e pela revolta contra o establishment "bicho grilo". Enquanto o rock progressivo promovia viagens por paisagens idílicas, o Black Sabbath oferecia uma passagem sem volta ao inferno. Nesse contexto, a banda viveria momentos de glória até 1975, com o lançamento de seu sexto LP, "Sabotage". Depois entrou em lento processo de decadência, movido por batalhas egocêntricas.
No entanto, o grupo permanece como um dos mais subestimados de todos os tempos. É bem verdade que o heavy metal tem uma incrível facilidade em gerar mediocridades, dando farta munição para os detratores de gênero. Mas é inadmissível que a importância de Black Sabbath ainda seja posta em dúvida no momento em que algumas das mais conceituadas bandas da atualidade - como o Faith No More e o Soundgarden - se declaram tão influenciadas por seu som.
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