Tangerine Dream: Não deixe de conferir mas em doses homeopáticas
Resenha - Force Majeure - Tangerine Dream
Por Giales Pontes
Postado em 22 de dezembro de 2014
Nota: 9
Aqui lhes trago ‘Force Majeure’(1979), o segundo título da série de três álbuns do grupo Tangerine Dream que decidi resenhar. Série essa iniciada com o transcendental ‘Stratosfear’(1976). Como não poderia deixar de ser, esta obra também traz aquela sonoridade viajante tão típica deste trio alemão. A diferença primordial é que enquanto em ‘Stratosfear’ tínhamos uma aura mais suave e ao mesmo tempo menos acessível, neste ‘Force Majeure’, tudo soa mais "amigável", mais familiar por assim dizer.
Claro que a introdução com o início da faixa-título trazendo um clima sombrio criado pelos sintetizadores, que vez ou outra é perturbado pelo som de assobios eletrônicos, pode dar uma idéia de que este trabalho resume-se praticamente em uma cópia dos anteriores. Mas a coisa não é tão simples assim. Após a introdução mais "fria", surgem belíssimas cordas construindo um clima grandioso, deixando uma aura de magia no ar.
Ao final das duas primeiras suítes com os synths e sequenciadores de Froese e Franke, que compreende os quatro minutos iniciais, uma bela incursão de piano dá início ao terceiro movimento da peça. E vejam só, surge até mesmo uma bateria(executada por Klaus Krieger), que passa a conduzir a música. Aqui temos uma invasão das linhas de sintetizador utilizando timbre de guitarra, e também a guitarra propriamente dita, com uma chuva de melodias harmonizando-se maravilhosamente. O andamento muda lá pelos 7:30, e adota uma linha que lembra algo de Pink Floyd e EL&P, com belíssimos solos dos teclados. Perto dos 10:00, um sequenciador invade os alto falantes com o som de uma maria-fumaça a todo vapor "passando" bem a nossa frente. Os VCS-3 de Franke e Froese mergulham o ouvinte em um ambiente assolado por ventos assobiando nas montanhas, para em seguida surgir uma lindíssima passagem melódica progressiva que tem seu auge emotivo aos 14 minutos.
Aos 16 temos um novo movimento, onde os sintetizadores nos brindam com melodias eletrônicas que resultam em uma jubilosa e empolgante sonoridade. O ‘Grand Finale’ é sereno e misterioso, como se fosse um "To Be Continue" para o próximo capítulo que está por vir.
Os acordes quase pop do violão que introduz ‘Cloudbusrt Flight’, certamente ajudou a tornar esta uma das canções mais conhecidas da banda! O mesmo violão ganha energia aos 2:00, com a adição também das diversas camadas e melodias dos sintetizadores. A bateria dá as caras novamente e conduz a sessão rítmica. Depois que a banda "fixa" a base sonora no ouvinte por alguns segundos, temos a invasão de solos de teclado e guitarra disputando a atenção da audiência. Nesse ponto caso alguém tenha lembranças de Dream Theater ou Pain Of Salvation, saibam que nenhuma banda pós-EL&P e Deep Purple escapou da influência desses britânicos.
Na parte dos duelos entre guitarra e sintetizadores, a importância do Purple e do EL&P foi até mais decisiva do que a do Floyd na história da música progressiva. E com o Tangerine não foi diferente, já que eles trazem essa influência muito clara em seu trabalho. Principalmente os que gravaram entre 1975 e 1980. Aos 5:30 temos a volta da calmaria com um movimento sublime, em uma sonoridade refinada que viria a ser muito utilizada na música pop dos anos oitenta.
Um sequenciador executando uma passagem percussivo-eletrônica disforme e perturbadora, prepara o ouvinte para os principais movimentos de ‘Thru Metamorphic Rock’. A "cama melódica" dos teclados ameaça adentrar, mas adota o movimento de vai-e-volta, e o que surge são intervenções de trombetas como de uma cavalaria de guerra. E o que passa a conduzir a música é um estranho e distorcido ruído em tom repetitivo. As melodias grandiosas executadas ao fundo por Moogs, ensaiam uma entrada, mas enganam o ouvinte mais uma vez, sumindo no vácuo sonoro. E o que permanece mesmo é a insistência rítmica dos ruídos robóticos, temperados aqui e ali por algumas bases mais melódicas. E finalmente a peça tem seu desfecho com a mesma seção percussivo-eletrônica disforme que lhe deu início 9 minutos antes.
Apesar do panorama similar a ‘Stratosfear’, pode-se dizer sem medo de errar que este ‘Force Majeure’ é realmente mais "assimilável". Quer dizer que é possível que ele agrade de primeira até mesmo quem não é muito fã de "viagens" musicais, e acho que ‘Cloudburst Flight’ é emblemática nesse sentido. Enfim, mais uma obra de vanguarda e que certamente inspirou toda uma geração de tecladistas pelo mundo. Ouça em doses homeopáticas, mas não deixe de conferir.
Line -up:
Edgar Froese (Sintetizadores/Sequenciadores/Guitarra)
Christopher Franke (Sintetizadores/Sequenciadores/VCS-3)
Klaus Krieger (Bateria/Percussão)
Track-list:
1 . Force Majeure
2 . Cloudburst Flight
3 . Thru Metamorphic Rocks
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