Elvenking - O capítulo final de uma saga mágica e coesa
Resenha - Readers Of The Runes; Luna - Elvenking
Por André Luiz Paiz
Postado em 17 de agosto de 2025
Imagine-se caminhando por uma floresta ancestral, sob uma lua cheia que ilumina ruínas antigas gravadas com runas esquecidas. É nesse cenário — místico, etéreo e carregado de simbolismos — que o Elvenking nos convida a embarcar na última parte da trilogia Reader of the Runes, encerrada de forma grandiosa com Luna.


Formada em 1997, na Itália, a banda sempre transitou com maestria entre o folk metal e o power metal, sem nunca se acanhar em flertar com elementos do heavy tradicional, do metal melódico e até de pitadas discretas de pop ou música celta. Não é à toa que conquistaram uma base de fãs extremamente fiel no Brasil — país que, aliás, os acolhe com enorme carinho em cada lançamento e turnê. O que move essa legião? A resposta é simples: honestidade. Elvenking nunca foi uma banda que tentou agradar o mainstream. Eles são, e sempre foram, fiéis à própria essência.
A trilogia e sua jornada
O projeto Reader of the Runes começou em 2019, com Divination, álbum que apresentou um universo próprio, povoado por personagens, arquétipos e lendas. Musicalmente, Divination trouxe aquele Elvenking mais luminoso, quase cerimonial, com músicas que transitavam entre a exaltação e o mistério.

Em 2023 veio Rapture, o segundo ato — mais sombrio, pesado e introspectivo. Foi aqui que a banda abraçou de vez uma faceta mais agressiva, sem perder o lado melódico, mas adicionando camadas de melancolia e peso.
Agora, com Luna, chegamos ao desfecho. E que desfecho. A obra mantém a densidade emocional de Rapture, mas recupera muito da energia épica e da exuberância de Divination, resultando em um equilíbrio que, honestamente, faz deste o mais coeso dos três álbuns.
A sonoridade da lua
O disco abre com a explosiva "Season of the Owl", uma faixa que é quase um manifesto: riffs poderosos, violino em frenesi, bateria acelerada e vocais grandiosos. A estrutura da música é complexa, cheia de mudanças de andamento, mas nunca perde o fio da meada — algo que poucos fazem tão bem quanto o Elvenking.

Na sequência, a faixa-título "Luna" entrega aquele power-folk feito sob medida para palcos de festivais: rápida, direta e com um refrão pegajoso que gruda na cabeça. A seguir, "Gone Epoch" surge como uma das joias do álbum. É cativante, melódica, rica em camadas — e com um dos trabalhos de violino mais inspirados de Lethien até hoje, além de surpreender ao incorporar discretamente gaitas e instrumentos tradicionais.
"Stormcarrier" eleva o nível de agressividade, com participações vocais guturais que acrescentam textura e peso, sem descaracterizar a proposta. A presença de Mathias "Vreth" Lillmåns (Finntroll) deixa clara essa intenção de dialogar com o folk mais extremo, e o resultado é simplesmente devastador.

"Starbath" traz uma construção épica, com atmosfera crescente, enquanto "On These Haunted Shores" e "The Ghosting" mergulham no lado mais sombrio e melancólico da banda, ecoando os momentos mais densos de Rapture — sem abrir mão dos elementos folk que fazem tudo soar familiar, ainda que renovado.
O álbum entra na reta final com a visceral "Throes of Atonement", que funciona como uma ponte emocional para "The Weeping" — faixa carregada de sentimento, quase uma balada épica, que prepara o terreno para o grand finale.
E aqui chegamos a "Reader of the Runes – Book II". São quase 11 minutos de pura alquimia sonora. É como se a banda condensasse tudo o que representa — folk, power, heavy, passagens sinfônicas, blast beats inesperados, violinos dramáticos, riffs cortantes e refrãos épicos. Há quem veja aqui ecos de Rime of the Ancient Mariner (Iron Maiden) ou And Then There Was Silence (Blind Guardian). E, acredite, a comparação não é exagerada.

Conclusão — um final digno dos deuses da floresta
Reader of the Runes – Luna é um disco que confirma o que os fãs do Elvenking sempre souberam: essa banda não segue tendências, não busca atalhos, não se dobra ao mercado. Eles fazem música por paixão, por crença, e entregam uma obra que não só amarra com excelência a trilogia, como também reafirma seu lugar entre os grandes nomes do folk/power metal contemporâneo.
Se no passado alguns críticos enxergavam a mistura de estilos do Elvenking como "caótica" ou "excessiva", hoje é impossível não reconhecer que justamente essa capacidade de transcender rótulos é o que os torna tão únicos.
Para os fãs brasileiros — que sempre tiveram papel fundamental no apoio à banda —, este álbum é quase uma recompensa: poderoso, emotivo, dançante, pesado, épico e, acima de tudo, autêntico.

Ergam suas taças, acendam suas fogueiras e celebrem. As runas foram lidas, os segredos revelados. A jornada chega ao fim — e que jornada gloriosa foi essa.
Para os colecionadores, Luna está disponível no Brasil através da Shinigami Records.
Tracklist:
1. Season of the Owl 05:19
2. Luna 03:07
3. Gone Epoch 04:57
4. Stormcarrier 04:52
5. Starbath 04:37
6. On These Haunted Shores 05:04
7. The Ghosting 04:32
8. Throes of Atonement 05:08
9. The Weeping 06:07
10. Reader of the Runes - Book II 10:59

Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps