Kiss: banda ainda é capaz de agradar a novos ouvintes
Resenha - Kiss - Kiss
Por Marco Dias
Postado em 28 de janeiro de 2013
Nota: 9
Fazer uma análise quase 4 décadas depois do lançamento de uma obra é muito mais fácil, afinal, o tempo já se encarregou de dizer quais músicas se tornaram clássicas.
Por outro lado, há detalhes que o tempo sozinho não é capaz de explicar...
Paul Stanley e Gene Simmons, fundadores da banda, sempre se declararam fãs de grupos como The Beatles e Led Zeppelin. E essa mistura do som simples, porém, contagiante do primeiro com o rock n' roll visceral do segundo é o que norteia o KISS nos primórdios.
O trabalho já começa com uma quina de respeito: 4 clássicos puramente "kissianos" e uma faixa igualmente "kissiana" mas que não se tornou clássica - pelo menos aos olhos dos fãs "normais" da banda, pois para os fãs mais ferrenhos "Let Me Know" é uma grande injustiçada. Calcada em The Beatles, ao ouví-la pela primeira vez pode parecer uma música simples e fraca. No entanto, com mais algumas audições, você já sai sacolejando o esqueleto e cantando junto. Feeling total! Às vezes captar o feeling de uma canção leva certo tempo. Quem nunca deixou uma música meio de lado, esquecida, e só foi notar a sua qualidade tempos depois?
"Strutter", a faixa de abertura, provavelmente é a mais conhecida do disco, estando presente em jogos como Guitar Hero, inclusive. O KISS já nasceu mostrando ao mundo o tipo de som que iria fazer ao longo desses 40 anos de estrada. Uma faixa alegre, pra cima, com riffs certeiros, ritmo contagiante, solo inspirado e um grande vocal de Stanley - esses são os principais ingredientes do som característico da banda.
"Nothin' To Lose" segue a mesma linha de som característico do KISS, com a pequena alteração de que os vocais são divididos entre Gene e Criss. A letra aborda o tema preferido do baixista linguarudo: sexo (e essa nem duplo sentido tem, é direta ao ponto - ok, péssima piada, reconheço). Outra com uma levada contagiante, contando com os ótimos licks de guitarra de Frehley, solo e vocais.
"Firehouse" é, na opinião deste que vos escreve, a menos inspirada destas 4 faixas clássicas que abrem o disco. Tem igualmente um bom riff, vocais precisos, bom andamento, mas não me empolga. Parece que falta algo. Mas foi/é presença constante nos setlists (embora, a meu ver, isso se deve ao fato da canção ser um tema perfeito para a cuspida de fogo de Simmons - dividindo a honra com a também clássica (e excelente) "Hotter Than Hell" do álbum seguinte).
"Cold Gin" é de autoria de Ace Frehley que, não se sentido confortável em cantá-la, transferiu os vocais a Gene Simmons. Isso em nada prejudicou o resultado final, pois Gene fez a interpretação que a música pedia. Parece até que ele canta depois de "encher a cara" - como sabemos Simmons não bebe, diferentemente de Frehley. Com um andamento mais cadenciado, apresenta, ainda, um riff forte e um solo inspirado.
A regravação (há quem use o termo cover) de "Kissin' Time" e a faixa "Love Theme From Kiss" - esta última um instrumental "calminho" - são as responsáveis pelas polêmicas do álbum. Mesmo sendo o meu disco preferido da banda, reconheço que ele seria melhor (talvez até mais lembrado como um dos melhores da história do rock) se não tivesse essas duas canções. E olha que elas não são tão ruins assim, mas perto das outras 8 faixas não representam nada. A introdução destas se torna ainda mais inexplicável quando nos damos conta que, na época, a banda já contava com composições do calibre de "Goin' Blind" e "Let Me Go, Rock n' Roll" - remanescentes da primeira banda de Paul Stanley e Gene Simmons, o Wicked Lester, que entraram apenas no segundo disco do KISS. Só mesmo por imposição da gravadora (fato que é confirmado ao menos em relação à "Kissin' Time") se justifica a escolha destas músicas tão destoantes em detrimento dessas duas infinitamente melhores. Se contasse com as faixas preteridas (ou somente com 8 mesmo), este álbum teria tudo para ser uma obra-prima em sua definição máxima, na minha modesta opinião.
"Deuce" deve ser a 2ª canção mais conhecida do disco. Quase sempre presente nos setlists, temos aqui mais riffs grudentos (com direito a coreografia ao vivo) e um dos solos mais marcantes de Ace Frehley na opinião de muitos. Clássica! Interessante notar que desde sempre as composições do KISS falam, predominantemente, de rock n' roll, festas e mulheres (aliás, esses sempre foram os temas mais frequentes no hard rock em geral). Mas enquanto Stanley tem um viés, eu diria, mais "romântico" ao falar das mulheres, Gene quase sempre as coloca como objeto, sendo o lado dominador da coisa, machista mesmo. A maioria de suas letras diz, basicamente, que as mulheres devem servir aos homens, seja da maneira que for. É o que encontramos em "Deuce".
"100,000 Years" é uma daquelas músicas que eu costumo chamar de "surpresas do KISS". Embora tenha um som muito peculiar e de fácil identificação, a banda, vira e mexe, foge um pouco da sua linha tradicional. Costuma acertar algumas vezes e errar em outras. Nesta, acertou em cheio! Sua sonoridade não tem muito a ver com a "atmosfera" do disco, no entanto, sua letra, riff, vocal, baixo, bateria, guitarra e solo se encaixam perfeitamente. Tudo é harmonioso e contagiante! Excelente do início ao fim! Na verdade ela é até simples, mas o "clima criado" a torna grande (como muitos dos maiores clássicos do rock).
E por fim, "Black Diamond" encerra o trabalho em grande estilo! Trata-se de um genuíno exemplo de "Rock de Arena", feita para ser entoada por todos em estádios lotados - tanto que sua versão considerada "definitiva" é a do Alive! Autor da faixa, Paul canta apenas a introdução, dali em diante Peter Criss assume e não decepciona. As contribuições vocais de Criss sempre compensaram um pouco a sua "simplicidade" nas baquetas. Frehley detona num solo inspiradíssimo. Nem o final estendido, um pouco maçante, possivelmente para aumentar a duração do disco tira o brilho da música.
Este álbum só teve boas vendagens após o sucesso de Alive! (ao vivo duplo, que já vendeu 22 milhões de cópias no mundo todo e que transformou o KISS em mega-banda!). Dizem que o KISS sempre fez músicas para serem tocadas ao vivo (7 das 10 faixas estão em Alive!). Concordo em partes. Creio que existem detalhes nas canções que só percebemos nas gravações em estúdio. E não há show ao vivo que se sustente sem música de qualidade. E música de qualidade é o que não falta neste primeiro trabalho dos 4 mascarados de Nova York.
Você já deve ter ouvido: Strutter
Música predileta do autor: 100,000 Years
Destaque que (quase) ninguém conhece: Let Me Know
Músicas essenciais na discografia da banda: 100,000 Years / Black Diamond
Track-list
01) Strutter *****
02) Nothin' To Lose *****
03) Firehouse ****
04) Cold Gin *****
05) Let Me Know *****
06) Kissin' Time **
07) Deuce *****
08) Love Theme From Kiss ***
09) 100,000 Years *****
10) Black Diamond *****
Line-up
Paul Stanley - vocal e guitarra rítmica
Gene Simmons - vocal e baixo
Ace Frehley - guitarra solo
Peter Criss - vocal e bateria
Músicos externos
Bruce Foster - piano em "Nothin' To Lose
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