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Psychotic Eyes: Rompendo fronteiras com "I Only Smile..."

Resenha - I Only Smile Behind The Mask - Psychotic Eyes

Por Luiz Carlos Barata Cichetto
Postado em 24 de maio de 2012

Transformar em arte a atual caótica sociedade parece ser a proposta básica das bandas de Metal, principalmente dentro dos subgêneros mais extremos, como o "Death". Então, temas como o medo, o terror, a corrupção, a desigualdade social, a morte, entre outras, tomam a forma de músicas cruas, geralmente com harmonias muitas vezes pseudo intelectualizadas, mas que disfarçam e mascaram um desejo, não de mudar esse estado de coisas, mas sim, usá-los em proveito próprio.

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Mas não é absolutamente o caso da Psychotic Eyes, banda criada em 1999 por Dimitri Brandi (Vocal e Guitarra), Alexandre Tamarossi (Bateria), Valdemar Ferrari (Guitarras) e Leandro Araújo (Baixo). Desde a época de sua formação, a banda sempre buscou algo inovador e sólido, com bases musicais que começam na complexa base do Rock Progressivo, passam pela apurada técnica inerente ao Jazz e acrescem o ritmo da música brasileira. O resultado é um Death/Thrash Metal com uma qualidade acima da média, principalmente se nesse resultado isolemos apenas as bandas criadas dentro do território brasileiro, mas mesmo que extrapolemos nossas fronteiras, ainda assim é um trabalho extremamente criativo e inovador dentro do cenário não apenas do Metal, como do Rock e da música da atualidade.

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Mesmo fazendo uso em alguns clichês do gênero, como o vocal gutural e a bateria soando como um bate estaca em alguns momentos, a Psychotic Eyes consegue estar acima deles. Bem acima, aliás. E o diferencial dessa banda começa no texto de seu release, muito bem escrito e deixando bem claras as intenções e potencialidades dos músicos e demais envolvidos no projeto. "Disse o poeta: o Death Metal é a aquarela em preto e branco mais completa para transformar em arte todos os 'predicados' da sociedade contemporânea". Uma definição ortodoxa do gênero ao qual a banda embora pertença claramente, não permite que seja usada como amarra criativa, armadilha perigosa que muitos artistas sempre caem.

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Atitude correta, decerto, bem como a de estabelecer como característica própria o flerte com a literatura, transformando a cultura adquirida pelos integrantes numa riquíssima sopa cultural. A literatura marca presença na logo na faixa de abertura. "Throwing Into Chaos" cuja letra foi escrita pelo poeta Adriano Villa, responsável pelas letras do renomado projeto "Hamlet".

Já a segunda música, "Welcome Fatality", é brutal e visceral, com marcas características do Death Metal, mas com uma linha de bateria que demonstra uma habilidade e técnica acima da média, além de algo que me chamou bastante a atenção, com o vocal em si, oscilando entre aquele gutural característico com uma voz mais "normal" e com as frases declamadas no final em português, e que terminam com "Percebo com clareza que a maldade é o anverso da esperança". Versos magníficos, mas que acabam por me colocar dentro daquela eterna pergunta, que até agora não obtive uma resposta satisfatória: porque as bandas brasileiras não cantam em português?

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Em seguida, "Dying Grief", em que, segundo o release, o vocalista Dimitri narra os sentimentos quando da morte do pai. Agora a faixa "Life" é realmente a primeira grande surpresa do álbum, pois é quase uma balada que fala sobre amores perdidos... Algo que poderia parecer inusitado a qualquer banda do estilo, mas que vem de encontro à proposta da Psychotic Eyes, de buscar algo além das fronteiras, além do que ficar presos a um estilo fechado.

Um outro excelente destaque de "Only Smile Behind the Mask" é "The Humachine" que tem letra baseada no livro "O Diabólico Cérebro Eletrônico" do escritor americano David Gerrold, que entre outras coisa escreveu roteiros para "Jornada nas Estrelas", e marca a participação do mestre em artes, artista multimídia e pesquisador Edgar Franco que adicionou diálogos pós-humanos à faixa, que é com certeza a melhor e a mais bem produzida do disco. Algo para se escutar, duas, três vezes, captando todas as nuances e emoções sugeridas.

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Mas é claro que uma banda surpreendente e ousada guardaria algo ainda mais ousado e surpreendente para o final. "The Girl", um épico, que é segundo Dimitri é uma "desconstrução do clássico de Chico Buarque, "Geni e o Zepelim", contando a mesma história de uma forma totalmente diferente. Aliás, a "versão" de Chico Buarque também se pode dizer que era também uma "desconstução", pois foi baseada num conto do escritor francês Guy de Maupassant chamado "Bola de Sebo". Então, até mesmo esse fato, que provavelmente era de conhecimento deles, acaba por fazer da música uma desconstrução de uma desconstrução sobre a qual o próprio escritor francês poderia escrever uma outra desconstrução, acaso ainda vivesse.

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E como o "produto" de um artista não se encerra nele próprio, mas nos fatos e atitudes que o geraram e que dele foram gerados, além também de que não adianta uma artista produzir uma obra prima e deixar guardada no porão, " I Only Smile Behind The Mask" foi lançado apenas virtualmente e pode ser baixado integralmente e gratuitamente através dos endereços da banda na Internet "fica ao fã a decisão de pagar ou não pela música", informa a área de "download" do site oficial. Uma atitude corretíssima em tempos em que todos lamentam a diminuição de ganhos, mas poucos se dispõem a criar alternativas criativas que rompam as barreiras das formas tradicionais de sustentação.

Aliás, quero finalizar este texto, justamente com um gancho de Star Trek, já que citamos David Gerrold e sintetizar numa reconstrução da frase da própria Psychotic Eyes, "arte não tem fronteiras, muito menos econômicas."

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E antes que algum "Metal" radical esperneie e estrebuche, afirmando que eu não entendo de Metal, e aqueles discursos radicais inerentes: escutem "I Only Smile Behind The Mask" do Psychotic Eyes e aprendam de uma vez por todas que qualquer tipo de criação precisa de liberdade para transformar e se transformar. E crescer.

I Only Smile Behind The Mask
Psychotic Eyes
2011

Faixas:
1- Throwing Into Chaos
2- Welcome Fatality
3- Dying Grief
4- Life
5- I Only Smile Behind The Mask
6- The Humachine
7- The Girl

Músicos:
Dimitri Brandi (Vocal/Guitarra)
Alexandre Tamarossi (Bateria)
Douglas Gatuso (Baixo)

Discografia:
Psychotic Eyes (2007)
I Only Smile Behind The Mask

Internet:
www.psychoticeyes.com (Site Oficial)

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Sobre Luiz Carlos Barata Cichetto

Sou Barata, nascido Luiz Carlos, no dia do Anti-Natal, do ano da Graça do nascimento de Madonna, Michael Jackson, Bruce Dickinson, Cazuza e Tim Burton. Sou poeta, escritor, produtor e apresentador de Webradio, produtor de eventos e procuro pagar as contas trabalhando com criação de sites. Crescí escutando Beatles, Black Sabbath, Pink Floyd e Led Zeppelin. Participei da geração mimeógrafo nos anos 1970, mas quando chegaram os filhos, deixei de ser poeta e fui tentar ser homem, o que no entender de Bukowiski é bem mais difícil. Escrevo poemas desde que comecei a criar pêlos.... nas mãos. Trabalhei como office-boy, bancário, projetista de brinquedos e analista de qualidade. No final do século XX, acordei certo dia de sonhos intranquilos e, transformado em um ser kafkiano, criei um projeto cultural na Internet nos moldes dos antigos panfletos mimeográficos. Mesmo antes de meu processo de metamorfose, nunca deixei de cometer poemas, contos e crônicas. E embora tenha passado dos três dígitos o numero de textos escritos, nunca ganhei um prêmio literário. Fui apaixonado por Varda de Perdidos no Espaço, Janis Joplin, Grace Slick e Sonja Kristina; casei quatro vezes e tenho dois filhos, Raul e Ian. Atualmente sou também editor, costureiro e colador de livros, num projeto de editora artesanal.
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