Metallica: em 1983, quatro garotos repletos de energia
Resenha - Kill 'Em All - Metallica
Por Ricardo Seelig
Fonte: Collector's Room
Postado em 26 de janeiro de 2010
25 de julho de 1983. Foi nesta data que o primeiro álbum do Metallica chegou às lojas norte-americanas, com uma tiragem inicial de apenas 1.500 cópias. Na época, o quarteto era formado por James Hetfield (vocal e guitarra), Kirk Hammett (guitarra), Cliff Burton (baixo) e Lars Ulrich (bateria), todos garotos cabeludos e repletos de espinhas recém entrando na casa dos vinte anos.
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Sedentos e repletos de energia, os quatro gravaram o disco em apenas duas semanas, no período entre 10 e 27 de maio de 1983. O que se ouve em "Kill´Em All" é um som agressivo e rápido, que ao mesmo tempo em que bebe em fontes mais agressivas como Motorhead e Venom, é também bastante influenciado por grupos oriundos da New Wave of British Heavy Metal, como Diamond Head e Iron Maiden.
Lançado pela então também iniciante gravadora Megaforce, o trabalho inicialmente teria o título de "Metal Up Your Ass", com a capa mostrando um vaso sanitário de onde emergia uma mão segurando uma adaga, mas a gravadora considerou ambos - título e arte da capa - muito agressivos, e conseguiu convencer o grupo a batizar o play como "Kill´Em All" e embalá-lo em uma capa mais branda - mas nem tanto, já que a clássica imagem do martelo repleto de sangue caiu como uma bomba nas lojas mais tradicionais dos EUA, encontrando certa resistência de alguns lojistas.
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"Kill´Em All" conta com uma produção crua, a cargo da dupla Paul Curcio e Jon Zazula, mas que agradou em cheio os ouvidos dos headbangers da época, e até hoje continua conquistando novos fãs para o Metallica. As guitarras soam ásperas, o que torna os riffs de faixas como "The Four Horsemen", "Phantom Lord" e "No Remorse" ainda mais agressivos.
Ainda um garoto, James Hetfield apresenta no disco um vocal mais agudo e gritado daquele que nos acostumamos a ouvir com o passar dos anos. Lars Ulrich toca com rapidez e segurança, encaixando viradas precisas e criativas nas composições. Kirk Hammett toca como se conhecesse Hetfield de outras vidas, dando corpo para seus riffs e mostrando em seus solos todo o talento que o levaria a ser considerado um dos maiores guitarristas da história do heavy metal. E Cliff Burton, o melhor instrumentista do grupo, eleva a atividade de baixista a um novo patamar, esbanjando técnica e criatividade, o que levou alguns críticos da época a classificarem o seu modo de tocar como "lead bass".
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Entre as dez faixas de "Kill´Em All" estão alguns dos maiores clássicos do então nascente thrash metal, e do próprio heavy metal oitentista. Como você bem sabe, o disco abre com "Hit the Lights", faixa presente na lendária coletânea "Metal Massacre Vol I", lançada pela gravadora Metal Blade em 1982 e responsável por apresentar o som do quarteto - e de bandas como Malice, Cirith Ungol e Demon Flight - aos ávidos fãs do então chamado speed metal.
A estupenda "The Four Horsemen", uma das melhores composições da história do Metallica, contém uma inacreditável coleção de riffs clássicos e foi também gravada por Dave Mustaine - autor da faixa, ao lado de Hetfield e Ulrich - no primeiro álbum do Megadeth, "Killing is My Business ... and Business is Good", de 1985. Aliás, Mustaine divide a autoria de mais três faixas de "Kill´Em Al"l: a cheia de groove "Jump in the Fire", a agressiva "Phantom Lord" (mais tarde regravada por outro gigante do thrash, o Anthrax, como B-side do single de "Inside Out", do álbum "Volume 8: The Threat is Real", de 1998) e a rápida "Metal Militia", que fecha o play.
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Outras pauladas infalíveis são "Motorbreath", com uma virada de bateria antológica de Lars Ulrich e guitarras "pedaladas" que fizeram muita gente ter torcicolos frequentes; "(Anesthesia) Pulling Teeth", onde Burton calibra seu baixo com generosas doses de distorção e despeja melodias inesquecíveis sobre os ouvintes; "Whiplash", um violento soco no estômago que você não cansa de sentir; e a eterna "Seek & Destroy", que consegue unir de forma quase alquímica as melodias influenciadas pela NWOBHM com a agressividade e a rapidez que por muito tempo foram marcas registradas do grupo.
"Kill´Em All" caiu com uma bomba atômica no universo metálico, causando abalos sísmicos que abalaram definitivamente o heavy metal dali em diante. O thrash metal teve dois pais, e um deles foi, sem dúvida alguma, "Kill´Em All" - o nome do outro é "Show No Mercy", primeiro disco do Slayer, lançado também em 1983. O álbum alcançou a primeira posição da parada underground da revista norte-americana Hit Parader, uma das maiores e mais importantes publicações dedicadas ao heavy metal da época. Além disso, figura na posição número 35 da lista dos 100 Maiores Álbuns dos Anos 80 produzida pela revista Rolling Stone.
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Em 1988 a gravadora Elektra reeditou o álbum com duas bonus tracks - as famosas versões de "Am I Evil?" do Diamond Head e "Blitzkrieg", da banda homônima. O disco ganhou dezenas de reedições ao longo dos anos, sendo as mais interessantes essa de 1988 já citada; a versão lançada pela Universal japonesa em 2006, em edição limitada papersleeve; e a em LP de 180 gramas que a Warner colocou no mercado em 2008.
"Kill´Em All" é mais do que um disco. O primeiro álbum do Metallica é um marco na história do heavy metal, responsável por dar cara a um novo gênero - o thrash metal -, ao mesmo tempo em que apresentava ao mundo uma das mais importantes, influentes e maiores bandas da história da música pesada. Isso é mais do que suficiente para "Kill´Em All" carregar, de forma reluzente e inequívoca, o status de clássico.
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Faixas:
A1 Hit the Lights 4:18
A2 The Four Horsemen 7:15
A3 Motorbreath 3:10
A4 Jump in the Fire 4:43
A5 (Anesthesia) Pulling Teeth 4:16
A6 Whiplash 4:12
B1 Phantom Lord 5:04
B2 No Remorse 6:28
B3 Seek & Destroy 6:57
B4 Metal Militia 5:13
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