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Resenha - Seaquake - Stauros

Por Maurício Gomes Angelo
Postado em 09 de maio de 2003

O Stauros é uma das bandas pioneiras do white metal nacional. Visto isso imagina-se ser uma banda bem experiente e com vários anos de estrada, mas não. O embrião da banda surgiu em 1992 e o "nascimento" do Stauros propriamente dito foi em 1995, quando mudaram o nome de Saraterra para Stauros (acertadamente), e foram muito bem sucedidos em um festival de rock em Santa Catarina, onde entre 44 bandas ficaram em 3º lugar, chamando a atenção do público e da mídia local e obtendo impulso para gravar seu primeiro CD, "Vento Forte", de 95, ainda com um lado mais rock da banda, não muito próximo do metal. Em 1997 lançam "O Sentido da Vida" que é considerado o primeiro cd de white metal brasileiro. Com belas composições e amadurecimento visível por parte de todos, o CD é excelentemente bem recebido, tanto aqui quanto lá fora, obtendo prestígio em países muito diferentes como Noruega e México, por exemplo, levando-os a assinar com uma grande gravadora gospel brasileira.

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Antes de gravarem o próximo CD, eis que inesperadamente o ótimo vocalista Celso resolve deixar o grupo para dedicar-se exclusivamente ao ministério de louvor de sua igreja. César (que até então era tecladista da banda) mostra suas qualidades vocais e assume o posto de vocalista do Stauros. O Line-up firma-se com: César (vocal), Renatinho (guitarra), Alessandro (guitarra), Vê (baixo), e Alê (bateria). Apoiados por uma excelente gravadora, line-up estabilizado, várias idéias em mente e tudo para se consagrar... nesse clima é gravado "Seaquake".

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O som do Stauros pode ser definido como "Heavy Metal Progressivo". Músicas bem trabalhadas, intercalando peso, melodia e velocidade, letras muito acima da média, claras e objetivas, e uma dupla de ótimos guitarristas, conferem a banda uma qualidade singular.

Vamos ao CD. A começar pela belíssima arte gráfica, a primeira música que dá título ao trabalho, "Seaquake", já começa com o duo de guitarras bem entrosadas, dando uma quebrada quando entra o vocal. Segue com riffões poderosos e instrumental muito bom, uma das melhores do álbum. Pode-se notar uma leve influência do Tourniquet no vocal, só que mais melodioso e variado. A letra é poética: "mergulhando em meu oceano, num tempo de maremoto, o enfrentando para nunca mais, ser como eu era antes, prisioneiro da natureza em fúria, prisioneiro das rotas do passado... tripulação diga-me, como escapar do maremoto? olhe! você pode andar sobre as águas e chegar a um cais seguro! você pode enfrentar esse mar e chegar salvo pela manhã... não há ninguém aqui (para me ajudar), (agora) câimbras em meu corpo e uma pedra de gelo em minha alma, eu estou preso novamente (você está aqui?), dentro deste maremoto, papai você pode me ajudar, eu sei."
Depois desse banho de poesia, inicia-se "Rusty Machine", mais cadenciada, com um clima hipnotizante(!?), até estourar num riff violento, pesadaço, dando aquelas paradinhas clássicas, voltando ao riff de novo, e a bateria acompanhando, ficou muito bem arranjada, costurada com perfeição, nota 10.

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"The First Mile" parece herdar o riff de "Rusty Machine", só que esta música está menos crua, com participação de mais elementos, os outros instrumentos aparecem mais do que apenas a guitarra e a bateria, e ainda conta com um "coro". Apesar de esta estar mais trabalhada, ainda prefiro a anterior, justamente pela "crueza" aplicada.

"The Second Mile" começa mais progressiva, mais melódica. Junte Pink Floyd, Sonata Arctica e baladas a lá Blind Guardian, uma das músicas mais agradáveis do disco.

"Victory Act" é uma lindíssima balada, emocionante, violão tocado com maestria, leva-te a uma tarde ensolarada no litoral com aquela brisa tocando o seu rosto, deitado, observando o céu, azul, límpido e imponente, uma sensação de paz, calma e felicidade.

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"Whitout Truces" é forte, direta e ácida, massa sonora impactante, boas cavalgadas e quebradas estratégicas. Nota-se o cuidado muito grande com a produção do CD. Muito profissional, guitarras muito bem entrosadas, excelente faixa.

"Vital Blood" mistura elementos de todas as anteriores. Melodia, peso, velocidade, riffs poderosos, passagens levemente progressivas e bons solos.

"Love in Vain" é outra balada. Diferente de "Victory Act", o vocalista empregou uma voz mais aguda, mais puxada pro melódico. Podemos notar que a voz dele se encaixa melhor em baladas, fica mais natural, nas músicas mais pesadas ficam um pouco forçadas, contribuindo para o cd soar menos agradável do que poderia ser. Talvez por originalmente ser um tecladista, ele não se encontrou muito bem.

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"Friendly Hand" é diferente das outras, tem um clima novo, vai evoluindo em flashes da guitarra culminando num solo, muito veloz e atmosférico, excelente efeito. O vocalista fez um balanço entre grave e agudo que ficou muito bom, os guitarristas dão um show nesta música, grandes instrumentistas e ótima faixa.

"Dance of The Seeds" é bem pesada, talvez a mais pesada do álbum, riffs bate-cabeça e vocal rasgado. Lembra o Tourniquet de novo (impossível deixar de falar isso). Eles devem gostar muito dessa banda, só que aqui eles empregaram mais "classe", mais garra, mais energia.

"Every Pain II" é uma semi-balada, melodiosa e progressiva (isto no seu início), onde o vocalista desfila todo o seu repertório de climas e variações, todo o seu poder, e o instrumental segue o estilo, indo de um violão mais harmonioso até a guitarra mais agressiva. A bateria se encaixou perfeitamente, influenciando muito no resultado final; é o que mais se destaca na música. Tudo está perfeito. Uma das melhores composições do álbum.

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"Inside of The Eyes" é onde o teclado tem o maior destaque. A marcação forte do violão e o backing vocal sussurrante dão um clima todo especial à composição, muito criativa e majestosamente bem executada.

"Faith in The Arena" é a música mais longa do disco, 07:03 minutos, e dividida em 4 partes. É aquela música que engloba todo o repertório do grupo, que resume o que é o Stauros. Todas as variações são usadas, todos os instrumentos, todos os truques e artimanhas, todos os climas e recursos possíveis. Mostra toda a qualidade do grupo.

"Seaquake" é até hoje o melhor cd do Stauros (englobando os 5 já lançados) e não vai ser fácil de ser superado. A banda toda prova que realmente está bem acima da média das bandas que existem por aí, e facilmente se destaca no enxame de bandas que vem surgindo nos últimos tempos. O white metal nacional se orgulha de ter esses caras ao seu lado. Superam inclusive muita banda estrangeira.

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Mas precisamos ressaltar: as partes instrumentais de certas faixas são muito parecidas e a partir de algum momento o cd periga ficar enjoativo, com fórmulas um pouco repetidas. Não chega a incomodar, todas são belas faixas, muito bem trabalhadas, mas fica aí a dica para que o "problema" seja corrigido. Os teclados foram raramente utilizados neste cd, mas quando usados foram utilizados corretamente, digno de nota.

Procure este cd, compre-o ou peça emprestado (só não roube, senão Deus castiga, hehehehe), mas não deixe de conhecer uma das melhores bandas do cenário white metal brasileiro. Faça a você mesmo este favor.

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Sobre Maurício Gomes Angelo

Jornalista. Escreve sobre cultura pop (e não pop), política, economia, literatura e artigos em várias áreas desde 2003. Fundador da Revista Movin' Up (www.revistamovinup.com) e da revrbr (www.revrbr.com), agência de comunicação digital. Começou a escrever para o Whiplash! em 2004 e passou também pela revista Roadie Crew.
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