Sepultura: assumindo suas raízes
Por Ricardo Bellucci
Postado em 06 de setembro de 2020
A cultura musical brasileira é diversa, complexa, compostas por diversas vertentes, variando do choro, do samba, do frevo, do sertanejo raiz, ao clássico. Somos todos, em certa medida, influenciados por algumas dessas vertentes. No entanto, talvez por fatores culturais, muitos tendem a menosprezar essa riqueza cultural, identificando como boa música, boa literatura aquilo que apenas é oriundo do exterior. Não vou enveredar por esse caminho, analisando as origens desse fenômeno. Seria necessário escrever uma verdadeira tese de mestrado para começar a compreender o tema.
Assumir nossas raízes musicais exige, não somente bom gosto estético, mas sobretudo coragem. Coragem de romper com velhos e estabelecidos paradigmas, coragem para enfrentar uma mídia elitista, que muitas vezes acaba, por arrogância, menosprezando a beleza de nossa cultura popular, inclusive a musical, mas não apenas ela.
O Sepultura sempre foi uma banda deixada de lado pela grande mídia tradicional. Ela é, sem sombra de dúvidas, a banda nacional que atingiu o patamar mais elevado em termos de uma carreira internacional. Nada de novo até aí. O metal sempre foi estigmatizado no Brasil como uma cultura de gueto, de cabeludos arruaceiros, cultuadores de um estilo musical "barulhento". Puro elitismo e arrogância.
Por ironia do destino, ou não, o Sepultura acabou por ter um papel muito importante ao assumir, corajosamente sua identidade nacional, brasileira. E o fez de forma plena, integrando essas raízes a sua estrutura estético-musical, tornando-a elemento chave da sua musicalidade.
Não optou apenas por criar uma ou duas faixas utilizando tambores ou a viola e pronto! Não! A banda assumiu sua identidade, e o fez com orgulho! Isso é para poucos! Exigiu da banda não apenas coragem, mas maestria técnica e muita pesquisa de como integrar a sonoridade brasileira ao heavy metal, preservando sua essência.
Aponto, logo abaixo, dois momentos muito interessantes, dessa integração com nossas raízes, elaborada, com extrema competência pelo Sepultura: a faixa Kaiowas, do clássico Chaos A.D. e Ratamahatta, do também clássico Roots. Cada uma, a sua maneira, revelam essa perfeita integração de elementos próprios da cultura musical brasileira a sonoridade da banda.
Essa opção do Sepultura de assumir suas raízes é muito importante, pois abre caminho para que muitos possam trilhar o mesmo caminho, não apenas no campo da música, mas da literatura, do teatro ou de outros segmentos culturais. Ela é um verdadeiro marco. Uma ode à nossa sonoridade e cultura. A minha sincera esperança é que o exemplo do Sepultura possa ser seguido pelas gerações vindouras!
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



O fenômeno do rock nacional dos anos 1970 que cometeu erros nos anos 1980
9 bandas de rock e heavy metal que tiraram suas músicas do Spotify em 2025
A farsa da falta de público: por que a indústria musical insiste em abandonar o Nordeste
David Ellefson explica porque perdeu o interesse em Kiss e AC/DC; "Foda-se, estou fora"
A dificuldade de Canisso no estúdio que acabou virando música dos Raimundos
Os 15 melhores álbuns de metal de 2025 segundo a Rolling Stone
Nick Cave descreve show do Radiohead como uma "atividade espiritual"
A lenda do rock nacional que não gosta de Iron Maiden; "fazem música para criança!"
Iron Maiden bate Linkin Park entre turnês de rock mais lucrativas de 2025; veja o top 10
Cinco bandas de heavy metal que possuem líderes incontestáveis
Ian Gillan nem fazia ideia da coisa do Deep Purple no Stranger Things; "Eu nem tenho TV"
Pink Floyd volta ao topo da parada britânica com "Wish You Were Here"
A canção de natal do AC/DC que foi inspirada em Donald Trump
Jeff Scott Soto não acha que Yngwie Malmsteen falou dele em recente desabafo
A banda fenômeno do rock americano que fez história e depois todos passaram a se odiar

Max Cavalera aponta o que ele e Tom Araya tem o que IA alguma jamais terá
Max Cavalera diz que não gosta de escrever letras e chama processo de "tedioso"
Max Cavalera tentou repetir a fórmula de "Roots Bloody Roots" em clássico do Soulfly
O disco que o incansável Max Cavalera mais se divertiu gravando
Max Cavalera acha que escrever letras de músicas é uma tarefa entediante
Cinco músicos brasileiros que integram bandas gringas
O clipe do Sepultura inspirado em uma das guerras mais complexas da história
A música que seria descartada, mas acabou virando um hit imortal do Rock
CDs: sua coleção pode valer uma fortuna e você nem sabe disso


