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Antes de Robert Johnson: As Raízes do Blues

Por Giancarlo D'Anello
Fonte: Central Park Records
Postado em 26 de novembro de 2019

O gênero musical conhecido como Blues é algo muito difícil de definir, mesmo sendo quase que imediatamente reconhecido: graves linhas de baixo, progressões harmônicas de 12 compassos e letras que invocam tristeza, desespero, arrependimento e sabedoria. Ao mesmo tempo que o blues compartilha de elementos estéticos que lhe são muito característicos, estes mesmos elementos por si só não dão conta de defini-lo enquanto gênero, pois também são comuns em outros ritmos. Mas então o que é o blues? Ninguém sabe ao certo como surgiu, apenas onde e em quais circunstâncias. O blues nasceu no Deep South norte-americano e foi filho de homens e mulheres anônimos que, ainda escravos, labutavam durante o dia inteiro nas plantações de algodão das grandes fazendas dos Estados Unidos da América.

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Musicólogos e historiadores da música identificam as origens mais remotas do blues nas chamadas work songs dos escravos, que utilizavam do canto enquanto trabalhavam para poderem suportar o sofrimento da privação de liberdade, além de servir como um canal de busca de sentido em suas longas jornadas. As work songs eram expressões do spiritual, um gênero musical afro-americano surgido nas Américas, cantado, arranjado e harmonizado em corais coletivos.

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Por ter sido considerada um manifestação artística "inferior" pelo establishment, pouco se documentou desses primórdios das work songs. O spiritual enquanto gênero, como o próprio nome diz, estava diretamente relacionado à espiritualidade e com a necessidade de exprimir a ânsia por transcendência da coletividade. Já existente na África sob a forma de cantos étnicos e tribais, o spiritual, uma vez desenvolvido na América, adquiriu suas próprias características ao incorporar as novas condições sociais/culturais dos negros e também o cristianismo, já amplamente difundido pelas igrejas protestantes rurais no sul dos Estados Unidos.

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Justamente pela sua força coletiva e capacidade de adaptação, o spiritual conseguiu facilmente adentrar em outros contextos e se fundir com outros gêneros já mais populares nas áreas urbanas, como o ragtime, ritmo muito popular em New Orleans no período anterior à Primeira Guerra Mundial. Dessa mistura entre o spiritual e ritmos urbanos que se verificou no início do século XX, surgiu uma cena prolífera de cantores e cantoras que fizeram muito sucesso nas grandes cidades, incluindo na Broadway. Dessa geração se destacam Bessie Smith e Ma Rainey, cantoras negras que conseguiram ascender ao show business no início da década de 20 e que representaram a primeira geração do blues a ter um certo reconhecimento midiático.

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Porém o blues rural, sofrido e resignado, sempre havia permanecido nas profundezas do sul dos Estados Unidos, principalmente na região do Mississipi Delta, entre os descendentes de escravos que continuavam a trabalhar nas lavouras e nas plantações de algodão. Entre esta geração de artistas, raríssimos foram os casos daqueles que experimentaram frutos do sucesso ainda em vida. A maioria morreu muito pobre — alguns em estado de miséria — e trabalhando nas lavouras até o fim de suas vidas.

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Poderiam muito bem ter caído no esquecimento total se não fosse por um movimento ocorrido nos anos 60 de resgate do Delta Blues e das raízes folclóricas da música americana, que procurou relançar alguns desses artistas que foram fundamentais para a constituição do Rock n’ Roll. Muito deste material só chegou a salvo até os dias de hoje devido a esta redescoberta ocorrida nos anos 60 e traduzida no Newport Folk Festival, um festival anual de música folk que começou em 1959 e que passou a convidar estes bluesmen esquecidos para tocar ao vivo, no trabalho da gravadora Yazoo Records, que relançou muitas das gravações blueseiras do pré-guerra, entre outras iniciativas que refletiam o crescente interesse do público e dos artistas de vanguarda neste material.

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O nome que se destaca entre os cantores de blues do pré-guerra é o de Robert Johnson, que gravou somente 29 músicas entre 1936 e 1937 e que influenciou diretamente a nata do rock americano e britânico e foi coverizado à exaustão por centenas de artistas, incluindo Bob Dylan, Rolling Stones, Fleetwood Mac, Robert Plant, Eric Clapton e muitos outros. Sua influência se estendeu para além dos limites do blues e do rock e sua figura se tornou fundamental para se entender o próprio desenvolvimento da cultura americana. Esta importância recentemente foi sublinhada pelo lançamento do documentário da Netflix "O Diabo na Encruzilhada: A História de Robert Johnson".

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Mas antes de Robert Johnson houve muitos bluesmen que ajudaram a pavimentar a cultura do blues rural, cujas expressões mais célebres são aquelas desenvolvidas nas regiões ao entorno do rio Mississipi, Texas, New Orleans e Louisiana. Vamos listar doze desses artistas fundamentais para o blues, que gravaram entre 1927 e 1930 e que estão entre os primeiros registros gravados de blues na história, ao lado de outras canções do início da década de 20.

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Blind Willie Johnson

Blind Willie Johnson foi um pastor e um bluesman cego que nasceu na cidade de Pendleton no Texas em 1897. Cresceu na comunidade rural de Marlin, onde havia intensa produção agrícola, e frequentou a Igreja Batista, onde desenvolveu seus primeiros dotes na música. Willie Johnson não nasceu cego, adquiriu esta condição mais tarde, ainda criança. Segundo o historiador Samuel Charters, a madrasta de Willie, numa briga intensa com o pai devido às acusações de infidelidade dela, ataca a criança com então 7 anos de idade jogando solução cáustica nos olhos dela. Por causa deste episódio, Willie Johnson ficou cego e incorporou o adjetivo em seu nome artístico. Inclusive este era um hábito muito recorrente entre os bluesmen da época: incorporar características físicas ou da própria personalidade nos nomes artísticos, sendo que muitas vezes este já era o apelido mesmo da pessoa na comunidade.

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Blind Willie Johnson gravou cerca de 30 músicas em 5 sessões de gravação ocorridas entre os anos de 1927 e 1930. Entre as músicas havia uma forte temática cristã, pelo fato de Willie ser também um pastor. Se destacam entre elas "It’s Nobody’s Fault but Mine", coverizada por vários artistas incluindo Nina Simone, Grateful Dead e Led Zeppelin, "John The Revelator", chamada pelo crítico musical Thomas Ward de "uma das músicas acústicas americanas mais poderosas do pré-guerra" e "Dark Was the Night, Cold Was the Ground", selecionada pela Library of Congress para a National Recording Registry, devido à sua importância histórica, cultural e musical.

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Blind Willie Johnson foi redescoberto em 1952 na ocasião do lançamento da Anthology of American Folk Music e influenciou fortemente toda uma gama de artistas e bandas surgidos nas décadas seguintes. Seu legado pode ser notado na persistência de sua obra, tema do tributo "God Don’t Never Change: The Songs of Blind Willie Johnson", organizado pela gravadora Alligator Records, e do documentário da série American Epic, dirigido por Bernard MacMahon.

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Charley Patton

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Charley Patton ocupa um posição fundamental na história do blues, principalmente na história do Delta Blues. Suas origens são mestiças, e acreditava-se que ele também pudesse ter origens mexicanas. Hoje sabe-se que Charley tinha um background étnico bem variado e que, além de sangue negro e branco, descendia dos Cherokee e Choctaw, tribos indígenas que servirão de inspiração para Charlie em algumas de suas músicas. Ainda no que concerne à sua ascendência, também acreditava-se que seu verdadeiro pai tinha sido o escravo Henderson Chatmon, que também foi soldado confederado durante a guerra civil e que presume-se tenha sido pai incontáveis vezes, inclusive de vários artistas do Delta Blues como de membros do grupo Mississippi Sheiks, banda de músicos muito famosa durante os anos 30.

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Charley Patton desenvolveu um estilo muito próprio de tocar ao misturar o blues com influências do country e o hillbilly, ajudando assim a desenvolver o country blues enquanto subgênero. Também performou bastante na Dockery Plantation, uma grande área onde eram localizadas as plantações de algodão e onde a maioria dos trabalhadores morava. Nessas performances, Charley influenciou muitos aspirantes a músicos que também viviam nessa área e que vieram a se tornar lendas do blues mais tarde, como Robert Johnson e Howlin’ Wolf. Devido às suas performances inovadoras, onde tocava muitas vezes com o violão atrás das costas e do pescoço — influência direta para Jimi Hendrix -, Charley Patton, diferentemente da maioria dos bluesmen que eram artistas itinerantes, tocava com regularidade em tabernas e plantações e chegou a gravar em Nova York. Ao todo sua carreira em estúdio começa em 1929 e termina em 1934, ano em que faleceu.

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Entre suas músicas se destacam "Down the Dirt the Road Blues", canção fortíssima carregada de valor pessoal que fala do drama da expulsão dos Cherokee de suas terras, e "Pony Blues", que se tornou um clássico do blues e foi coverizada por vários artistas como Canned Heat, Son House, Howlin’ Wolf, além de também ter sido reconhecida pela Library of Congress como sendo gravação de fundamental valor cultural e histórico para os Estados Unidos. Em 2001 foi lançado um box-set chamado "Screamin’ and Hollerin’ the Blues: The Worlds of Charley Patton", com versões remasterizadas de suas músicas e gravações de pessoas que conheceram Charley Patton em vida falando sobre ele. O box-set venceu 3 Grammy Awards e consagrou definitivamente Charley Patton na memória da música americana.

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Jim Jackson

Jim Jackson nasceu em torno de 1876 e cresceu em Hernando, Mississipi. Assim como outros aspirantes a artistas do Delta, Jim aprendeu a tocar observando os músicos da região, quase todos trabalhadores rurais dos campos de algodão. Ele logo começou a tocar em diversos lugares em companhia de outros músicos, performando em cidades e áreas diferentes, como era comum entre os bluesmen da época. Mas mesmo sendo um artista itinerante, conseguiu ser escalado como músico fixo de alguns clubes e locais devido a sua popularidade e capacidade de entreter o público.

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Em 1927 ele conseguiu um contrato com a Vocalion Records, onde ele grava e lança uma de suas canções mais célebres: a "Jim Jackson’s Kansas City Blues", música que ocupou os 2 lados do single, sendo dividida em Parte 1 e Parte 2. Esta música hoje é considerada uma das precursoras mais remotas do rock n’ roll devido à sua cadência rítmica e desenvolvimento harmônico, e foi um sucesso estrondoso na época na nascente indústria fonográfica americana. A melodia da canção foi copiada e retrabalhada inúmeras vezes por diversos artistas e estabeleceu a base rítmica do Rock. "Jim Jackson’s Kansas City Blues" inspirou Leiber e Stoller, Charley Patton, Hank Williams e vários compositores dos primórdios do rockabilly, inclusive Max C. Freedman e James E. Myers, que compuseram "Rock Around The Clock", a primeira gravação "oficial" de rock da história, como alguns historiadores consideram. Janis Joplin gravou uma versão memorável da música e a consagrou também entre a geração do Flower Power.

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Julius Daniels

Julius Daniels foi um dos primeiros cantores do Piedmont Blues, uma variante da costa leste americana que recebeu este nome pois nasceu na região da planície Piedmont. Musicalmente falando o Piedmont Blues se diferia do Delta Blues pois era utilizada uma técnica diferente no violão chamada Piedmont fingerstyle, caracterizada pelo utilizo dos dedos na construção de um padrão rítmico nas cordas baixas regulares alternadas.

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Pouco se sabe da vida pessoal de Julius. Não existe nenhuma fotografia dele, mas sabe-se que ele nasceu em Denmark, South Carolina em 1901 e faleceu aos 45 anos de idade na cidade de Charlotte.

Ele gravou sete canções para o selo Victor durante duas sessões de gravação em Atlanta em 1927. Nessas sessões, Julius gravou a música pela qual ficou conhecido na posteridade: "99 Year Blues". Julius apenas cantou, e foi acompanhado pelos guitarristas Bubba Lee Torrance na primeira sessão, e por Wilbert Andrews na segunda. Os temas tratados por Julius em suas canções são a iniquidade do racismo, a dura vida do trabalhador rural e o consolo existencial proporcionado pela religiosidade.

A originalidade de suas letras e a voz melódica singular que ele tinha o fizeram muito influente entre os artistas do Piedmont Blues e, consequentemente, entre os bluesmen da posteridade. Julius pode não ser considerado um gigante do Blues, mas é parte essencial da história do gênero e contribuiu decisivamente para o seu desenvolvimento, tendo hoje a vida e obra celebradas anualmente pelo Julius Daniel Memorial Blues Festival, todo mês de fevereiro em Denmark, sua cidade natal . "99 Year Blues" foi coverizada por diversos artistas, incluindo Johnny Winter, Chris Smither e Hot Tuna.


Henry Thomas

Henry Thomas nasceu em 1874 em Big Sandy, Texas, e é um dos maiores expoentes do que podemos considerar como sendo o ragtime texas, ou o Texas Blues, como ficou sendo conhecido entre os ouvintes do gênero. O Texas Blues se distingue das outras manifestações regionais do blues devido a forte influência do country, jazz e swing, cujas técnicas performáticas influenciariam de forma mais direta toda uma gama de artistas do rock n’ roll que vai de Stevie Ray Vaughan a ZZ Top.

Henry Thomas teve uma carreira muito curta e gravou pouquíssimas canções. Ao todo são 24 músicas gravadas entre 1927 e 1929. Suas influências são muito variadas, e mesmo os poucos historiadores que tentaram estabelecer uma ordem cronológica de sua vida, encontram muitas dificuldades devido à escassez de material primário de consulta. Sabe-se no entanto que durante um período Henry foi músico de estrada, coisa comum entre os artistas de blues da época. Nessas performances, ele costumava tocar músicas de outros gêneros, como gospel, reel e ragtime, além do blues, e utilizar instrumentos variados e atípicos para o blues, como a flauta de Pã. Esta pluralidade musical e cultural, certamente influenciada pela própria região texana — terra de encontro entre culturas muito distintas como a negra, branca protestante, hispânica católica e indígena -, determinou o tipo de som que Henry Thomas criou.

Henry Thomas foi redescoberto na primeira metade dos anos 60, nos festivais de folk que começaram a se tornar populares na época. A partir daí, diversos artistas e bandas começaram a regravar suas canções, como Bob Dylan, Grateful Dead, Taj Mahal, The Lovin’ Spoonful, Canned Heat, entre outros da geração que precedeu e ajudou a fazer Woodstock acontecer.

Entre os maiores destaques de Henry Thomas está a música "Bull Doze Blues", gravada em 1928. A banda Canned Heat, inspirada numa releitura desta música, gravou a música "Going Up The Country" em 1968, que nada mais é do que uma adaptação de "Bull Doze Blues" com outro nome. Esta música ajudou a definir toda a geração do flower power.


Blind Lemon Jefferson

Lemon Harry Jefferson, também conhecido como "Blind Lemon Jefferson", nasceu cego nos arredores da hoje cidade fantasma Coutchman, no Texas, em 1893.

Blind Lemon Jefferson começou a tocar e a cantar ainda adolescente em picnics e festas no Texas, logo se tornando um músico de rua com apresentações frequentes em eventos e negócios da região.

Nos anos 10 começou a viajar frequentemente para Dallas onde teve a oportunidade de conhecer muitos bluesmen como T. Bone Walker e Lead Belly, que enriqueceram ainda mais suas referências e que lhe serviram de inspiração para construção de sua própria música. Sua capacidade de se relacionar positivamente com músicos, sua criatividade ao criar um blues ligeiramente diferente do de seus antecessores e sua notável habilidade com a guitarra trouxeram fama e reconhecimento ainda em vida, fato extremamente raro para músicos de blues da época. Contratado pela Paramount Records e depois pela Okeh Records gravou 79 singles ao total no período que vai de 1925 até 1929.

Blind Lemon exerceu influência notória não só sobre as posteriores gerações de bluesmen como contribuiu para a formação do próprio rock n’ roll, e teve várias de suas canções regravadas ao longo das décadas seguintes por bandas e artistas fundamentais na história do gênero, o que contribuiu ainda mais para sua consagração. Em 1980 foi introduzido no Blues Hall of Fame e teve uma de suas canções, a "Matchbox Blues", induzida pelo The Rock and Roll Hall of Fame como sendo uma das 500 canções que ajudaram a modelar a estética do rock n’ roll.


Mississipi Sheiks

Os Mississipi Sheiks, como o próprio nome diz, foram um grupo de musicistas formado no estado do Mississipi, mais precisamente na cidade de Bolton, às margens do Delta. Os membros do grupo eram todos parentes da família Chatmon, estabelecida na região há décadas. A família trazia a cultura do canto e da musicalidade desde os tempos da escravidão, e era comum que ensaiassem nas fazendas onde trabalhavam, e também posteriormente em bares e locais. A utilização recorrente da técnica fingerstyle na execução dos instrumentos de corda do grupo os incluem na categoria do country blues.

O período de atividade do grupo durou apenas 5 anos, de 1930 até 1935, quando gravaram todas as suas músicas, incluindo a mais famosa "Sitting On Top Of The World", regravada à exaustão por centenas de artistas e bandas até os dias de hoje como Cream, Jack White, Willie Nelson, Grateful Dead, B.B. King, Robert Cray, Bob Dylan, Howlin’ Wolf entre muitos outros. Chegaram a tocar até mesmo em Nova York e Chicago. Após este período os membros voltaram a trabalhar na agricultura e deixaram o mundo da música por muitos anos. Foram redescobertos com força total nos anos 60, entre a movimentação de recuperação dos artistas do blues das décadas anteriores.

Em 2004 os Mississipi Sheiks foram induzidos ao Mississipi Musicians Hall of Fame e, em 2008, o sucesso "Sitting On Top Of The World" foi induzido ao Grammy Hall of Fame. Certamente os Mississipi Sheiks cravaram seu nome não somente na história do blues como também na da história da música popular americana, contribuindo decisivamente para a formação do rock e para o surgimento de muitos artistas do gênero.


Frank Stokes

Frank Stokes nasceu em 1877 no estado sulista do Tennessee, a poucas milhas ao norte do Mississipi. Ficou conhecido por ter sido um dos artistas de blues que mais gravaram músicas ao longo da década de 20: cerca de 40 canções registradas. Além de tudo, o tipo de blues que imprimiu em suas interpretações passou a ser chamado por muitos musicólogos americanos como um exemplo do Memphis Blues, um subgênero que foi caracterizado por ser executado nas conhecidas "Medicine shows", espetáculos populares itinerantes, e na rua principal de Memphis, a Beale Street. O Memphis Blues, portanto, era uma variante mais urbana do gênero, que trazia temáticas e estilos um pouco mais distantes do mundo rural.

Frank Stokes trabalhava desde criança como ferreiro, e aos finais de semana viajava 25 milhas para Memphis para tocar nas ruas da cidade e participar das medicine shows junto de outros artistas e cantores. Nessas apresentações ele colaborou com artistas como Garfield Akers e passou a ficar muito conhecido na região. Formou com Dan Sane, seu parceiro de shows, a dupla The Beale Street Sheiks, que tocou de forma recorrente na famosa rua central de Memphis e gravou pela Paramount Records e Victor Records até o final da década de 20, estabelecendo o subgênero Memphis Blues na história fonográfica americana de forma definitiva. Suas músicas foram relançadas várias vezes nas décadas seguintes como parte do movimento maior de resgate das origens do blues, e seu reconhecimento maior ocorreu em 2017, quando foi induzido ao Memphis Music Hall of Fame ao lado de nomes como Roy Orbison, Tina Turner, Albert King, ZZ Top, entre outros.


Garfield Akers e Mississipi Joe Callicott

Gafield Akers pode ser considerado sem sombra de dúvidas como sendo o cantor mais obscuro desta lista de bluesmen e aquele sobre o qual menos se há informações conhecidas. Sua carreira inteira resume-se a apenas 4 músicas registradas e lançadas em 2 compactos entre os anos de 1929 e 1930 e nenhuma foto conhecida sua existe ou chegou até os historiadores do blues. Sabe-se que ele tocou junto de Frank Stokes em muitas das Medicine Shows de Memphis ao longo da década de 20 e que sua voz aguda e seu estilo de tocar influenciaram decisivamente muitos cantores subsequentes como John Lee Hooker, Robert Wilkins e toda a velha guarda dos bluesmen do Mississipi. Além disso, pouco ou quase nada se sabe.

Mississipi Joe Callicott também é outro artista obscuro do gênero cujas informações são poucas, porém há uma foto sua tirada já no fim de sua vida. Joe compôs uma música chamada "Love me Baby Blues" que fez sucesso ao ser regravada por artistas como Ry Cooder. Ele também ensinou Kenny Brown a tocar violão quando este tinha 8 anos de idade e teve o túmulo financiado por John Fogerty, do Creedence Clearwater Revival. Suas gravações também foram em número reduzido, mas tiveram o impacto suficiente para que seu nome fosse lembrado pelas gerações posteriores. Joe Callicott participou com Garfield Akers do compacto "Cottonfield Blues", lançado em 1929.


Bukka White

Booker T. Washington White, mais conhecido como Bukka White, nasceu em Houston Mississipi em 1906 e conseguiu viver o suficiente para ver sua obra ser devidamente valorizada, diferentemente do que aconteceu com a maioria dos bluesmen do início do século 20.

Bukka era primo de B.B. King por parte materna e dizia ser fortemente inspirado pela sonoridade de Charlie Patton, com quem alegou ter se encontrado ainda jovem.

Em 1930 grava pela primeira vez pela Victor Records. Foram 14 músicas que marcaram decisivamente a carreira de Bukka e formaram a lenda em torno de seu nome para os anos posteriores. Naquelas músicas gravadas, havia uma forte influência do gospel e do country, o que faz de Bukka um dos pioneiros do country blues e reafirma a inspiração que ele tinha em Charlie Patton.

Em 1961 Bob Dylan regrava sua música "Fixin’ to Die" e contribui para que Bukka White seja definitivamente redescoberto na onda de revalorização do folk americano ao longo da década de 60, o que faz com que ele consiga lançar o seu primeiro long play em 1964, aos 58 anos de idade. Outras canções de Bukka são referenciadas nos discos "Led Zeppelin III" e "Physical Graffitti", do Led Zeppelin, e até transformadas em samplers por Alan Wilder, membro do Depeche Mode.

Em 2012 "Fixin’ to Die Blues’, a música de Bukka White regravada em 1961 por Dylan, ganha um espaço na lista das canções reconhecidas pelo Grammy Hall of Fame.


Tampa Red

Hudson Woodbridge foi um bluesman mestiço nascido em 1903 no pequeno vilarejo de Smithville, na Georgia. Seus pais faleceram quando ele ainda era criança, então seus tios o levaram para morar em Tampa, na Flórida, cidade que depois foi homenageada por Hudson ao integrar seu nome artístico — Tampa Red.

Tampa aprendeu a tocar violão com seu irmão mais velho, que o ensinou a técnica blues licks. Esta técnica posteriormente veio a se tornar sua marca registrada e muito utilizada no blues em geral e no rock n’ roll.

Começou a tocar com frequência em apresentações de ruas e bares na década de 20, mas só em 1928 gravou as primeiras músicas de uma extensa discografia. O músico Thomas A. Dorsey foi seu parceiro nessas primeiras gravações, e ele, além de um excelente músico de estúdio, também viria ser imortalizado pela canção gospel "Peace in the Valley", escrita por Thomas e regravada posteriormente por gigantes como Elvis Presley, Johnny Cash e outros.

Essas gravações iniciais de Tampa Red com Thomas A. Dorsey foram fundamentais para o desenvolvimento do Blues e para catapultar a influência de Tampa entre os guitarristas e músicos de rock em geral. Sua habilidade na guitarrista foi tão admirada que ainda no início dos anos 30 foi nomeado de "The Guitar Wizard" — O Bruxo da Guitarra — pela crítica da época.

Segundo Gerard Herzhaft em seu estudo sobre a história do Blues, Tampa Red gravou mais de 335 canções — feito inédito para a época e que o inclui do rol dos bluesmen mais prolíficos em estúdio. Seu single "Let Me Play With Your Poodle" atingiu o quarto lugar das paradas da Billboard na sessão R&B, e, junto com ele, mais outros 3 de seus singles conquistaram as primeiras posições da Billboard entre 1942 e 1951, o que o torna um dos bluesmen mais bem sucedidos da época também do ponto de vista da indústria fonográfica.

Tampa foi redescoberto na grande onda de Blues Revival dos anos 60 junto com outros músicos e gravou suas últimas canções naquela década. Sua música "Black Angel Blues", regravada inúmeras vezes, foi incluída na lista do Rock n’ Roll Hall of Fame como sendo uma das 500 músicas que ajudaram a formar o Rock n’ Roll.

As origens do Blues se perdem no tempo e sua história se confunde com a própria história das Américas, forjada no trauma da escravidão e nos sentimentos mais profundos daqueles que a vivenciaram. Apesar de hoje o Blues ser um gênero muito conhecido no mundo inteiro por causa de artistas de renome internacional como B.B. King, Eric Clapton e outros, é importante olhar para gravações de artistas que antecederam Robert Johnson, para se entender um pouco melhor esta parte fundamental da história da música popular do século 20 e o poder da alma afro-americana, que mesmo após tantos sofrimentos foi capaz de presentear o mundo com uma música que conseguiu atingir a universalidade.

Do álbum THE ROOTS OF BLUES: 1927 - 1930.
• Amazon: www.amzn.to/2VNvEqk
• Google Play: www.bit.ly/2Qa5XKo
• Spotify: www.spoti.fi/2VS2si4

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Sobre Giancarlo D'Anello

Giancarlo D'Anello é baixista desde os 14 anos de idade, produtor musical e é formado pela Universidade de São Paulo (USP). Além do envolvimento com a música desde sempre, é leitor voraz de literatura e jornalismo cultural. Escreve contos de horror e sobre os aspectos mais relegados do rock n' roll. Fã inveterado de boxe, Elvis Presley, Stephen King, cevada e Harley Davidson, não necessariamente nesta ordem. Atualmente gerencia a gravadora independente Central Park Records e lidera o projeto de stoner instrumental Giorgio La Rocca em Bologna (Itália).
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