Anos 70: a década da originalidade e seu legado
Por Leonardo M. Brauna
Postado em 07 de junho de 2017
Quando o Rhythm & Blues evoluiu para uma forma mais eletrizante nos anos 60, dando origem ao Hard Rock de bandas como Yardbirds, Cream, Blue Cheer e outras, a imaginação dos muitos músicos da época parecia não acabar. A originalidade permeava naturalmente por qualquer bom compositor daqueles idos. Melodias próprias, estilos próprios, posturas próprias, tudo na maior naturalidade artística. O mais interessante é que muitos se conheciam e até conviviam juntos em uma mesma cena, porém, não existia essa de um copiar o outro.
Durante os anos 60 e 70, o Rock mais trabalhado nasceu, cresceu e por algum tempo virou complemento de transformação, como ocorrido em 1967 com o movimento "Summer of Love" em São Francisco, Califórnia (EUA) e em outras cidades, como Nova Iorque, Los Angeles, Atlanta, Filadélfia e Chicago, assim como em alguns lugares da Europa. Algumas das bandas que embalaram esse período conhecido como "Flower Power", entraram para o ‘casting’ do essencial "Festival Woodstock" que, em 1969, levou milhares de pessoas à Bethel, em Nova York.
Um dos maiores clássicos da época, gravado em 1968 pelo Steppenwolf, chamado "Born To Be Wild", foi uma das maiores representações da escola que se abria a um novo Hard Rock – riffs simples, letra que falava de aventura sobre rodas e uma importante alusão ao barulho de motores, citado na frase "heavy metal thunder." Ninguém poderia imaginar que um estilo "fomentado" pela inocente citação, ganharia forma nos anos 70 pelas mãos de bandas como Coven, Sir Lord Baltimore e Lucifer’s Friend.
A construção de riffs mais pesados, solos cortantes e letras voltadas ao ocultismo, fez do Black Sabbath a principal banda genitora do Heavy Metal. Tudo começou após o guitarrista Tony Iommi perder as pontas dos dedos em uma máquina que operava quando metalúrgico. "Claro que perder as pontas dos dedos foi devastador, mas olhando em retrospectiva, aquilo me permitiu criar algo", disse Iommi em entrevista ao Canal VH1. "Aquilo me fez inventar um novo som, um estilo próprio de tocar e um tipo de música meio diferente. No fim das contas, aquilo foi algo bom vindo de algo ruim." Outra temática chegava a bandas mais virtuosas como Deep Purple que, em 1969, abandonava uma fase psicodélica com Rod Evans (ex-vocal) para investir em linhas mais dinâmicas já com Ian Gillan no vocal. Sem ficar atrás, o Led Zeppelin que era uma das bandas mais importantes da Inglaterra, levou o estilo Blues Rock presente em seus três primeiros álbuns à uma abordagem mais "cavalar" em seu excepcional "Volume V" (1971), mas para Jimmy Page, isso não os transformaria em uma banda de Heavy Metal. "Não faço ideia de onde as pessoas tiraram que Led Zeppelin é Heavy Metal", contesta o guitarrista em entrevista à Classic Rock Society. Até hoje, justo ou injustamente, essas três bandas representam a gênese do estilo, que é assunto para um "mimimi" infernal.
Mas a glória dos anos 70 não se resume apenas nisso. Nomes como Pink Floyd, The Sweet, Alice Cooper, Motörhead, AC/DC e Van Halen imprimiram suas personalidades no mundo da música e hoje são referências para incalculáveis artistas. A riqueza de ideias foi tão grande durante a "década mãe", que alguns lançamentos transbordaram aos anos 80 com caras bem setentistas, a exemplo de "British Steel" (Judas Priest), "Ace of Spades" (Motörhead) e "Wheels of Steel" (Saxon) –, não por menos, estes foram alguns dos discos icônicos de uma nova fase do Heavy Metal chamada de "New Wave of British Heavy Metal", capitaneada por bandas como Iron Maiden, Def Leppard e Tank. Portanto, é correto afirmar que a NWOBHM é uma cria dos anos 70? Sim, isso não se fere à principal teoria de que nasceu para retomar do Punk Rock, a atenção que o Rock’n’Roll tinha antes de 1977, na Inglaterra.
Grandes músicos da atualidade como o guitarrista Yngwie Malmsteen, Flea (baixista, Red Hot Chili Peppers), Mike Portnoy (baterista, The Winery Dogs, ex-Dream Theater, Adrenaline Mob e outros) e Derek Sherinian (tecladista, ex-Kiss, Black Country Communion e outros), conseguiram escrever seus nomes a partir da década de 80 e hoje são merecidamente reconhecidos mundo afora, mas apesar do estilo peculiar de cada um, é fácil encontrarmos em suas entrevistas, os próprios citando como influências, nomes como Jimi Hendrix (The Jimi Hendrix Experience), Jaco Pastorius, Neil Peart (Rush) e Rick Wakeman (Yes).
Veja a história do saudoso Dimebag Darrell (Pantera), talvez o último músico genial que desenvolveu o próprio estilo, mostrando que a rispidez do Thrash Metal podia ser conduzida pelas marcações do Groove. Entre suas principais influências estavam lá o nome de Ace Frehley (Kiss), Randy Rhoads (Quiet Riot, Ozzy Osbourne) e a dupla K. K. Downing e Glenn Tipton (Judas Priest).
Bandas como Ghost B.C. e Mastodon, que são duas das "queridinhas" do Metal moderno, também têm raízes fincadas nos anos 70, seja pela teatralidade, pelas doses psicodélicas nos arranjos, ou por suas referências musicais.
Quanto mais o tempo avança, mais o legado se fortalece e nada de novo acontece. O Thrash Metal, o Death Metal, o Black Metal e tantos outros subestilos que surgiram a partir dessas vertentes, tiveram papeis importantes na diversidade musical e evoluíram da eclosão setentista. Algumas bandas extremas como Entombed (ou Entombed A.D.), Carcass e Gorefest até assumiram o rótulo Death ’n’ Roll em determinado período de suas carreiras, enquanto que outras como The Hellacopters, Cathedral e Spiritual Beggars já surgiram com uma proposta "retrô".
Hoje, o Stoner Rock apresenta bandas excelentes como Rival Sons, Blues Pills e The Vintage Caravan, que nos faz perceber que não existe mais nada a ser criado, apenas lembrado, respeitado e reverenciado.
Finalizo este texto com algumas dicas que podem fazer você entender melhor essa onda do Stoner, para isso, procure ouvir algumas bandas clássicas como Dust, Budgie, Geordie, Free, Wishbone Ash, If, Procol Harum, Foghat, The Guess Who, Gentle Giant, Camel, Bad Company, Rare Earth, Iron Butterfly, Jefferson Airplane, Humble Pie e tantas outras. Procure também pelas mais obscuras, pois existe uma riqueza enorme na musicalidade de bandas que não tiveram tanta expressão na mídia. Três delas que não saem da minha ‘playlist’ são: Brainchild, Home e Iron Maiden (não confundir com o Iron Maiden de Steve Harris). Existe um "novo" mundo lá atrás que precisa ser explorado. Boa viagem e até a próxima parada!
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