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"Too Old Or Too Young To Metal": os conflitos das gerações

Por Marcos Garcia
Fonte: Marcos Garcia
Postado em 23 de outubro de 2011

Bem, ao caro leitor, este escrito tem por motivação o choque cultural entre várias gerações de fãs de Metal em nosso país, uma vez que o abismo entre ambos se torna enorme a cada nova leva de roqueiros que surge, e muitas vezes, por conta de uma simples palavrinha, que causa enormes conflitos ideológicos: atitude.

Nos mais velhos, em especial os remanescentes dos anos 80 (grupo no qual estou incluso), está a clara noção de que o estilo não é somente música, mas que deve gerar atitudes produtivas para si, e contra-produtivas diante de um sistema que excluiu e marginaliza seres humanos, a mesma atitude que leva pessoas comuns, com as mesmas dificuldades sócio-econômicas a matarem vários leões por dia em prol das cenas locais brasileiras, quando não pela mesma como um todo, criando webzines, fóruns de debate nas redes sociais, e mesmo batalhando eventos e produções.

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Isso vem devido ao fato que a maioria dos veteranos eram jovens nos últimos anos do Regime Militar, que ainda suspiravam pela abertura, e mesmo pela democratização na relação pais-filhos, onde, em geral, os pais falavam e os filhos "obedeciam" (muitas vezes, sob a fúria do cinturão de couro do pai). Esses fatores geravam revolta, e revolta gera atitude, a mesma atitude que permitiu que as portas do país se abrissem ao underground após o primeiro Rock in Rio, que trouxe um verdadeiro exército de novos bangers, ávidos pelo estilo, pois não era raro ver discos lançados pelas grandes gravadoras sendo feitos de aeroportos de poeira nas lojas, enquanto discos importados (que custavam os olhos da cara) saíam aos borbotões.

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Na época, bandas como SLAYER, METALLICA, MEGADETH, VENOM, DESTRUCTION, KREATOR, SODOM, ANTHRAX, BATHORY (sempre aparecendo nas páginas da Rock Brigade) e outros pontos comuns eram nomes certos na seção dos importados, mas que tinham rápida saída, às vezes quase em leilões, ao passo que, tirando gigantes como BLACK SABBATH, IRON MAIDEN, AC/DC, DEEP PURPLE e LED ZEPPELIN, outras como KING KOBRA, KROKUS, MÖTLEY CRÜE, ICON, BLIND FURY e outros, com suporte das ‘majors’ e de grande parte da mídia especializada (leia-se revistas e programas de rádio, já que o Metal nunca teve grande espaço em jornais e TV) davam prejuízos enormes, pois não vendiam. Acabavam virando encalhe.

Fora isso, ainda teve a atitude do Walcir, um herói para o Metal em nosso país, da loja Woodstock, de São Paulo, em transformá-la no selo Woodstock Discos e começar a pôr nas prateleiras as versões nacionais de discos do Underground. Se ainda me lembro bem, seus primeiros lançamentos foram ‘The Warrior’, do finado CHARIOT inglês, ‘Witch Hunter’ do GRAVE DIGGER e o ‘Endless Pain’, do KREATOR. Daí para frente, ele não parou mais, e acabou sendo um dos grandes incentivadores (não sei se de forma consciente ou indiretamente) do surgimento dos selos independentes da época, voltados mais para as bandas brazucas, e graças a atitudes assim, surgiram para a cena bandas como OVERDOSE, SEPULTURA, MUTILATOR, SARCÓFAGO, CHAKAL (todas pela Cogumelo Records), VULCANO (pela Lunário Perpétuo Records), DORSAL ATLÂNTICA (primeiro de forma independente, depois passou pela Lunário Perpétuo, Heavy, Cogumelo), AZUL LIMÃO (Heavy), CALIBRE 12 (Heavy), VIPER, VODU (esses dois últimos pela Rock Brigade Records), entre tantas outras.

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É, essa história é verdadeira, cheia de planos econômicos no governo tampão de José Sarney (que só foi presidente porque Tancredo Neves, eleito em janeiro de 1985, faleceu em abril do mesmo ano), do lançamento de uma nova Constituição Brasileira em 1988, do acidente nuclear em Goiânia, ou alguém achou que as coisas na época eram tão fáceis como hoje em dia?

No outro lado, está o jovem da modernidade, em sua maioria, moldados e alienados por diversos fatores (programas televisivos vazios de significado, educação familiar parca ou ausente, poucas noções de valores, educação escolar deficiente, entre tantos outros), mas que em geral, não têm a mínima noção de sua herança metálica, legada pelos mais velhos que sofreram o inferno na Terra. E muitas vezes, os experientes são vistos por esses como velhos senis, que nada mais têm a acrescentar à cena, e até mesmo chatos.

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O interessante neste ponto é lembrar que nos países desenvolvidos, os mais velhos são reverenciados por seus feitos, ao passo que por aqui, são tratados como lixo... A atitude na maioria dos mais jovens é quase que somente consumista, já que é comum ver os mais jovens com visuais antenados com o que há de mais em voga possível, adora beber todas (e mais algumas), sair com o máximo de parceiros(as) possíveis, mas não vai aos shows de bandas nacionais (‘está muito caro’, ‘as bandas brasileiras não fazem nada tão bom assim’, ‘são sempre as mesmas bandas’, entre outras alegações baseadas na repetição de argumentos usados ad infinitum), se faz cego diante da situação do país, com argumentos de ‘eu não posso mudar o mundo’, mas nem é preciso tanto, basta mudar a si mesmo e começar a ter atitudes produtivas; não lê nada, não estuda a realidade e nem a história do Metal (o que tem de novato que diz não gostar de DEEP PURPLE, BLACK SABBATH, LED ZEPPELIN e outros gigantes não está no gibi).

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Há uma força enorme no jovem, vinda da revolta diante do mundo em que ele vive, e só lhe falta direção e objetivo, e é onde nós, os mais velhos, podemos ajudar. É preciso ter atitude, como as vaias para o GLORIA no Rock in Rio (não sei se justas, pois não vi o show e nem mesmo conheço a banda), o mesmo para o NX ZERO, mas outras mais, como nos 80, quando usar uma camisa do SEPULTURA ou VULCANO era o mesmo que usar uma do IRON MAIDEN ou do SLAYER, pois a atitude que se aprende no Metal, e mesmo no Rock’n’Roll, é uma atitude que irá ajudar os mais jovens por toda uma vida, logo, procure os mais experientes, como o próprio Walcir da Woodstock, Ricardo Seelig, Bem Ami Scopinho, André Delacroix (do D.A.D, METALMORPHOSE e IMAGO MORTIS), Leon Manssur (do APOKALYPTIC RAIDS), Fábio Costa (organizador do Garage, no RJ), o pessoal da Cogumelo, ou outros das suas vizinhanças, pois eles (bem como este que vos escreve) têm um enorme prazer em narrar nossas estórias (me perguntem sobre a quando fui a BH ver o show de lançamento do Split do OVERDOSE e SEPULTURA. Eu tinha 16 anos e me custou 15 dias de castigo, mas fui assim mesmo), pois elas irão mostrar a atitude que tínhamos (e temos), e que podemos transformar as coisas para melhor sempre, pois o país está ruim, mas juntos, podemos melhora-lo, a ponto de sonhar com um festival das dimensões de um Wacken ou Party.San no Brasil, lembrando que nas versões brazucas do Monsters of Rock e no dia do Metal do Rock in Rio, sempre foi lotação total (eu que o diga na segunda versão do festival, pois estava quente no Maracanã)...

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E todo nosso conhecimento é a herança e direito dos mais jovens... Torno a dizer: não quero ofender quem quer que seja, e não é em todo jovem que não há atitude, mas em muitos, e isso precisa mudar, e juntos, os experientes e os novatos podem fazer a diferença, não só na cena Metal, mas na vida...

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Sobre Marcos Garcia

Marcos Garcia é Mestrando em Geofísica na área de Clima Espacial, Bacharel e Licenciado em Física, professor, escritor e apreciador de todas as subdivisões de Metal, tendo sempre carinho pelas bandas mais jovens e desconhecidas do público, e acredita no Underground como forma de cultura e educação alternativas. Ainda possui seu próprio blog, o Metal Samsara, e encara a vida pela máxima de Buda "esqueça o passado, não pense no futuro, concentre-se apenas no presente".
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