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O Martelo: Gustavo Schroeter, rock anos 70, A Bolha, e mais

Por Carlos Lopes
Fonte: O Martelo
Postado em 21 de julho de 2009

Gustavo é um cara cheio de histórias para contar. Ficou mais conhecido por ter sido o baterista da Cor do Som, uma banda setentista que mesclava principalmente chorinho elétrico com rock. Antes disso o músico havia militado na Bolha, ou The Bubbles, considerada a melhor banda carioca do início dos 70. Gustavo nos contou em detalhes a sua história pessoal tão intimamente ligada à cena musical deste país. O músico flamenguista roxo fez questão que fossemos conversar no seu recanto especial nos fins de semana: o quiosque do (falecido surfista) Pepê na Barra, no Rio onde Schroeter joga seu vôlei com os amigos.

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Botafogo, o bairro musical de um flamenguista

Quem te despertou para a bateria?

Tinha 15 anos em 66. O cara se chamava Robertinho, tinha 18 anos, tocava na banda Youngsters. Ele morava no terceiro andar do mesmo prédio que eu no Humaitá, perto do colégio Pedro II, onde estudei. Eu morava no oitavo. O Mamão (baterista do Azymuth) entrou nessa banda depois dele, acho ou foi ao contrário, não me lembro. O Robertinho já tocava nas boates. A gente fazia umas festinhas no prédio, uma farra e ele aparecia para batucar. Aí ele cismou de dar aula. Foi a rua inteira: umas 30 cabeças. Um mês depois só tava eu (ri). O resto achou um saco. Eu levava jeito. Montei uma bateria com as cadeiras, o sofá era o surdo, a cadeira também era o prato. Botava um Beatles na vitrola e fica acompanhando. Eu ia ser engenheiro ou médico e virei baterista. Hoje o Robertinho é advogado aposentado e mora em Petrópolis. Um belo dia no clube Gurilândia, no mesmo bairro, onde a rapaziada se encontrava, o cantor da banda Black Foot me chamou. Por sorte, tinha acabado de comprar minha primeira bateria. De tanto encher o saco da minha mãe, pobrinha, classe média média média, funcionária pública, ela se endividou toda e me deu uma bateria. Meu pai tinha falecido em 63, tinha 12 anos. Ele era gaúcho, durão, advogado, sabe como é. Comprei uma Pingüim de um tom tom só na Casa Clarim, ao lado do Teatro Carlos Gomes na Praça Tiradentes em janeiro. Foi uma fortuna: 1.500 cruzeiros. Ela pagou em 12 meses. Logo depois o cara do Black Foot me chamou, parece que tava escrito. Eu tocava de ouvido, não tinha essa historinha de ler partitura. Fui ficando bom. Em banda de baile são 100 músicas para um show de 4/5 horas. O repertório variado: hit parade, samba, pré-carnavalesco. Éramos adolescentes, novinhos mas a gente se virava. No Black Foot fiquei 2 anos, 67 e 68. Quando o guitarrista e o baixista saíram eu aproveitei e saí também, só queria tocar rock and roll, chega de baile. Uma menina chamada Miléia, uma tecladista muito boa com um Farfisa todo encrementado, que tocava na segunda formação do Black Foot, e que morava no mesmo prédio onde nós ensaiávamos acabou indo tocar com um grupo chamado The Cougars, empresariado pelo mesmo cara que geria os Bubbles e os Analfabitles, mas não lembro o nome dele... Como era mesmo? É o PVC, putaquipariu... Você sabe o que é PVC? A "porra da velhice chegando" (ri)!. Agora virou um pagodeiro miserável. Tocávamos no clube Monte Líbano (no Leblon) abrindo os shows dos Bubbles. As domingueiras e sabadões também rolavam em outros clubes na zona sul, como o Piraquê, o Caiçaras. Também no subúrbio, Cascadura e Méier. Lá tinha altas domingueiras foda. Era lotadaço, começava às 6 e terminava às 10, eram umas 4 bandas. Aí o baterista deles saiu, a Miléia se lembrou de mim e fui para os Cougars. Nessa época ia muito na Escola Americana em Botafogo ver o Bubbles tocar. Eles tinham um baterista chamado Johnny e eu ficava babando. Eles só tocavam heavy metal, quer dizer: Rolling Stones, Cream, essas coisas da antiga que a gente gosta. O Analfabitles era o light e os Bubbles era o pesado. Eu adorava os Bubbles.

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Era a única banda pesada do Rio?

Não. Também tinha o Red Snakes da Tijuca, do subúrbio que era na mesma linha.

Lobo da estepe ao vivo

Como você entrou na Bolha?

Bolha, não. The Bubbles. Tava fazendo o vestibular para engenharia em janeiro de 70. Tocava com uns meninos ricos, que moravam em apartamento duplex, tinham Mercedes. Aí o trio, baixo-guitarra-cantor veio com uma conversa que ia para os Estados Unidos fazer intercâmbio durante 2 meses. Eles disseram: vamos lá, a gente leva um som na Secondary School. Fiquei com aquilo na cabeça, pensando em comprar uns pratos turcos, nem sabia que era Zildjian; o pedal de bumbo Speed King que era o pedal da moda. Aí fui convencer minha mãe a me deixar fazer o vestibular no meio do ano e bancar minha viagem. Consegui convencê-la. Se dependesse do meu pai, acho que ia ser engenheiro mesmo (ri). O vestibular começou e peguei um avião. Era o 707. Foi tão emocionante que fumei um cigarro no avião, só porque era americano. Foi legal pra caramba. O pessoal gostou de mim, me convidavam para fazer jam sessions na casa dos outros, fora do colégio.

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Você assistiu alguma banda?

Aconteceu um negócio mais incrível ainda. A excursão tinha aquelas programações, a gente ia para casa de famíla e tal. Fomos para Miami, ficamos 3 dias depois seguimos para Jacksonville, uma cidadezinha no meio da costa, onde tem uma base naval poderosíssima. Fiquei na residência de um militar em uma daquelas casas americanas com gramadinho com um moleque da minha idade. Até saí em um dos destróieres. Um belo dia vi um cartaz na rua: Steppenwolf. Me tremi todo, fiquei todo arrepiado. Me lembrei que a excursão tinha uma programação com uns cantores da igreja não sei de onde. Rapaz, fiz uma revolução, pedi pelo amor de Deus para nos levarem para o show. A galera da minha idade me apoiou. Metade foi comigo para o show em um daqueles ginásios...

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Já existia PA?

PAzaço! De 3 andares de cada lado como é hoje. Depois que vi o show, falei é isso o que eu quero, não tem mais jeito. Quando acabou fiquei sentado na cadeira, não entendi nada. John Kay fazia umas Mis En Scenes meio que flutuando. Fiquei chapado. Fudeu! Depois íamos até Nova Iorque mas como tinha um metro de neve por lá, preferimos não arriscar, fomos para uma ilhota no sul da Flórida. Do caralho. Achei o máximo, aprendi a velejar, a família tinha um barquinho. Os três riquinhos da banda tinham poder aquisitivo para continuar na excursão, mas eu e o Paulinho, o guitarrista base (que depois cantou no Garganta Profunda) voltamos para o Rio e começamos a fazer um show enquanto a galera não voltava. Ele vivia numa cobertura e eu levei a bateria para lá. Nessa época me liga o Renato Ladeira dos Bubbles e me diz que o baterista Johnny ia sair da banda. Quase caí duro. Tudo o que eu queria na vida. Esse baterista tinha 16 anos era meio maluquinho, só fazia merda. Eu tinha 18. Aí pedi ao Paulinho que desculpasse mas eu iria aceitar, pois era tudo o que queria e falei, quando os caras voltarem dos Estados Unidos diga que eu já fui.

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O Brasil era muito atrasado em relação ao exterior na área de rock?

Claro que era. Na minha cabeça a coisa mais próxima era os Bubbles no Brasil inteiro.

Você tinha informação do que ocorria em São Paulo?

Era muito separadão, meio sectário. Os Mutantes quando vinham pro Rio tocavam com nosso equipamento que já era muito bom para a época. O Dinho tocou na minha bateria várias vezes. A gente já conseguia trazer pele de fora. Tava começando a vir. Minha Pingüim ainda era de couro, malandro! Era bom para dedéu. O som do bumbo era um estouro, mas esfriava ficava mole. Era um problema de afinação do cacete. Os caras resolveram isso com o náilon, que é estável, pode nevar que não muda nada.

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Você gravou o primeiro disco da Bolha, não é?

Exato. "Um Passo A Frente" de 72. Um disco trabalhoso. Eram músicas de mais de 10 minutos com apenas 4 canais para gravar. Imagina. Fora a distribuição irregular da Continental. Eram os primórdios da mídia. O legal é que esse disco teve a participação do falecido Luiz Eça do Tamba Trio com um solo fantástico de piano. Agora vamos colocar o melhor advogado do mundo para cobrar nossos direitos porque esse disco foi pirateado pela Progressive Rock com encarte em inglês, contando toda a história. Não vimos um centavo.

Antes foi o do Leno, "Vida e Obra de Johnny McCartney". Foi teu primeiro disco?

Bem... Acho que sim. O som do disco é mais fraquinho, não tem aquele peso mas eu gosto.

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O Raul Seixas foi o produtor desse disco.

Sim. Comecei a conhecer o Raul ali.

Como era a microfonação?

Era pouco: 2 ou 3 eu acho. Um assim no meio para pegar os tambores, um na caixa que pegava o contratempo e outro em cima. Era mais ou menos isso. Gravamos o disco da Bolha em 4 canais. A gente já ia mixando baixo e batera para dar espaço para fazer solo e voz. Em 75 em Londres no estúdio da Island records com o Jorge Ben eram 24 e no Brasil, 8. Na Inglaterra gravei com 8 canais só pra mim! Caraca, era de cair o queixo!

Qual o problema do rock brasileiro dos 70? A gravação ou as bandas que não sabiam compor?

Acho que o problema era mais a qualidade do som. Era o que mais incomodava. A diferença entre os discos importados e o que se fazia aqui já matava tudo.

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Bolhas flutuantes na Ilha de Wight

Você gravou o primeiro compacto da Bolha?

Não gravei o primeiro compacto (de 66). Foram o Ricardo batera e o Lincoln Bittencourt no baixo que hoje é um médico, um clínico geral respeitadíssimo. Continua tocando baixo pra caramba, toca no Analfabitles. Gravei o primeiro compacto da Bolha em 72. Nessa época o Jards Macalé era o produtor musical da Gal Costa. Ele foi ver a gente no Monte Líbano e se amarrou. A Gal, lembre-se, era roqueira, tinha cabelo black power. Aí fizemos um show antológico com a Gal Costa na boate Sucata, na Lagoa, em um subsolo maneiríssimo.

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Devia ser parecido com o Cavern Club...

É. Foi o Hélio Oiticica quem fez o cenário. A gente ficava atrás de uma cortina de filó. Nesse show tinha 3 metais, acho que tinha o falecido Oberdam (da banda Black Rio). Aí o Arnaldo (Brandão) que era mais ligadão nesses lances lá de fora, tanto que depois que ele saiu da Bolha foi morar em Londres dois anos, andou com os caras dos Rolling Stones, o Mick Taylor andou na casa dele no Rio. Aí o Arnaldo falou, precisamos comprar equipamento, cabeçote. Queria tocar dois bumbos, comprei um Premier em Londres, enfim. Decidimos ir para a Inglaterra na época de um show que iria ocorrer em uma ilha, em Wight. Vai ter Jimi Hendrix, ele disse.

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Aí você recorreu à mãe de novo?

(Rindo). Não. Eu já tinha uma grana. Havia feito o vestibular em julho. Viajamos em agosto. Acho que ela me deu algum dinheiro mas foi diferente. Aí a Gal soube e quis ir também. O Caetano e o Gil estavam exilados lá, ela se animou, disse que estava com saudades deles. Ela era um amor de pessoa. Deve ser até hoje. Ela falou com o empresário, o Guilherme Araújo. Malandrinho ele arrumou 3 shows em Portugal para a Gal por uma merreca, acho que 70 dólares. Passamos uma semana em Lisboa antes de ir pra Londres. Fomos ver aquela tourada portuguesa em um tal de Campo Pequeno, que o toureiro não mata o touro. Vimos o cara ser carregado por causa de uma chifrada. Caetano veio de Londres para encontrar com a Gal.

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Fizemos um programa de tevê famoso na época, de um humorista chamado Raúl Solnado gravado no teatro Monumental de Lisboa. Depois fomos pra Londres. O Caetano e o Gil moravam em um apartamento triplex, etc e tal. Ainda éramos os Bubbles. Ficamos dois dias na casa deles, mas a gente não ficava à vontade, sabe como é. Aí um cara de São Paulo, Cláudio Pedro, que morava lá com a grana do pai, nos chamou para ficar com ele. Já residia há 5 anos em Londres. Na casa dele tinha 4 quartos, tinha umas 20 pessoas, um montão de malucos, uma zona, incluindo o André Peticov, um artista espetacular que fazia casacos de couro para ganhar dinheiro, cheirava a cola dos casacos. Fiz casaco com ele. Era hilário. Tomávamos nossos ácidos e tal. Rapaz era uma coisa... Ficamos lá 20 dias antes de ir para a ilha de Wight. Tinha gente que aparecia lá, ficava 2 dias e sumia. A polícia batia na porta procurando pela pessoa que tinha fugido de casa. Fumávamos haxixe à vontade. Aquela porra. Esse Cláudio Prado tinha um porção de instrumentos de percussão, de conga, bongôs até sininhos e fomos todos, os Bubbles: Pedrinho, Arnaldo e eu, mais a Gal, Caetano, Gil etc. O único que não foi, o Renato Ladeira não pôde porque a mãe não tinha deixado ele viajar porque ele estava mal no colégio, não conseguiu terminar o segundo grau. Coitado. Perdeu essa.  Chegamos na segunda. Dormimos em um galpão enorme, inflável. Dava 2 mil pessoas lá dentro. Ficava passando desenho do Walt Disney com som do Pink Floyd! Engraçado pra caraca (ri). Tinha que levar uma carimbada para sair e poder voltar.

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O Cláudio Prado tinha uma amiga francesa, que chegou na terça, dona de uma daquelas barracas em formato de cone de índio americano. Armamos duas barracas em um descampado com a bandeira no Brasil no meio. Isso atraiu um monte de brasileiros, gaúchos, paulistas, vários. Começaram a usar a parede das nossas barracas para fazer gomos, outras barraquinhas. Agregou uma porção de gente. Aí ficamos, Caetano e Gil fazendo um som na grama. Juntava uma porção de gente. Tinha um amigo deles, um flautista que conhecemos lá em Londres e um guitarrista holandês que tocava um 12 cordas, amigão deles também. Quando a gente olhava tinha um monte de gringos sentados olhando a gente tocar. Era uma farra musical.

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Na quarta começou o festival. Eram bandas underground que ninguém conhecia. Eu ia ver tudo. O Arnaldo, Pedrinho tudo fissurado. Eu comprei um gravador de bolso da marca Crown daqueles mono e ficava gravando aquele troço, tanto nossas levadas de som como os shows dessas bandas. Na noite de quarta o Cláudio Prado veio com um papo de emprestar o gravador para ele. Emprestei e depois ele apareceu dizendo: "Mostrei pros caras da produção do festival. Amanhã todo mundo no palco!" Nem consegui dormir naquela noite. Já pensava como ia fazer para tocar bateria. Na verdade era para fazer aquele som acústico que a gente fazia na barraca. Esse era o diferencial. Tinham vários palcos alternativos fora do principal. Ali era um cercadão que dava 200 mil pessoas com aquele super de 30/50 metros com aquelas paredes de 3 andares de caixas com aquela plaquinha: "Não nos responsabilizamos com os ouvidos de vocês a menos de 5 metros de distância." Às 11 da manhã fomos para o palco, nós e vários malucos que ficavam sacolejando bagulhinhos, uns 15. Tocamos o repertório do Caetano, todos sentados no chão. A que mais me marcou foi "Aquele Abraço", a do Rio de Janeiro, que tava começando na cabeça do Gil. A Gal cantou também. O povo curtiu pediu bis e o cacete. Foi diferente pra burro. Teve coisas hilárias. A francesa tinha uns sleeping bags vermelhos que levamos para o palco. Tinha gente que não tinha o que fazer, ficaram entrando dentro deles, dançando. Mais psicodélico impossível. Depois ficamos no cercadinho na grama com cadeirinha, com os cinegrafistas naquele semicírculo com um raio de 50 metros. A Gal, o Caetano e o Gil ganharam ingressos para todos os outros dias, mas nós não. Mas como os caras não conheciam nossa malandragem de brasileiro, em meia hora já tava todo mundo lá dentro de novo. Vi todos os dias, tudo de pertinho. Aí fudeu tudo! Alvin Lee de tarde com o Ten Years After; Chicago; o Sly and Family Stone que levantou a galera quase de manhã de sábado pra domingo. Começou todo mundo a dançar as 7 horas da manhã. Vi o Ian Anderson do Jethro Tull na minha cara. Vi a ópera Tommy do The Who na minha cara! De Madrugada, lindo, duas horas da manhã. Botaram uns holofotes do exército em cima do palco virado pra platéia. Keith Moon, fissurado. E o Steppenwolf só tinha sido 6 meses antes! Lembro que quando subimos no palco vimos que atrás das caixas tinha escrito The Who. Ainda era uma coisa meio mambenbe, juntavam o equipamento de todo mundo. No domingo de tarde tinha a maior fila naquele gramadão para pegar os ônibus que passavam na estrada. E me perguntei porque esse povo tava indo embora "se ainda ia ter o Hendrix?" Concluí que os caras tinham que voltar para trabalhar e já deviam estar cansados de ver o Hendrix, só eu que nunca tinha visto. Eram 200 mil pessoas dentro de um cercado metálico de latão de 5 metros e lá fora mais de 300 mil. Era muita gente. No início era fácil chegar na nossa barraca. Na sexta-feira já tinha que pular, pisando em corda, caindo no chão, cheio de estradinha, restaurantezinho. Era um bololô de barraca misturado. Agora o Hendrix me deixou arrasado, malandro... Era uma mistureba. A gente ouvia muito no Brasil o "Band of Gypsys" e quem entrou no palco era o Mitch Mitchell e não o Buddy Miles.

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E a diferença de técnica entre os dois bateras do Hendrix? Como era o estilo de bateria da época?

Os bateristas daquela época tocavam mais solto, mais viajante. Hoje em dia nêgo preza muita marcação, precisão. Keith Moon era um aloprado, virava pra caramba. Havia uma energia que rolava ali que tudo dava certo. Esses foram meus ídolos. Depois foram o John Bonham e Billy Cobham o baterista da Mahavishnu Orchestra. Ele tocou lá em Montreal quando estivemos lá. Mas não terminou aí não. Quando o festival de Wight acabou soubemos que ia ter um show dos Stones em Paris. O (empresário) Guilherme Araújo tinha uma amiga francesa e ele pediu que ela comprasse os ingressos que a gente pagava depois. Fomos pra Paris, passamos 2 dias na casa dela para ver os Rolling Stones em setembro de 1970. Já era o Mick Taylor na guitarra. Depois em 75 vi com o Dadi em Paris, durante uma tournê do Jorge Ben, um outro show deles com o Billy Preston no teclado. Até deixaram ele tocar sozinho duas músicas dele com uma outra banda. Olha que elegância. Maneiro! Muita emoção nessa época. Putaquipariu. Voltamos pro Brasil tudo torto no avião, sarrando as mulheres. O Eric Clapton tava na platéia. Tinha uma banda de negão tocando antes. Eles o chamaram para subir e levar um som. Não queria mais nada: Rolling Stones e Eric Clapton e eu só tinha 19 anos! Minha cabeça pirou. Quando chegamos no Brasil decidimos parar de fazer covers desses caras porque vimos que não dava para fazer igual. Decidimos escrever as nossas próprias composições. Vamos seguir outro caminho. Nós radicalizamos, o empresário ficou doido! Ele vendeu um show nosso para o ginásio do clube Tamoios em Niterói anunciando assim: "Diretamente da Ilha de Wight os Bubbles." Aí tocamos só as nossas músicas que tínhamos composto em alguns meses. Ninguém entendeu nada, foi todo mundo embora. O empresário quase arrancou os cabelos. Aí decidimos misturar os covers com nossas músicas. E assim foi andando. Até que saí da banda em 74 porque o negócio tava fraco. Depois pintou a abertura do show do Bill Halley no Brasil mas eu também já tinha saído do Veludo pra tocar com o Jorge Ben. O Elias que era o tecladista e compositor ficou louco. Queria de qualquer maneira que eu não saísse.

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E suas fitas de Wight? Que fim levou?

Sumiram. Perdi com minhas mudanças. Como só tinha 3 ou 4 fitas gravei tudo do festival. Mostrava pros meus amigos. Mas nunca mais vi.

Jorge Maravilha

O que você gravou com o Jorge Ben?

"Solta o Pavão" em 75; "África Brasil" de 77... Tem o ao vivo no Olympia em Paris em 76.. Agora eu nunca soube porque esses negócios gravados lá fora nunca tiveram boa divulgação...Tenho um disco maravilhoso gravado em Londres depois de ter ficado duas semanas no Olympia, era  Jorge Ben e o Jair Rodrigues lá! Imagina! Esse era uma peça: de paletó e gravata, plantava bananeira no palco, um figuraça cara! Era lotado todo dia! Era do caralho! Duas semanas incríveis, muito bom. E depois por já estarmos na Europa fomos convidados por aquele cara, Chris Blackwell o produtor do Traffic para gravar no estúdio da sua gravadora Island records. Fiquei emocionado pra caralho, o mesmo estúdio onde o Traffic gravou. O Jim Capaldi (baterista) foi buscar eu e o Dadi no hotel. Ele era casado com uma menina brasileira, a Aninha Capaldi. O Jim faleceu recentemente. Tinha um espaço na casa dele que tinha 450 anos, depois um outro espaço reservado para arte moderna em volta de uma piscina, tudo certinho. O cara morava meia hora fora de Londres. O cara era a maior elegância. Teve outro dia que não tinha gravação, que teve uma comemoração com a Embaixada. Tinha uma parte do estúdio grande para gravar orquestra onde armaram um palco lá dentro. O Jorge ficou até meio puto. "Eu vim para cá para gravar, não para tocar", ele disse. Ele ficou meio chatonildo, mas não entendi o porquê. Era a hora de conhecer os caras que ele nunca tinha visto na vida. Nem sei se ele sabia o que era o Traffic. Aí eu e o Dadi tocamos com o Steve Windwood no piano, cara!  Foi foda! E o Jorge meio putinho, foi embora da festa cedo, todo marrento, burro pra caralho. Perdeu a chance de fazer uma interação com as novidades. Esse disco que o Jorge gravou é todo pop. Baixou um pop dentro dele lá em Londres. Tem uma gravação de "Chove Chuva", meio assim, o maior suíngue. Você só sabe que é "Chove Chuva" quando ele começa a cantar.

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Depois desse começo você acabou indo estudar bateria, certo?

Acabei fazendo faculdade de música em 71, após desistir de direito. Confesso que não exigiam muito. Hoje em dia é tanta coisa que pedem que daqui a pouco não tem mais nada para aprender lá dentro. Não fiz bateria, fiz arranjo e composição, aprendi a fazer linha de 4 vozes, canto coral, essas coisas Depois tive aula com o Bituca durante 6 meses, que era baterista da Globo, tocou naqueles festivais, os FICs.

A louca metade dos anos 70

A Cor do Som era mpb?

Engraçado... Essa coisa de rótulo é foda. Eu achava que era um rock misturado com música brasileira, a coisa que nós começamos a fazer antes de todo mundo. Os Novos Baianos levaram esse enfoque naquela época e nós levamos adiante. O Armando (guitarrista) apesar de ser do trio elétrico nasceu ouvindo Jimi Hendrix. A inspiração de todo mundo foi basicamente rock and roll. Claro que cada um teve o seu caminho: eu fui tocar samba com o Jorge Ben, tocar mpb com o Moraes Moreira de onde surgiu a Cor do Som...

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Foi nessa banda que você viu grana pela primeira vez?

Foi nessa época que o negócio começou a ficar interessante, mas eu nunca vi essa grana que o pessoal recebe hoje em dia. Aluguei um apartamento de três quartos bacana, elegante pois tive 3 filhos cedo, mas não comprei, sacou? Esse foi o motivo porque saí da Bolha. Tinha 21 anos, recém casado e a banda começou a ficar devagar. O Raul Seixas me chamou para tocar com ele em 74. O dinheiro de 3 shows pagava o meu aluguel. Depois fui descobrir que o Raul não era muito de fazer show e fui para o Jorge Ben.

O que você gravou com o Raul?

Essa que tá no disco (novo) da Bolha: "Não Pare Na Pista". "Como Vovó Já Dizia", aquela do "quem não tem colírio usa óculos escuro".

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Lembro de você tocando no filme do festival "Hollywood Rock" de 74.

Exato. A primeira formação era com o Rick Ferreira e o Ivan, um baixista muito bom que andou tocando com o Jorge Aragão. Depois veio com Arnaldo Brandão no baixo e Fredera (Som Nosso) na guitarra. O Raul era aquele louco, a gente ia atrás dele e vamos em frente. Na época fiquei abismado com o sucesso monstruoso dele com "Ouro de Tolo". Nunca tinha visto um negócio desses. Era 73. Aquela música chapou minha cabeça. Mesmo depois de sair da banda, continuei a conviver com o Raul, mesmo depois quando ele casou com a Kika.

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Você acredita que o Raul foi o maior roqueiro da época? O mais inteligente, perspicaz?

Acho que sim. Ele fez um rock na época da Ditadura que era foda. Toda hora tava no DOPS (Departamento de Ordem Política Social). Teve um show em Brasília em 75 em um ginásio grandão, Colégio Marista e o Paulo Coelho foi junto. Nos intervalos o Paulo fazia uns discursos. Eu pensava "É hoje. Ninguém mais sai de Brasília". Vi a polícia nos cantos, mas não aconteceu nada de grave. Havia essa preocupação: ainda vou ser preso um dia com esse cara. Não é possível (ri). Eu admirava o Raul por esse lado. Sou fã do Iê-Iê-Iê, Jovem Guarda, sou fã do Erasmo Carlos pra caralho, do Roberto, do Ed Wilson que foi meu vizinho de porta, na Afrânio, na Pereira Guimarães no Leblon mas o Raul era foda.

E sobre o começo dos problemas com a Cor do Som?

Quando o Armando saiu foi um branco geral. A gente não esperava. Não soubemos administrar na época. Entrou o Victor Biglioni que tocou em 2 discos. Ele não se adaptou muito, tinha um estilo diferente do nosso. Ele era mais americanizado, aquela coisa mais jazz. Também por coisa de comportamento, tivemos umas desavenças. Hoje quando a gente se encontra, ele diz: "Não sei como vocês me aturavam. Eu era chato pra caralho." Eu sempre respondo: "Era!" E ele ri. Mas é um amor de pessoa, a gente fala sobre essas coisas folgadamente. Depois veio o Carlinhos Santana mas não tinha mais aquele élan, aquela química que havia com o Armando. Nunca mais foi igual. Se a gente soubesse teria deixado ele fazer o trio elétrico dele, mas sabe como é, os empresários na maior pressão, dois meses viajando o Brasil inteiro e ele só queria uma brecha. Mas como o Armando tinha ficado famoso e tava levando o trio elétrico nas costas, a família dele toda quis aproveitar esse pedaço também, claro. Quando fomos apresentados pelo Moraes para gravar o seu primeiro disco solo (Som Livre – 1975), eu nem sabia o que era trio elétrico. Já conhecia o Dadi (baixista) da praia, da Bolha, Novos Baianos mas não de tocar juntos. Foi ele quem me deu o toque: "O Moraes tá precisando de um batera." Foi assim que a Cor do Som nasceu. O Mú Carvalho (tecladista) era novinho, tinha uns 17 anos, quando gravou duas músicas para esse disco. O primeiro disco da Cor foi gravado em São Paulo em 77. O Joãozinho percussionista, o baixinho que tocava com o Jorge Ben, que tocava conga pra caramba, participou do disco, mas na foto da capa só aparecia nós quatro.

Li uma entrevista do André Midani, presidente da Warner na época...

(interrompendo) O André foi fundamental. Foi ele quem convidou a gente na cara dura. Ninguém cantava porra nenhuma. Mas a gente misturava rock and roll com mpb, tínhamos um a pinta bacana, todos bonitinhos. Ele viu tudo aquilo ali mas ele mesmo não agüentou porque a gente fez dois discos instrumentais, que não venderam porra nenhuma. Mas a matriz pressionou e a voz entrou no terceiro. Foi uma coisa que aconteceu meio que naturalmente. O Dadi convivia muito com o Caetano (Veloso) e a coisa foi fluindo, fluindo. As composições do Caetano e do Gil sustentaram o disco. Mais uma música do Moraes com o Mú "Swing Menina". Eram sete instrumentais mas as que sustentaram o disco o ano inteiro foram as três cantadas.

Mas e o caso do "Maria Fumaça" da Banda Black Rio que teve ampla repercussão, mesmo sendo um trabalho instrumental e até hoje é continuamente lembrado?

É porque tocava na rádio FM, na Rádio Cidade, a primeira das FMs eu acho. A gente tocava lá também, mas não tocava na AM e o povão desse Brasil inteiro quer cantar... A gente vendia 50 mil discos, hoje vendem 500 mil. A diferença é brutal.

Voltando ao Midani, certa vez ele declarou que o rock da geração dos 80 nasceu como ruptura contra o tradicional, com o rock da década anterior, representado por bandas como a Cor do Som e o 14 Bis.

Foi ele que falou isso? É de uma visão meio diferente porque ele é um cara estrangeiro. Eu vejo como uma coisa diferenciada: nosso primeiro disco tem bandolim, chorinho com uma pegada forte. Na época participamos do festival de chorinho da Bandeirantes. Tiramos o quinto lugar com um montão de banda tradicional, só aqueles quartetinhos.

De certa forma, é uma história parecida com a do Bob Dylan que enfrentou a platéia folk do tradicional festival de Newport (em julho de 65) empunhando instrumentos elétricos. A diferença é que ele foi execrado e vocês desbravaram, conquistando seu espaço.

E com tudo elétrico! Tinha um crítico famoso na época, o Tinhorão, que era durão para caramba, elogiou a gente em um jornal dizendo que apesar da guitarra fazíamos música brasileira. Exatamente assim. E era um cara que elogiou pouca gente na vida. Fiquei todo arrepiado na época. O Armandinho era um cara que misturou muitas influências. Ele criou a guitarra baiana com o pai dele, mas ele havia tocado guitarra tradicional durante anos antes da invenção desse instrumento.

Você tem 3 filhos, sendo que um deles foi baterista do Planet Hemp. Já conversaste com ele sobre os altos e baixos da carreira?

Sim, ele ouviu mas acho que ele partiu meio decepcionado com um trabalho misturado com música brasileira no qual ele estava, que tava ficando muito bacana. Por causa de desavenças acabaram tirando ele da banda. Ele ficou decepcionado e menos de um mês depois recebeu esse convite do hardcore. Foi com a cara e a coragem e resolveu não voltar. Também, o lado cultural da coisa que envolveu ele lá. Eu entendo. Ele foi com 22/23 anos, muito jovem. É época de viajar mesmo. Tem que aproveitar que é jovem e solteiro. Quando fui para a Europa em 75 já era casado e tinha filho, não rolou mas se não tivesse família, teria ficado por lá (ri).

Resuma sua história nesses 40 anos.

Acho que tenho mais fama do que dinheiro (ri). Não é que eu pense só em grana, mas a gente tem que viver com dignidade. Pela minha história musical eu merecia estar melhor, mas não me arrependo de nada do que fiz. Parece que os precursores morrem pobres e os outros é que ficam ricos (ri). Não é uma verdade absoluta mas é um grande gancho. Novidades? Com a Cor do Som gravei um belo DVD no Canecão no Rio, um projeto maravilhoso dos irmãos Miller e gravei "É Só Curtir" o novo disco da Bolha que tá foda. Convidaram o Renato Ladeira para ser diretor artístico do filme 1972. Ele me ligou após 30 anos para gravarmos 4 músicas para o filme, o que acabou gerando um novo disco da Bolha com 11 faixas das antigas, a maioria que não havia passado pela censura da época. Era só papo de ácido, trouxinha, maconha, quero viajar, já viu né? Só doideira. A única que havíamos gravado nos 70 foi "Sem Nada" lado B do compacto com a faixa "Dezoito e Trinta", a música que tocamos no Festival da Canção em 1971. A composição era dos gênios Eduardo Souto Neto e do poeta, cabeludo até hoje, Geraldinho Carneiro. A música era meio sambeada mas acabamos dando uma cara rock and roll a ela. Ganhamos o prêmio de melhor banda mas não ganhamos o festival.

"Temos o troféu até hoje", Gustavo finaliza a entrevista sorrindo com um copinho de cerveja gelada.


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Sobre Carlos Lopes

Carlos Lopes é jornalista, músico, produtor e escritor. No início dos anos 80, ele fundou uma das bandas de metal mais populares do Brasil, a Dorsal Atlântica, onde era guitarrista, compositor e vocalista. Foi a primeira banda da América do Sul a fundir punk e metal. Entre 1981 e 2001, gravou oito discos com a Dorsal, sendo o último produzido na Inglaterra. Em 2005 regravou o primeiro álbum da Dorsal (Antes do Fim), que foi eleito pelos leitores da revista Rock Brigade como um dos melhores trabalhos da temporada. Há seis anos comanda duas bandas de rock, a Mustang e a Usina Le Blond, cada uma já com três CDs de estudio. Como jornalista e escritor, colaborou desde cedo com desenhos e textos para várias publicações e fanzines. Formou-se em Jornalismo na Faculdade da Cidade no Rio de Janeiro. Desde 2006, edita o site www.omartelo.com.
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