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Resenha - Shadows Collide With People - John Frusciante

Por Vicente Moschetti (Dying Days)
Postado em 07 de maio de 2004

Aqueles que mostram-se seletivos com relação à música que escutam fatalmente concordam que as mudanças na carreira de um artista são, via de regra, um bom indicativo de que o mesmo está sempre em busca de evolução. São raros os casos onde discos mais-do-mesmo podem se destacar e, à medida que a exigência do ouvinte vai se desenvolvendo, parece um consenso que as mudanças são' necessárias em uma discografia de

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respeito. R.E.M., Smashing Pumpkins e Radiohead são exemplos de bandas que só encontraram o conforto no desafio, gerando discografias tão elaboradas que cada disco responde por um universo individual, podendo trafegar do mais puro acústico ao mais perturbado gênero industrial.

Em alguns casos, essas mudanças moldam a expressão de forma tão forte que elas passam a caracterizar determinados artistas, deixando os ouvintes incertos do que pode acontecer em um novo lançamento, se as baterias darão lugar aos samplers, se as guitarras se renderão aos violões. A única certeza que se tem é que um novo disco será diferente dos anteriores. A carreira de John Frusciante não deixa de ter essa característica como marca registrada. Se em seus dois primeiros discos ele catalizou músicas oriundas de outras dimensões psíquicas num formato de difícil assimilação, em seu terceiro álbum ele encontrou com primor o caminho que combinou a irredutível veia artística com uma linguagem mais acessível. Em cima deste último formato, John escreveu um conjunto considerável de músicas, que encontrou seu caminho em "To Record Only Water For Ten Days", no virtual "From The Sounds Inside" (distribuído em MP3) e na trilha sonora do filme "The Brown Bunny". Nos três trabalhos mencionados, o fio condutor era o equilíbrio entre suas ambições musicais e o formato amigável das canções. Desde então, John passou a apresentar uma crescente melhora em sua comunicação com o mundo exterior (leia-se carreira comercial e mídia), falando abertamente sobre seu passado e declarando-se um artista empolgado com seus projetos e com seu trabalho nos Red Hot Chili Peppers. Em "By The Way", último disco dos Peppers, John foi responsável por algumas mudanças sonoras da banda, que passou a explorar outras linhas que não o tradicional funk californiano. Naquele álbum, as melodias foram exploradas com inéditos traços de requinte, típicos do guitarrista, e os backing vocals consagrados, deixando boas perspectivas em seus futuros passos. Perspectivas essas que levavam a crer que "Shadows Collide With People" marcaria um avanço ainda maior na proposta musical de sua encarnação solo, talvez a obra que refletisse seu desenvolvimento dos últimos seis anos em um formato definitivo. Erramos.

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John não abriu mão das mudanças, de fato, elas são as mais palpáveis e estruturais até o momento. Se até então sua música era resultado de um trabalho solitário, de voz, violão, guitarras, baterias eletrônicas e uma máquina de gravação, em "Shadows" ele recorre à ajuda do baterista Chad Smith, colega nos Chili Peppers, cujas baquetas "reais" influenciaram significativamente o clima das músicas. Ele abre espaço ainda para outras pequenas contribuições de Flea (baixista na música "The Slaughter") e de Omar Rodriguez (guitarrista do The Mars Volta, aqui pilotando uma slide guitar em duas faixas). Mas o que define decisivamente as bases do trabalho é a colaboração do amigo Josh Klinghoffer na concepção e gravação das músicas. Josh, integrante da banda The Bicycle Thief, é um jovem multi-instrumentista que exerce um papel significativo no disco, responsável pela execução de instrumentos e composição conjunta de algumas faixas, chegando a contribuir com vocais em "Omission". A interferência do colega é tão grande que "Shadows" levanta suspeitas quanto a ser ou não a continuidade da discografia de John, uma vez que muitas características de sua música acabam irreconhecíveis no disco. Para consagrar as mudanças, o disco foi gravado em um estúdio real, o que resultou em uma sonoridade grandiosa, limpa, distante do lo-fi característico de seus discos. Tudo isso somou-se na produção de um álbum mais conservador, com preocupações em torno de fazer com que os ouvintes "mais tradicionais" não torcessem o nariz à aspereza que parecia tão confortável ao rapaz.

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Em alguns momentos, as influências de John pedem passagem e são reverenciadas sem pudor. "Second Walk" e "This Cold" representam a verve punk rock do rapaz, herdada da admiração de bandas como Clash e Germs, que na verdade destoam muito do estilo habitual do compositor, não servindo nem para denegrir, nem para acrescentar ao conjunto. "Water" faz referência fiel à new wave dos anos 80. Uma linha debruçada sobre baladas permeia o disco, algumas simples demais, outras com pontos positivos. Pela primeira vez, faixas com calibre de hit que podem facilmente tocar em rádios rock, como "Song To Sing When I'm Lonely" e "Wednesday's Song" (e dito isso, fique à vontade para compará-las a qualquer soft-hit dos Chili Peppers pós-Dave Navarro). As letras abertas revelam o artista que sobreviveu à peste do estrelato e hoje não mais se preocupa em pisar em ovos, dando-se o direito de conduzir as coisas como bem entende. Tamanha lucidez permitiu que seus atributos vocais fossem melhorados, alterando ainda mais a personalidade do John que conhecíamos e levantando questões quanto aos benefícios que essa recuperação trouxe à evolução de sua música. Ele parece esquecer que muita coisa bacana em seu disco anterior vinha dos flertes eletrônicos, dos blips e boings que batiam de frente com a acústica rudimentar, fruto do apreço por bandas como New Order, OMD e Human League. Interessante observar que em "Sahdows Collide With People" John faz uso de sua experiência recente com o The Mars Volta, banda célebre em utilizar ruídos e experimentos em comunhão com bases convencionais de canções. Quando John "suja" as canções do disco com esses recursos, as faixas fogem do convencional para obter destaque, como o caso de "Every Person" e "Cut-Out". Já as faixas instrumentais, entretanto, saíram como depósitos das brincadeiras com aparelhos digitais, vinhetas que estão lá mas não se comunicam com o restante do disco, que busca um som grandioso e pomposo, saturado em alguns momentos. Do John que todos esperavam, poucas canções vestem o traje com clareza. "The Slaughter" fica muito próximo ao que o disco seria se a linha de suas canções fossem uma evolução da safra anterior. Momentos superiores de melodia merecem destaque em "Time Goes Back" e "In Relief", caso onde a grandeza da música recebeu o arranjo cabível, combinação refletida em um balanço mais equilibrado, marcando momentos em que melodias teimam em deixar a cabeça do ouvinte horas depois que desligou o som e já está a quilômetros de casa. Uma grata surpresa é "Chances", com levada quebrada, slides de Omar e tom esquisito, momento onde John oferece o improvável e acerta em cheio.

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No saldo final, um disco que reflete mudanças grandes demais para os pequenos passos revelados no decorrer da carreira de Frusciante. São raros os momentos onde é possível encontrar a eficiência automática tão presente na sua discografia, sendo que as novidades propostas não oferecem um grau de satisfação suficiente para que se justifiquem. Difícil determinar o real destino almejado pelo rapaz, uma vez que ele se distanciou do que fez em sua carreira solo sem de fato se aproximar do conforto que recebe nos Chili Peppers. De fato, vai se complicar aquele que tentar entender os caminhos traçados em "Shadows Collide With People". Tudo indica que é a química de um momento onde contribuições externas e influências musicais parecem muito relevantes na vida do rapaz, fatos esses enraizados no cerne das canções. Confuso e amplo na sedimentação, confuso e amplo no resultado final.

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