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Iron Maiden: O peso da história, em "The Ides of March" e "Genghis Khan"

Por Rodrigo Contrera
Postado em 28 de fevereiro de 2017

Iron Maiden - Mais Novidades

Continuando minha saga de artigos comentando músicas clássicas de nossa paixão em comum - o Iron Maiden -, meto-me aqui a tentar contribuir para aumentar ainda mais nossa fixação em comum sobre dois clássicos dos clássicos: The Ides of March e Genghis Khan, ambos presentes em Killers, considerado recentemente um dos 50 álbuns de heavy metal mais revolucionários da história (a menção está aqui). The Ides of March e Genghis Khan são, como todos sabem, ambas faixas instrumentais. Nesse sentido, nada temos a falar sobre alguma história sendo narrada, ao menos em palavras. Mas quanto podemos falar sobre a história sendo apresentada pela mera música! Muito. Muitas páginas. E quanto podemos apresentar de materiais a respeito! Muito. Tentarei começar aqui neste artigo.

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Um excurso pessoal

Antes, um excurso pessoal sobre o álbum. Killers. O nome já diz. Veio para matar. Veio para acabar. Tenho o álbum em LP e CD (assim como em gravações não autorizadas). Um álbum que eu comprei com meus 18 anos e pouco, não me lembro onde, mas deve ter sido em alguma loja do centro de São Paulo. Um LP que ouvi a não poder mais, numa vitrola antiga dos meus pais (que minha mãe ainda possui), jogando o alto-falante para o banheiro de nosso apartamento no Sumarezinho, onde eu colocava no máximo.

Tudo nesse álbum me era interessante. Tudo me fazia (e ainda me faz) admirar o som. Um som pesado, com uma pegada ainda meio similar à era punk, com a voz inconfundível e inimitável do Paul Di'Anno (que um dia encontrei no elevador do lugar em que eu trabalhava, mas com quem não falei), e com os excessos de uma gravação perfeita mas exagerada. Pois sabemos que em determinados momentos de algumas faixas a banda se deixa levar. A gente sente. O Iron não está nem aí, ao menos nessa época, em deixar faixas bem gravadas, limpas, que ficariam para a história. O Iron, naquela época, fazia história apenas e simplesmente sendo como ele era. A gente vê pelas fotos. Vê pela cara dos sujeitos. Uma banda de pub londrino, forte, com pegada de rock mas com algumas coisas ainda não muito bem compreendidas (ao menos na época).

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O rock

Antes de mais nada: eu não conhecia quase nada de rock, à época. Não havia sido apresentado aos luminares dos 50s e 60s. Mal conhecia o rock dos anos 70, que eu ouvia, com um amigo, em LPs, no apartamento da família dele, no térreo de um belo prédio numa travessa próxima da Avenida Paulista. Com ele, que eu chamava de Carioca (embora o nome dele fosse Antônio Luís), por ser de lá, eu conhecera o AC/DC (que não me causara grande impressão), os Scorpions, e outras bandas clássicas daquele final dos 70s. Mas o Iron eu vim conhecer somente depois, sozinho, quando fui defrontado com The Number of the Beast, um disco que eu comprei com o primeiro salário que ganhei na vida (a comissão pela venda de uma Bíblia), e que passei a acompanhar na TV, nos poucos programas de rock que existiam naquele tempo.

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Lembro-me de que comprei o primeiro disco (homônimo) da banda depois de The Number of the Beast, e que ele me causou uma impressão avassaladora. Eu ouvia aquela coisa mal gravada e adorava. Adorava a estridência das guitarras, o jeito estranho de algumas faixas, com idas e vindas, ritmos truncados ou cortados, e especialmente o baixo, que embora tivesse sua sonoridade parecia algo bem mais selvagem. Eu iria também comprar o Maiden Japan, que ainda possuo, mas havia nesse entretempo outra gravação que me chamava para junto da mesma banda. Era Killers. Um disco que comprei sabendo-o clássico para minha vida, e que não me canso de ouvir, mesmo em função de alguns atropelos que fazem parte de sua história.

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Killers

Mais uma coisa: não conheço detalhes da gravação (muitos aqui que me lêem devem saber muito mais a respeito). E é estranho: ela me parece tão fechadinha, que não consigo imaginá-la diferente. O som dela me agrada tanto que chega a remeter-me aos meus priscos anos de adolescência. Não vejo nada de errado nela. Ela está toda ok. Mas sabemos, por outro lado, que ela é barulhenta demais às vezes. Acho que em Innocent Exile ou Drifter, não sei. As faixas, longe de nos incomodarem em sua extensão, parecem um pouco longas demais. E os solos são sujos, algo que parece meio punk. Eu noto nisso até hoje. Mas, por incrível que possa parecer, isso não tira o sabor do disco. Muito ao contrário: mostra realmente a que a banda veio. Eu me lembro de que ouvia e ouvia, e não me cansava. Decorava até as notas meio mal alinhavadas (se é que isso existe aqui). Não entendia as letras - como de várias faixas eu nem as conheço.

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Note-se: eu já conhecia o Iron do Bruce, o Iron maior, aquele que ficou, e que ainda permanece. Porque quando eu cheguei a Killers eu desembarquei numa banda que não existia mais daquele jeito. E até hoje eu me pergunto de qual delas eu gosto mais: se da banda de antes do The Number of the Beast ou se do Iron tradicional, que ficou mais conhecido. Ainda não sei. Para mim, são quase duas bandas diferentes. Claro que para nós, que vemos tudo desde 2017, ambas são a mesma banda, de alguma forma, mantendo sua atratividade em aspectos em comum, e se distanciando por uma pegada mais tosca do começo da carreira. Mas só isso. Porque o Iron dos grandes shows veio com The Number. O Iron que causou sensação e que, de alguma forma, se mantém até hoje. O Iron do disco homônimo inicial e de Killers (assim como de Maiden Japan) não existe mais. Pois é desse Iron, e de duas peças luminares dessa época, que irei tratar aqui. The Ides of March e Gengis Khan.

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Os Idos de Março

Pintura sobre a morte de César (Vincenzo Camuccini)

Eu não sabia a que se referiam os Idos de Março quando abri o LP de Killers e ouvi a primeira música, de apenas 1 minuto e 46 cravados. Não sabia, mas me interessava. Era muito legal ouvir uma introdução instrumental daquele jeito abrindo um CD de rock da pesada. Uma melodia que, pelo que vim a saber, foi criada de repente, e que encaixava imediatamente na faixa a seguir, Wrathchild. The Ides of March eu me lembro que eu cantava quando andava nos corredores da faculdade em que havia acabado de passar - Jornalismo, na USP. Assim como cantava melodias de filmes da época. Mas, de alguma forma, o fato é que essa melodia nunca me abandonou. Uma melodia conduzida pela bateria, em sua grande parte, e em que o clima de destino parece claro nos primeiros acordes. Uma melodia sem igual.

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Os Idos de Março, sabemos ao consultar qualquer google da vida, referem-se ao dia 15 de março, que foi quando, em 44 antes de Cristo, César foi morto por estocadas por mais ou menos 23 homens, inclusive Brutus, seu filho. Vejam no link que eu posto por aqui uma pequena explanação específica sobre os Idos de Março para saber de alguns detalhes a mais. Mas, como já disse, eu mesmo vim a saber a quê os Idos se referiam bastante mais tarde. Mas a ideia de começar um LP com uma música desse calibre, forte, soturna, de destino, era o que mais me agradava realmente. Não sei quanto a vocês, mas eu não conheço música tão determinante quanto The Ides of March. Um amigo meu, inclusive, que hoje é ligado ao universo da música erudita, disse-me que conhecia a música, e que apreciava. Tinha qualidade.

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Uma narrativa sobre os Idos de Março
http://estoriasdahistoria12.blogspot.com.br/2016/03/cuidado-com-os-idos-de-marco.html

A gente se mete a pensar. César era o maioral. O cara que dominava tudo no mundo então conhecido. Um sujeito esperto e forte, que conduzira batalhões a guerras que ganhou e que lhe renderam a popularidade perante o povo e os seus liderados. Um sujeito que tinha tudo, de alguma forma. Que estava prestes a se tornar ditador. Mas um sujeito que, numa data determinada, se vê em meio a traidores e a gente que o deixa de repente sem vida e sem nada. Ou seja, os Idos de Março narram o destino, claro. Um destino inevitável para aquele que se acha ileso. Ou seja, quando o sujeito literalmente cai do cavalo (e não estou me referindo ao apóstolo Paulo, embora tenha alguma semelhança o evento). Lembro-me de que, ao saber o que os Idos significavam, eu me congratulava intimamente. Porque eu sempre fui bastante descrente diante de tudo o que se passou ou se passa diante de mim. Eu sempre achei que ninguém pode se arrogar nada, porque lá na frente (logo ali) pode realmente estar sua real perdição. Sempre achei isso, e só de saber que os Idos referiam-se a isso eu me felicitava. "Tá vendo, otário?", eu pensava.

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O assassinato de César, em Roma (série)

Ocorre que os Idos de Março não tratam de uma data qualquer. É uma data da derrocada de um Imperador, é claro. Mas, mais que isso, é uma data que prenuncia (basta verem que César foi avisado pouco antes das facadas) o fim de uma era, e a contraposição entre a fragilidade de um ser humano e o poder de um ser político. Pois, enquanto político, César era imbatível. Mas, enquanto ser humano, ele era frágil, como qualquer outra pessoa. E passível de ser morto da forma mais cruenta imaginada. Como o foi. Isso contrapõe a ideia de poder com a ideia da humanidade. E por sua vez César naquela situação foi traído. A traição é um aspecto absolutamente fundamental nessa trama. César não foi morto como se mata alguém a quem nos opomos abertamente. Ele foi morto por traição de muitos contra um. Da forma mais covarde possível, sem que ele pudesse reagir (notem como o ator reage às primeiras investidas contra ele, no trecho de Roma, que eu coloco aqui). Isso é importante. Ou seja, a data mostra a falta de cuidado de César e ao mesmo tempo a impossibilidade de prever o comportamento de pessoas que se dizem do nosso lado. Ou seja, a trama é, para quem a descobre, algo bastante humano. Propriamente humano. Outro aspecto também diz respeito à ideia das profecias, presente em outro trecho de vídeo que eu coloco aqui neste post.

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Encenação atual da morte de César

"Beware the Ides of March" (filme antigo)

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Posso, de minha parte, dizer que meu comportamento moral (e minha desconfiança diante daquilo tudo que passei a ver na vida - tenho quase 50 anos, e fui repórter de rua, por exemplo) descansa de convicções que vão até aquela época, de minha adolescência. E posso lhes dizer que parte de minha desconfiança em relação a tudo o que diz respeito a política, poder e eventual destaque de alguém nesse âmbito, independente do seu mérito pessoal, radica daquela época em que passei a ouvir Iron Maiden. E que grande parte da atração de The Ides of March, para mim, advinha (como ainda advém) desse tipo de convicção. Pois já assumi algum posto de poder, pequeno é claro, e noto como muitas pessoas se consideram ilesas quando isso lhes acontece. Algo que eu sempre soube que era pura ingenuidade. Andamos no meio do caminho e de repente, pimba, caímos num fosso de lama - como eu uma vez também caí - e literalmente. Ou somos mortos por nada. Ou perdemos tudo o que nos garantia algum poder, até mesmo o menor possível.

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Moeda cunhada com referência aos Idos de Março

Minha vida esteve repleta, por coincidência, de momentos como esse, em que perdemos tudo e nos vemos sem nada nas mãos. Pelo menos três vezes na vida alcancei esse ponto. É bastante incômodo, lhes digo, bastante irritante até, mas inevitável. Todos nós eventualmente passamos por situações como essas. Claro que nem por isso morri, ou fui morto. Mas aqui dentro de mim foi como se a morte tivesse entrado em mim, literalmente. Um ato do destino em que me senti traído e em que ao final fiquei sem nada, enquanto a outra pessoa escapou, ilesa. E pior, sem que eu pudesse fazer nada, muito menos chegar perto de me vingar. É foda. The Ides narra algo desse tipo. Numa escala absolutamente maior, relativa ao dono do mundo, ao maioral da política, que foi morto por gente covarde quando menos esperava (claro que a leitura, em termos de política, é diferente).

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A música

The Ides of March, a faixa original

A música, em si, é insuperável. E me refiro somente a The Ides of March (não mais a Wrathchild). São acordes simples, acompanhados pelas guitarras, que dão uma ideia imediata de algo que está prestes a acontecer. E a algo sobre o que não adianta se opor. Simplesmente é algo que irá acontecer. Os Idos de Março. A bateria, nesta faixa em especial, todos sabem que é determinante. Os acordes acontecem e a bateria acompanha-os, mas distante. O timbre das guitarras também é fundamental. Não parecem bem guitarras. Parecem quase teclados. Eu lhes confesso que existem músicas do Iron que eu aprecio mais (até bem mais). Mas nenhuma é tão boa, e causa tamanha impressão, quanto The Ides of March. O dia em que foi gravada deveria ser emoldurado, de alguma forma. É algo que não se repete. Claro que a sequência, com Wrathchild, sempre me cativou. Mas, restringindo-me à primeira música, ela simplesmente é fenomenal. Aqui eu ponho uns links de versões cover por gente também da pesada, assim como a versão original.

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Aqui neste post eu coloco também, então, alguns vídeos e links que comprovam a radicalidade da data. Até um vídeo antigo, de um filme em que um cego parece querer avisar César, eu coloco (como já avisei, no que diz respeito ao tema profecia). Mas não é necessário, no fundo. Todos nós sabemos o porquê da música, o caráter fúnebre da melodia, o caráter funesto da data, e sabemos que o Iron sabe dar o tom certo àquilo que tem realmente importância. Posto logo aqui também um vídeo com uma encenação contemporânea do assassinato de César, e nem preciso também dizer que a situação histórica não pode ser resumida a um aspecto biográfico, ou a uma mera traição. César estava se tornando um ditador, e era contra isso que todos aqueles que o apunhalaram se dispuseram a sujar as mãos com sangue real. Era para proteger o caráter romano, como as coisas deveriam se conduzir. Claro que política é uma coisa na teoria, e outra na prática. Mas deixemos para lá.

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Metal Masters fazem seu cover de The Ides of March

Seja como for, The Ides of March ficou para a história como música, como rock e heavy metal de qualidade. Tanto que a peça é citada nos shows do Iron, para introduzir o show como um todo, e por vezes há alguém que faça um cover da introdução - colocando em seguida Wrathchild, até para aproveitar a oportunidade. Aqui eu posto um desses covers, encenado por pessoal de outras bandas, no caso do Anthrax (Metal Masters), numa pegada mais thrash, mas nem por isso com muita qualidade. Hoje sabemos que a faixa ficou simbólica, com um caráter muito especial e determinado, tanto para a banda quanto para os fãs. Uma faixa inesquecível, que no meu caso permanece na lista das maiores de todos os tempos.

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Continuando a viagem, outro excurso pessoal

Mas Killers não se destacava, no seu lançamento, por ter apenas uma música instrumental, com caráter introdutório (para todo o CD). Não, Killers apresentava um novo rebento instrumental, e ele também tinha a ver com poder, com política ou com conquistas. Era Genghis Khan, a quinta faixa do mesmo lado A.

Vejamos o CD passo a passo. The Ides of March surgia, em primeiro lugar, dominadora. E era seguida por uma faixa estupidamente boa, que parecia comentar algo sobre uma criança zangada. O conjunto das duas faixas era matador. E ele prenunciava o que vinha a seguir. Um disco potente, com remissão a histórias variadas, e com ênfase histórica ou literária. Só para dizer, em primeiro lugar, de Os Assassinatos da Rua Morgue, do meu querido Edgar Allan Poe. Mas havia dúvidas, como por exemplo Another Life. Até hoje não sei a que essa música se refere. Uma música menor, entremeando aquelas que iriam ficar, permanecer. Quando eis que surgia (e surge) Genghis Khan.

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Genghis Khan

Na época em que ouvi o LP pela primeira vez, eu deveria saber quem foi, ao menos em grandes traços, o conquistador mongol. Seu nome me era conhecido, e expressava uma bravura indômita, embora eu quase nada soubesse sobre ele, sua figura histórica, nem o império mongol (como havia sido, em que havia consistido, por que havia sido considerado tão poderoso). Sabia que os mongóis haviam ameaçado a Europa e o Oriente Médio. Mas só. A figura do líder mongol ressoava, porém, em minha mente. Ela expressava algo que remetia a conquistas e a poderio. Como um garoto que gostava de história e de conquistadores (como se a história naquela época me aparecesse dessa forma, prioritariamente), eu gostava da ideia de uma música sobre o líder. E que música!

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Livro sobre Genghis Khan (existem brasileiros)

Não conheço de música, no sentido estrito. Mal sei distinguir melodia de harmonia, e de arranjos. Mal sei claramente o que é timbre, se é que sei (embora saiba falar a respeito de timbres diversos). Por isso, não posso dizer a impressão que a música me causada sob um critério sobremaneira técnico. Mas havia algo na música que me atraía de antemão. Uma introdução simples, corrida, com a bateria dominando, seguida por outra, que parecia oriental ou não necessariamente do meu mundo ocidental, de garoto criado numa família de classe média, orientado pelos mass media dos anos 60 e 70. Uma música que expressava uma estranheza, e que parecia algo marcial, com paradas bruscas e depois, num determinado momento, com avanço colérico, se é que posso chamá-lo assim, em que a bateria parecia dominar o tempo todo. Trechos em que aparecia à nossa frente a imagem de conquistas, de cavalos trotando e correndo, de terrenos sendo conquistados.

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Genghis Khan, a faixa original

Era sobremaneira curioso, porque nunca antes havia ouvido algo assim, desse tipo, tão corrido e tão expressivo, em sua imagem de algo a ser conquistado. As guitarras dominavam, nesse trecho, sim, mas deixavam praticamente tudo para a bateria. A gente sentia as coisas indo e vindo, indo e vindo, passando uma impressão de algo a ser construído e destruído, terrenos a serem conquistados, batalhas a serem ganhas e perdidas, aparentemente sem motivo.

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Genghis Khan (Live - Raro, de 1981)

Video clip de Genghis Khan

A música assim avançava até o momento em que dava uma trégua, e quase parava, com um baixo potente ao fundo. Em que as guitarras faziam um dueto que chamava a atenção pelas notas que se espalhavam com o tempo, e que quase gritavam, em seu afã de alcançar algo que lhes escapava. Era curioso que a música fosse até o fim desse jeito, e mesmo estranho. A música também terminava calmamente, com um acorde longo e distorcido, e isso me agradava demais. Era uma música para meio de CD, instrumental, que só nos instrumentos já dizia a que vinha. Uma música sobre um conquistador que começava a fazer minha cabeça e sobre o qual eu comprava livros em lugares diversos (embora livros em português, não em outras línguas).

Genghis Khan pela banda do Paul Di'Anno

Nessa época, e depois, eu viria a saber diversas coisas sobre Genghis Khan, a figura histórica. Primeiro, suas estratégias de conquista. Como ele conseguia reunir populações dispersas num território amplo, inóspito e bastante desagradável e torná-las uma ameaça para os impérios que surgiam ao seu redor - o Chinês e o império europeu (temos que entender sua postura a respeito deles sob seu ponto de vista específico). Depois, vim a saber, num recorte de jornal, que 1/8 de toda a população da Ásia parecia ter seus genes, o que diria respeito ao seu afã de conquista de mulheres, e de criação de filhos e mais filhos. Ou seja, ao seu afã de vida, algo que me chamou bastante a atenção. Mas não cheguei a ler muito mais a respeito, nem nos jornais, na internet (que começava) ou nos livros que eu passei a comprar (por falta de tempo). Genghis Khan iria ficar mais como mito na minha vida, um mito de conquistador indômito que me atrai até hoje. Seja como for, a música havia ficado. Como uma referência inelutável, algo que me chama a atenção até hoje.

O que teria sido a luta mongol

Claro que a música, que é relativamente curta, iria passar por diversas mãos desde então. Hoje, podemos encontrá-la em diversas versões de cover no Youtube, bem feitas, e com um intuito que ainda podemos auferir em riqueza musical e mesmo saudosismo. Ponho aqui alguns vídeos desses covers - até a faixa original - para vocês conferirem. Claro que não podemos saber em que medida a música tocou e ainda toca os fãs de outrora e de hoje, mas podemos auferir que a música realmente ficou enquanto influência, e que já mostrava como a banda podia contar histórias até mesmo sem letras a apoiá-la.

Mas a questão também é que mudamos com o tempo. Deixem falar sobre mim. Sou leonino, um sujeito tímido mas também bastante folgado, que não sabe (ou não considera saber) muito da vida. Mas naquela época, quando comprei o LP de Killers, eu era um rapazola animado. Um sujeito que acreditava no poder e na vontade de querer. Um sujeito cujos modelos eram sujeitos animados, com astral para cima, e que conseguiam as coisas. Um sujeito por outro lado mais ou menos macambúzio, que gostava de estudar, e que nunca havia namorado. Um sujeito que tentava se aproximar das moças que o agradavam, mas sempre sem sucesso. Um sujeito bastante feinho, magrinho, pouco forte, que se deixava levar pela aparência dos caras e das mulheres que pareciam arrasar com seus corpos malhados ou bonitos. Um sujeito que gostava de Brooke Shields, para quem ela era seu modelo de mulher que ele queria. Um sujeito que conhecia bastante pouco da vida e dos seres humanos (e que ainda concebe conhecer bastante mal).

Ocorre que, desde que a faixa Genghis Khan e mesmo a ideia por detrás de The Ides of March me pegassem de vez, muita coisa evoluiu em mim ou simplesmente mudou. Passei no vestibular, fiz um curso jogado às traças mas dispensando toda minha fé, me ferrei de vez na vida e na família, passei por poucas e boas, em termos de descrença quanto a pessoas, e creio ter aprendido algo da vida. Daí que as figuras de César e do mongol meio que foram relativizadas em meu interior. Pois, embora tenha feito Filosofia, me especializado em Filosofia Política, caído na política comezinha do dia a dia, ter tido cargo e tudo o mais, e sido defrontado com muitas desavenças e descrenças, meu ideal do que seja uma pessoa boa ou de conquistas mudou drasticamente. Daí que não vejo mais tanto mérito em César nem em Genghis Khan, e minha forma de encarar o mundo, com base nos manuais de política, mudou também drasticamente com meu aprendizado. Daí que não vejo mais tanta graça em Genghis Khan, e em suas façanhas. Mas também reparemos na banda, nos assuntos que ela aborda, que também mudaram demais, e que se aproximaram bastante de um humanismo que antes estava meio que esquecido por detrás de tantas conquistas. Isso também é bastante curioso (até porque comentei várias coisas dos CDs posteriores em outros posts).

Daí que a faixa se mantém, o gosto por ela e por sua crueza se mantém, mas algo em mim e neles (refiro-me ao Iron) mudou, e drasticamente. Não é por menos. Passaram-se quase 40 anos, eles mudaram e eu também. Mas é curioso por outro lado reparar em como tudo aquilo que eles fizeram, no caso o LP, as músicas, os CDs, ainda reverberam em meu (gostaria de dizer nosso) coração. Porque realmente algo parece ficar. Um algo que vocês devem também ainda apreciar. Milagres de fã, da música, dos temas e do universo de um Iron Maiden que não morre. Não adianta.

Estátua de Genghis Khan

Posto aqui algumas fotos do conquistador Genghis Khan. Uma, que virou capa de livro, e outra, do monumento que existe lá na Mongólia para ele. Notem a pose do sujeito e o tamanho descomunal da estátua. Não é pouco. As versões da música que posto dizem respeito a homenagens por diversas bandas, algumas bastante célebres, como as ótimas Iron Maidens, após a versão tradicional.

Iron Maidens - Genghis Khan

Bom, termino este artigo de Carnaval apostando que a leitura tenha sido boa. Não fiz uma resenha tão aprofundada como as outras, mas espero que tenham apreciado.

Killers ao vivo

Até a próxima!

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Sobre Rodrigo Contrera

Rodrigo Contrera, 48 anos, separado, é jornalista, estudioso de política, Filosofia, rock e religião, sendo formado em Jornalismo, Filosofia e com pós (sem defesa de tese) em Ciência Política. Nasceu no Chile, viu o golpe de 1973, começou a gostar realmente de rock e de heavy metal com o Iron Maiden, e hoje tem um gosto bastante eclético e mutante. Gosta mais de ouvir do que de falar, mas escreve muito - para se comunicar. A maioria dos seus textos no Whiplash são convites disfarçados para ler as histórias de outros fãs, assim como para ter acesso a viagens internas nesse universo chamado rock. Gosta muito ainda do Iron Maiden, mas suas preferências são o rock instrumental, o Motörhead, e coisas velhas-novas. Tem autorização do filho do Lemmy para "tocar" uma peça com base em sua autobiografia, e está aos poucos levando o projeto adiante.
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