Do Ceará para o Mundo, Artur Menezes brilhou no Best of Blues and Rock
Resenha - Artur Menezes (Best of Blues and Rock, São Paulo, 03/06/2023)
Por André Garcia
Postado em 07 de junho de 2023
Inspirado no blues rock de Jimi Hendrix, John Mayall e Stevie Ray Vaughan, o guitarrista cearense Artur Menezes é uma das revelações nacionais do gênero. Apesar de jovem, nascido em 85 como eu, já está na estrada desde 2001. Em sua bagagem já carrega quatro álbuns, lançados todos entre 2010 e 2018. Em 2019, não só venceu um concurso promovido pela Ernie Ball, como ainda tocou no Crossroads Guitar Festival — o festival do mestre Eric Clapton.
Fotos: André Velozo
Agora foi a sua vez de subir ao palco do Best of Blues and Rock para dar mais um passo em sua consolidação.
O show me deu uma agradável familiaridade; era como se ele e Nanda Moura fossem irmãos do mesmo pai (o blues) e a mesma mãe (a guitarra). Não por acaso, os dois são conterrâneos, cearenses; e estão entre os maiores expoentes da cena blueseira que está saindo do nordeste para conquistar o mundo. A diferença principal que a Nanda é uma estudiosa do blues clássico, e apresenta uma aula em forma de show; já Artur é ligado numa era mais moderna do blues: o momento em que ele se fundiu ao rock e à psicodelia e incorporou referências das mais diversas.
Rouba a cena o baixista Fernando Rosa, um especialista em longos fraseados que esbanjam groove. Suas linhas de baixo, que por vezes se tornam solos, no melhor estilo Jack Bruce, conduzem grande parte do show. Ele é o elemento que dá ao power trio uma cara de uma versão funky do Cream. Apesar de tanta habilidade, sua real virtude é saber dosá-la. Colocando a música sempre em primeiro plano, sabe quando fazer um solo e quando sustentar o ritmo tocando uma única nota.
O Dead Fish, que abriu o dia tocando às 15h40 (logo após a coletiva de imprensa), parecia que já tinha absorvido grande parte do calor do sol. Quando subiu ao palco, às {procurar}, Artur já pegou uma plateia bem mais volumosa. Embora ele e sua banda ainda tivessem com o sol na cara, a área à frente do palco estava coberta pela bem-vinda sombra. Ainda não estava lotado, mas já estava bem preenchido.
Instrumentais, jams e longos solos improvisados marcaram a apresentação. Uma das principais características de Artur é seu dinamismo, utilizada para conduzir o público por seu repertório usando o solo como o fio condutor e o vocal como um complemento. Sempre com o atento apoio de sua cozinha rítmica, flui do clássico de Eric Clapton para o moderno de John Mayall, o revolucionário de Jimi Hendrix e o ecletismo de Jeff Beck. De tempos em tempos o que eu ouvia poderia muito bem estar no "Blow By Blow".
Não é qualquer um que consegue ficar fazendo instrumental, jam e solos longos sem o público começar a bocejar e mexer no celular. Ainda mais com um repertório totalmente autoral, como orgulhosamente fez questão de pontuar o guitarrista lá pela metade da apresentação. "She Cold" foi anunciada como uma música nova, recém-saída do forno, tocada ao vivo pela primeira vez. O Ibirapuera aprovou.
Artur definiu o repertório daquela tarde como tendo sido 70% rock. Foi um hard blues como o feito em 1968 por Clapton, Beck, Hendrix e Page, mas fluído como líquido ao mudar de um estado sonoro para outro. Eu curti bem mais como as músicas soaram ao vivo do que nas gravações que ouvi no Spotify.
A décima edição do Best of Blues and Rock será lembrada pelo adeus de Buddy Guy, a insana Hydra de Steve Vai, o Ira tocando em seu quintal… Será lembrada também por mais um degrau na consolidação de Nanda Moura e Arthur Menezes como dois dos mais proeminentes nomes do blues nacional.
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