Júpiter Maça: Transformando Araújo Vianna num "Lugar do Caralho"
Resenha - Júpiter Maça (Auditório Araújo Vianna, Porto Alegre, 13/03/2016)
Por Karen Waleria
Postado em 19 de março de 2016
O "Domingo no Parque" realizado no último dia 13 de março, no Auditório Araújo Vianna, na capital gaúcha, homenageou Flávio Basso, o JÚPITER MAÇA, também conhecido como JÚPITER APPLE. Músico gaúcho falecido, aos 47 anos, no dia 21 de dezembro de 2015.
O mega tributo ao compositor, vocalista e cineasta, foi capitaneado pela IMPÉRIO DA LÃ, banda comandada por Carlinhos Carneiro, e lotou as dependências da icônica casa de espetáculos da capital gaúcha.
No palco apresentou-se um dream team de artistas locais e nacionais que celebraram o legado imortal do Júpiter Maça. Mais de 30 músicos intercalaram-se nas apresentações; alguns destes fizeram parte da história desse músico único que transitou entre o rock, pop, psicodelia, bossa nova e tropicalismo.
Óbvio que tratando-se de um tributo a um dos maiores músicos brasileiros, eu sabia de antemão que o setlist seria muito especial, mas nada preparou-me para o que assisti. Foi uma infindável sucessão de hits que fizeram parte da carreira desse cara que agregava mil personalidades dentro de um só ser.
O show que teve a duração de mais de 3 horas contou com a participaçao da BIDÊ OU BALDE, Edgar Scandurra (IRA) com Silvia Tape, Frank Jorge, Rafael Malenotti (ACÚSTICOS & VALVULADOS), Bibiana Graeff, "Cabelo" Lucas Hanke (IDENTIDADE), Clayton Martin (CIDADÃO INSTIGADO), Cokeyne Bluesman, Duda Calvin (TEQUILA BABY), Gabriel Guedes, Gerenal BoniMores, Joana Ceccato (BIÔNICA), Julio Cascaes, Luciano Albo (TENENTE CASCAVEL), Lucio Vassarath, Marcelo Gross (CACHORRO GRANDE), Roberto Panarotto (REPOLHO), Tchê Gomes, Wander Wildner, Nei Van Sória (ex OS CASCAVELLETES), e Marcio Petracco, (ex TNT, atual LOCOMOTORES, TENENTE CASCAVEL e Conjunto Bluegrass Porto-Alegrense).
Carlinhos Carneiro, como de domínio público, é um mestre de cerimônias nato, o músico interagiu com o público com bastante frequência durante o tributo.
O show começou às 16h35 com a Império da lã tocando "Querida Superhist x Mr. Frog" do "A Sétima Efervescência", primeiro álbum solo do JÚPITER MAÇA. Álbum que contém inúmeros hits do rock gaúcho, ou melhor, do rock brasileiro, foi responsável por uma boa parte do setlist apresentado nesse show que ficará na história dos melhores shows de rock gaúcho que já aconteceram no Auditório Araújo Vianna, sem dúvida. Inclusive a banda teve o reforço de Júlio Cascaes, baixista do Júpiter Maçã, na Tour do disco e que também participou do segundo álbum solo do músico.
Na sequência subiu ao palco, Wander Wildner entoando mais um clássico do mesmo álbum, "Um Lugar do Caralho", música de Basso, que o músico regravou para o "Baladas Sangrentas". Não preciso dizer que a poeira levantou no auditório lotado. Aliás, com exceção da minha pessoa, que dividia-se entre anotar os detalhes desse mega show e assistir o mesmo, o público ficou em pé durante todo o show. Foi lindo de se ver.
"Morte por Tesão", primeira música dos "OS CASCAVELLETES" tocada no show, entre muitas que foram executadas, teve a participação do cantor e guitarrista Tchê Gomes ( ex TNT, atual TENENTE CASCAVEL), do cantor e multi-instrumentista Márcio Petracco, de ninguém menos do que o grande cantor e guitarrista Nei Van Soria (ex TNT e OS CASCAVELLETES) e de Lucas Hanke, o Cabelo. E foi assim durante todo o show. Os músicos interagiam entre si, quando se via os artistas iam e vinham para o palco, fazendo alguma participação na performance do outro. Pareciam, retifico, os músicos estavam bem à vontade. Dava prazer de ver essa interação, integração, bem ao estilo do grande homenageado da tarde. Na sequência "Coitadinho de mim" do TNT.
O público que prestigiou o evento, com certeza, raramente terá outra oportunidade de ver compartilhando um mesmo palco, um line-up como o visto.
"Lobo da Estepe" foi demais. Nei Van Soria sozinho naquele palco gigantesco e ao seu lado uma cadeira vazia. Com certeza o Júpiter estava ao seu lado, sentado alí. Impossível não se emocionar. O público cantou em uníssono com o músico. Esse momento vai ficar muito tempo na minha memória, assim como na memória de muitos dos alí presentes. Na sequência o músico falou da cumplicidade que tinha com Flávio Basso. Falou do privilégio que teve de conviver com o Júpiter e de compor tantas e tantas canções juntas com ele, centenas de canções que fizeram parte da trilha sonora de tantas pessoas, incluindo-se. E começou a cantar "Sob um Céu de Blues", mais uma música composta com Basso na época dos CASCAVELLETES e que encerrou a sua participação. O público ensandeceu nesse momento.
Nessa hora me pego pensando, como pode um músico ter feito parte, ser responsável pela criação de tantos sucessos? O Júpiter tinha um tipo de toque de midas, fato inegável.
Eis que outro mito do rock gaúcho sobe ao palco, Frank Jorge. E conta como mostrou para a sua mãe a música que compusera com Flávio Basso. E canta para ela, "Menstruada". Imaginei a cena (Risos). Histórias do rock gaúcho, histórias do rock brasileiro foram contadas para os felizardos que compareceram nesse show memorável.
Roberto Panarotto,vocalista da banda REPOLHO, direto de Chapecó (Santa Catarina), é anunciado por Carlinhos. E homenageia o Júpiter cantando "Pictures and Paintings", mais uma faixa do álbum "Sétima Efervescência" lançado em 1996, que em 2007 foi eleito o melhor álbum do rock gaúcho, e que também entrou para a lista dos 100 Maiores Discos da Música Brasileira da Rolling Stone Brasil.
Marcelo Gross da CACHORRO GRANDE cantou "As Tortas e as Cucas" juntamente com a IMPÉRIO DA LÃ. E foram inúmeras participações como a do grande Ray-Z, músico e produtor, que foi um dos responsáveis por esse grande tributo ter acontecido, participação do baixista da
FUNKALISTER, João .
Eis que ele surge de figurino trocado e anuncia a BIDÊ OU BALDE, banda que também capitaneia, e eles tocam "O Novo Namorado", "Beatle George" e "Sindrome do Pânico". Com nada mais, nada menos, que Frank Jorge nos teclados.
Bibiana Graeff com seu acordeon e Joana Ceccato (BIÔNICA) são personagens de um dos mais belos momentos do show, quando elas interpretam de uma maneira impar a belíssima "Mademoiselle Marchand" música do quarto álbum solo do Júpiter, "Tarde na Fruteira", de 2008. Álbum que foi responsável por uma boa parte do setlist apresentado nesse domingo em que o Araújo Vianna completou 52 anos de existência.
Edgar Scandurra (IRA) surge no diante do público com Silvia Tape, sua dupla no recentemente lançado "Est". Tocam "Welcome to the Shade" que fez parte do EP Solo de Tape que em 6 faixas, duas contou com a participação de Basso, e depois "Miss Lexotan 6mg Garota" que o IRA gravou. Abre aspas gigante, ver Edgar Scandurra destruindo, no bom sentido, a guitarra, foi extasiante.
"Júpiter Maça é tudo que há de bom no Rock N' Roll!" - falou o músico que agrega as funções de cantor, guitarrista e baterista. O músico também comentou que sentiu-se dentro da família participando do show. E era o que se sentia no ambiente. O clima do show era mesmo de uma grande reunião, de uma grande confraternização.
Rafael Malenotti, lider dos "Acústicos & Valvulados" cantou "Carro Roubado" e "Minissaia sem calcinha", preenchendo todo o ambiente de Punk Rock. Em tempo o cantor participou de vários momentos do tributo, entrava e saia do palco, fazia backing vocal para outros músicos, era um dos mais empolgados do show.
Quando o ex- Cascavellete Luciano Albo, assume os vocais em "Nega Bombom", o Araújo Vianna tremeu. Na sequência Tchê Gomes assume os vocais e emenda com os os hits "Ana Banana", "Cachorro Louco"e "Entra Nessa" todas sucessos do TNT. No palco nesse momento, Petracco, Albo, era um reunião de exs, ou melhor, eternos TNTs.
Falando em Punk Rock não podia faltar na festa o nosso representante maior do estilo aqui do sul, Duda Calvin e a TEQUILA BABY, banda que lidera há mais de duas décadas, que tocam "O Dotadão deve morrer". Arriscaram nesse momento até uma roda punk próxima ao palco. Cena que nunca pensei presenciar no Araújo. (Risos)
Todos os que apresentaram-se são convocados a retornarem ao palco e a GENERAL BONIMORES junta-se à trupe e tocam "A Marchinha Psicótica de Doutor Soup". Até trenzinho surgiu no palco, que festa, meus amigos!
Para fechar o show, Egisto Dal Santo, compositor, guitarrista, cantor, escritor e produtor musical responsável pelo "Sétima Efervescência" toca novamente "Um Lugar do Caralho", e novamente o público a canta à pleno pulmões. Ninguém se importou em ouvir esse "hino" do Júpiter novamente, nenhum dos presentes se importou de cantar novamente esse clássico. Todos no palco, várias vozes. Lindo demais!
O show, propriamente dito, acabou às 19h12 mas ainda ficou rolando no palco mais um pouco de Egisto Dal Santo.
Digo, sem ser piegas, que esse foi o melhor show de rock gaúcho que já presenciei.
Mestre, Lenda...Não tem como descrever Flávio Basso. Uma mistura de Mick Jagger, Jim Morrison, David Bowie, John Lennon, George Harrison, Bob Dylan e Kurt Cobain, tudo numa pessoa só, alguém o descreveu assim, e eu, assim como muitos, concordo.
Enfim, o show coletivo foi uma belíssima homenagem ao músico que nos deixou tão precocemente, mas que deixou seu legado cultural perpetuado. O "man", como era conhecido no meio, da galáxia onde encontra-se ficou tri feliz, num bom gauchês, em ver o dia em que suas músicas transformaram o majestoso Auditório Araújo Vianna num "Lugar do Caralho".
Obrigada, Júpiter!!
Parabéns a produção do evento.
Agradecimentos à Agência Cigana pelo credenciamento.
Espero que o projeto Domingo no Parque, um evento gratuito com tamanha qualidade, dure por muitos e muitos anos.
*Fotos: Sônia Butelli
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