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Stratovarius: Sanidade atestada pelas últimas apresentações

Resenha - Stratovarius (Chevrolet Hall, Belo Horizonte, 30/08/2005)

Por Maurício Gomes Angelo
Postado em 07 de setembro de 2005

Se sobraram para Belo Horizonte e Rio de Janeiro as datas mais inadequadas da turnê 2005 do Stratovarius, terça e quarta feira, respectivamente, a produção, ao menos em terras mineiras, teve o cuidado necessário com o horário, marcando o início para as 20:00 hs e eliminando a banda de abertura.

Fotos: Leonardo Nascimento (Boa Noite BH)

Tal coerência contribuiu para não atrapalhar a média de espectadores, aos quais deveriam ser em torno de 1.500 pessoas. Impacto menor ainda se considerarmos que o público dos finlandeses é, em sua maioria, de uma faixa etária baixa e, honestamente, um tanto quanto acrítico.

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Palco devidamente ornamentado, com o belo pano de fundo de uma arte muito semelhante às capas dos álbuns "Elements" e estruturado com dois telões que exibiram vídeos da turnê, e durante o show, imagens e clips apropriados para cada canção.

Tendo a sanidade emocional (e mental) atestada pelas últimas apresentações, os cinco integrantes tomam suas posições no Chevrolet Hall por volta de 20:10 hs, despejando, ao invés de palavras, os riffs sujos e empolgantes de "Maniac Dance", single do novo trabalho, auto-intitulado. Tal música, além de indicar uma saudável mudança de direcionamento – tem muito mais swing (sim, a palavra é esta mesmo) e variação de grooves do que 80% de sua discografia – significa, igualmente, a salvação de uma história em pleno declínio.

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"Speed Of Light", um título sugestivo que sintetiza com propriedade "o que é" a banda, e "Kiss Of Judas" (que não sustenta com grande vigor a alcunha de "clássico") são músicas certeiras ao gosto do público e garantiram a empolgação dos mineiros. A velocidade da luz continua com "Legions" e o ritmo cai em "Twilight Symphony" – demasiadamente longa – tornando a esquentar com "Will The Sun Rise?".

A banda pára e o novo baixista, Lauri Porra, é apresentado e bem recebido, em grande parte por seu curioso nome (com o significado em português aprendido por ele) mas também por ter se integrado de forma satisfatória ao grupo, se incumbindo de ajudar Kotipelto a interagir com a galera. No entanto, seu solo de baixo é uma lástima. Simplório no início, descordenado e atabalhoado no meio, desesperado e apelativo no final, onde desferiu slaps mais circenses do que qualquer outra coisa e tentou tocar algo que se aproximasse da bossa nova. Depois desta desnecessária concessão, a monotonia invadiria o Chevrolet Hall, com a seqüência de "The Land Of Ice And Snow", balada recém lançada que deve agradar somente ao povo da Finlândia, e a chatíssima "United".

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Para evitar que o local se transformasse num grande espetáculo de sono coletivo é executada a abre-alas de "Fourth Dimension", a pesadíssima "Against The Wind". "Season of Change" nos leva aos tempos de "Episode" (ainda que arrastada) enquanto a queridíssima "Father Time" mostra porque possui o status de clássico, a melhor da noite e uma das campeãs de empolgação.

Seguimos com a questionável "Coming Home" e a boa "Destiny", que perde muito sem seus coros e orquestrações, soando até inadequada para situações ao vivo. "It’s song about hunting..." foi a deixa para que "Hunting High and Low" fosse entoada em uníssono pelos presentes, única do consistente "Infinite" e esta sim, magnífica para shows. "Visions" certamente fez a alegria dos pagantes, fechando a segunda parte do set.

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Voltam para o último bis com "Forever", lenta e fraca, sendo uma escolha incompreensível e um grande anti-clímax. A aposta ideal para este momento teria a adição de um "Free" no nome, originando uma das melhores e mais empolgantes composições da banda, mas esta foi lamentavelmente deixada de lado.

Sem "Eagleheart" ou "Paradise", o final fica mesmo por conta de "Black Diamond", clássico onipresente – e ótima – que terão de tocar até o fim da vida.

Encerram, agradecem e saúdam o público de mãos dadas. Bom sinal para quem até tempos recentes proporcionava cenas tremendamente constrangedoras, como a urinada de Jens Johansson em Timo Tolkki.

E, passada a turbulência, como os integrantes se comportam atualmente?

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Tolkki, de cabelos curtos, continua frio e impassível, porém, não escorrega nos solos e arrisca alguns backing vocals.

Lauri Porra substitui Kainulainen com competência e tem empatia com o público.

Jorg Michäel possui a velocidade e precisão necessárias, sendo o brincalhão que sempre foi – seus malabarismos com as baquetas já se tornaram notórios.

Jens Johansson, inquestionável tecladista, segue sendo desperdiçado, já que não tem o espaço devido para demonstrar seu talento (cortesia da mão de ferro de Tolkki) e sua permanência no Stratovarius só se explica pelo fato de ele poder ganhar mais dinheiro aqui do que em qualquer outra banda que já tocou (e que não haja dúvidas de que o milionário contrato recém-assinado com a Sanctuary Records antes das psicopatias de Tolkki exerceu significativa influência nesta volta repentina).

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Timo Kotipelto é um bom vocalista, e mais do que isso, um frontman eficaz, praticamente único responsável pela troca de energia banda-público – e amado por estes – demonstrando o quanto seria catastrófico se Tolkki continuasse com sua insanidade de recrutar a tal "Miss K.".

O loirinho tem apenas que variar suas traquinagens, já que as brincadeiras que faz, do tipo "vocês gritam mais alto que São Paulo? Porto Alegre, Rio de Janeiro ou minha cidade natal?" e pedindo o público para bradar "1,2,3,4" em finlandês, ele já faz há pelo menos dois anos.

Se a "linearidade" (ou estaticidade retilínea, para os mais refinados) das composições da banda, incomoda muitos ouvintes dos álbuns em estúdio, ao vivo a coisa fica mais complicada em virtude da maior duração, quase duas horas, fazendo com que o nível de adrenalina caia a zero em muitos momentos. A grande quantidade de baladas, quatro, também não contribuiu para um desenrolar mais aprazível, sem contar o set list mal posicionado.

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O som do Chevrolet Hall correspondeu ao que lhe foi exigido (pouco, em comparação com outras ocasiões), deixando bem claro o som de todos os instrumentos, além de bem equalizado e sem falhas.

O sentimento de frustração era visível em muitos presentes (naqueles onde o fanatismo não falava mais alto) e a classificação de "fraco" foi ouvida sem esforço.

Há bandas que encontram seu hábitat natural em cima de um palco, dominam a situação e são capazes de proporcionar um espetáculo inesquecível, já outras, funcionam sinceramente bem em estúdio, mas ao vivo carecem de feeling - transe mesmo - não apenas pelos integrantes, mas porque as próprias músicas não oferecem condições para tal. O Stratovarius, definitivamente, se enquadra na segunda opção.

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É um sabor estranho o que se tem após um show destes, não permitindo nenhum comentário além de um "legalzinho" resignado. Você tem a mesma sensação de quem acaba de tomar um sorvete e não de quem foi arrebatado e teve todas as células de seu corpo envoltas numa experiência única (e posso citar dezenas de bandas que proporcionam isto).

Qualquer fã (nático) dirá que foi ótimo. Contudo, nenhum crítico equilibrado pode relevar as falhas. E a ausência daquela conhecida "magia metálica" no ar. Falta tesão. Falta swing, rock n’ roll, riffs, ódio, suor, sangue, lágrimas, aquele elemento extra que transforma o heavy rock na coisa especial que é.

Sobrou simpatia. No entanto, é triste dizer que toda efetividade destes finlandeses está confinada a um pedaço de plástico. Triste, mas verdadeiro.

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Sobre Maurício Gomes Angelo

Jornalista. Escreve sobre cultura pop (e não pop), política, economia, literatura e artigos em várias áreas desde 2003. Fundador da Revista Movin' Up (www.revistamovinup.com) e da revrbr (www.revrbr.com), agência de comunicação digital. Começou a escrever para o Whiplash! em 2004 e passou também pela revista Roadie Crew.
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