Progressivo: Motivos para escutar
Por Timoteo Fassoni
Fonte: Rock progressivo: Você Sabe...
Postado em 14 de outubro de 2019
Desde novo ouço clássicos como "Clube Da Esquina" [1], "Animals" [2] e "Acabou Chorare" [3] por causa dos meus pais e de meus irmãos - bem mais velhos que eu. E desde bem novo a música fez muita parte da minha vida, e há uns 5 anos conheci o JETHRO TULL - e ainda bem que conheci!
Desde quando ouvi pela primeira vez e até hoje sou perdidamente apaixonado pelo som de suas flautas dançantes, teclados pesadíssimos e baixos contrapontistas. E foi justamente essa banda que me deixou fascinado pelo Prog.
Bom, hoje em dia não passo sequer um dia sem que escute alguma coisa do estilo. E quero dar motivos para você escutar isso. Motivos plausíveis e que devem ser conferidos empiricamente. Vamos lá.
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1. Há Tanta Expressão Quanto Se Possa Ter.
Considero música como uma das expressões fundamentais dos humanos . Já que ela nos entrega o próprio sentimento e a própria pessoalidade das pessoas de forma que ouvimos e entendemos sem nem mesmo ter de conversamos com tais pessoas.
Vejo isso no Prog de uma forma diferente. Veja, por exemplo, o excêntrico ROBERT FRIPP. Não precisamos falar com ele para saber de seus sentimentos. Basta ouvir sua guitarra em "Red" [4] conversando conosco, desde seu som pesado e denso na música homônima do disco até sua mais 'leve' e expressante melodia em "Starless".
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2. Há Muita Complexidade Sem Serr Chato (Quase Sempre).
JOHN COLTRANE é um baita músico, inegável. Mas seus improvisos, mesmo muito expressantes, são, muitas vezes, um pé no saco de ouvir. Como é com a complexíssima banda DREAM THEATER.
Por isso digo: não basta se expressar de forma técnica. Tem de ser bom de ouvir. Para quem não é músico, ao escutar um solo fritado de 4 minutos do baixista JACO PASTORIOUS ou vai achar o máximo, mesmo sem entender direito, ou vai odiar.
Mas há no Prog uma certa complexidade boa de se escutar. Afinal de contas, há nele a própria ideia de se complexar o rock. Mas - AINDA BEM!!!!! - não se esqueceram do sentimento. Ouça, por exemplo, "Knots" [5] do GENTLE GIANT. Há um coral de vozes extremamente trabalhado nela, mas ainda sim, é uma música tão esquizofrênica quanto eles querem.
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É disso que estou falando. Há um porque muito bem estabelecido de sua estrutura ser complexa. E isso dá um motivo, um sentido e um sentimento a mais para o Prog.
3. Há Sempre Novas Surpresas.
Não precisamos viajar muito para escutar coisas surpreentes que não nos cansa nesse estilo. Basta, por exemplo, ouvir o último álbum [6] - lançado esse ano - do THE FLOWER KINGS. E mesmo viajando ao longínquo "Close To The Edge" [7] há sempre algo novo que não reparamos de primeira, segunda, terceira ou quarta..
Até nossa vigésima ouvida num disco pode revelar algo a mais nele! Como os baixos desse disco que sempre me deixam boquiaberto.
Isso, junto a sua música trabalhadíssima, o torna um estilo que tem boa parte de seus trabalhos uma coisa atemporal, onde o que é de 1969 [8] pode ser escutado hoje de forma que não estranhemos além de sua própria estranheza natural. Como o fabuloso "Sengs" [9] do SOM NOSSO DE CADA DIA.
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4. Adaptação Fora Da Europa.
Ter se espalhado pelo mundo deixou o Rock Progressivo muito mais rico. Veja "Lar De Maravilhas" [10] aqui no Brasil, por exemplo. O estilo se adaptou a cada local que visitou.
Aqui no país o movimento digeriu a cultura local e regorgitou trabalhos que são tão brasileiros quanto a MPB e tão Prog Rock quanto o "Foxtrot" [11]. Um dos maiores exemplos é a BACAMARTE, banda que gravou um único disco, "Depois do Fim" [12].
Um guitarrista que praticamente não usa palhetas tocando virtuosamente como o Howe, uma mulher afinadíssima (Jane Duboc) e todo um tecido musical que é extremamente brasileiro com seus violões, teclados, flautas e percussões.
5. Criatividade Sem Limites.
GENTLE GIANT não é uma banda fácil de escutar. Mas é um dos maiores exemplos do quanto se pode ser experimental dentro do Progressivo. Seus arranjos são muito Jazzísticos, ao passo de serem também muito Rock.
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Há inúmeras outras citações que poderia fazer aqui sobre o tópico a ser discutido. Como o "2112" [13] que te insere num mundo apocalíptico sem precisar de mais de 2 versos para isso, contando a história de um homem que encontra um violão que poderia salvar a humanidade. Enfim, escute. Ou também o bizarro e temático "A Passion Play" [14] com sua história sobre morte, céu e inferno.
E literalmente a imaginação é o limite - na verdade a capacidade dos músicos também. Isso dá ao estilo um valor a mais sobre os conceitos, histórias e experimentos que cada banda e artista quer fazer - e que quando conseguem é MUITO BOM!
Peço, por fim, que esqueça a cultura cabeçuda que há em volta do Prog. Ousadias exageradas demais até pro estilo, como "Topografic Oceans" [15] do YES, são só amostras desse problema. E há ouvintes também que acham o estilo melhor do que ele realmente é.
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O fato é que o Prog é realmente uma oferta musical absurdamente rica. Mas não é um estilo que tenta ser mais cabeçudo do que ele é. Há quem seja assim nessa cultura (como vários fãs). Mas apenas ignore isso e curta a música aqui oferecida.
Discografia citada:
1. Clube da Esquina - Clube da Esquina - 1972
2. Animals - Pink Floyd - 1977
3. Acabou Chorare - Novos Baianos - 1972
4. Red - King Crimson - 1974
5. Octopus - Gentle Giant - 1972
6. Waiting For Miracles - The Flower Kings - 2019
7. Close To The Edge - Yes - 1972
8. In The Court Of Crimson King - King Crimson - 1969
9. Smegs - Som Nosso De Cada Dia - 1974
10. Lar De Maravilhas - Casa Das Máquinas - 1975
11. Foxtrot - Genesis - 1972
12. Depois Do Fim - Bacamarte - 1983
13. 2112 - Rush - 1976
14. A Passion Play - Jethro Tull - 1973
15. Tales from Topographic Oceans - Yes - 1973
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