Rock Progressivo Italiano: primeiro passeio pelo gênero
Por Roberto Rillo Bíscaro
Postado em 13 de dezembro de 2014
Quando algum gênero musical cai nas graças da Itália, os italianos copiam e maximizam tanto alguns aspectos, que obrigam a criação de subgêneros prefixados com ítalo. Existe Italo House, Italo Dance... Com o rock progressivo não foi distinto.
Nos anos 70, mormente na primeira metade, a Bota empipocou-se de bandas geralmente inspiradas em modelos britânicos, mas injetando certa "italianidade" nos vocais dramáticos (muitos muito ruins), instrumentação épica, enfim, o exagero. Boa parte dessa produção periga ser esquecida, embora esteja cada vez mais disponível, por exemplo, com álbuns completos no Youtube.
Vamos dar um passeio pela Itália progressiva?
MAXOPHONE gravou apenas um álbum e desintegrou-se por falta de interesse do público. A gravadora cria no potencial da banda a ponto de lançar uma edição em inglês, além da italiana. Mas, talvez 1975 já fosse tarde pruma banda prog com influências de jazz estourar, daí o LP homônimo levou-os a lugar nenhum. Pena, porque Maxophone tem canções com arranjos intricados, constante mudança de tempo numa mesma canção, rica instrumentação. C'è Un Paese Al Mondo, por exemplo, abre o álbum com referências ao GENESIS fase-Gabriel, jazz e jazz-rock, tudo com muita desenvoltura, sem forçar barra e sem virar clone de ninguém. Ao longo de seus 40 minutos, Maxophone vai pra Idade Média, tece madrigais, vibra com prog rock, suinga com jazz rock, lembra a voz de PETER GABRIEL e merece ser conhecido. Fãs de GENESIS e GENTLE GIANT curtirão.
A versão em inglês também está disponível:
CAMPO DI MARTE é outra banda que lançou apenas um álbum e desapareceu. De 1973, o disco homônimo é em boa parte instrumental, com grande riqueza de instrumentos; até trompa tem. Dividido em sete "tempos", percebe-se desejo de estabelecer um álbum conceitual sobre a guerra, usando paisagens sonoras pra retratar tempos de paz, batalhas, tristeza, esperança etc. Usando a imaginação conseguimos mesmo imaginar cenas criadas pela música, que se não é fundamental é bem competente. Momentos vigorosos como o "tempo" de abertura intercalam-se com momentos pastorais ou eclesiásticos, jazzísticos, fusion, às vezes num mesmo "tempo". Pros que querem referencial mais conhecido, alguns momentos lembram o holandês FOCUS.
O METAMORFOSI lançou dois álbuns. O segundo, Inferno (1973), é uma obra-prima do prog sinfônico. Baseado na Divina Comédia dantesca, é praticamente uma longa suíte enfatizando teclados de vários tipos, que fluem frenéticos, espaciais, góticos ou eclesiásticos em multi-tonal exuberância. Vocais pomposamente dramáticos, mudança constante de ritmos e tempos, virtuosismo poli-instrumental; Inferno é um ítalo-milagre, infelizmente pouco (re)conhecido, por sua filiação não-anglo. Com citações aos hinos dos EUA e da URSS, o METAMORFOSI cria um inferno terrestre onde a guerra e os políticos são os demônios. Obrigatório e imperdível.
O exuberante Intorno Alla Mia Cattiva Educazione (1974) foi o único álbum do ALUSA FALLAX. Dá a impressão duma longa suíte, no lugar de canções independentes. Rock, jazz, folk, trechos melódicos de derreter o coração, pedaços soando como feira medieval e até um que soa como sertanejo de raiz. Flauta, sax, trompete, órgãos e instrumentos típicos de banda de rock acrescidos de vocais expressivos – às vezes não tanto de meu agrado – misturam-se a influências como PINK FLOYD, YES, JETHRO TULL, MOODY BLUES e KING CRIMSON (num momento vira free jazz ou seja como se chamava aquela cacofonia que me faz não ser fã do KG; sorte que o ALUSA FALLAX não insiste nisso) pra criar mistura original que não soa como clone de nenhuma das influências. Outro fundamental pra conhecer Ítalo Prog!
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps