Documentário prova que Punks são mesmo legais
Por Fabiana Schiavon
Postado em 24 de outubro de 2006
Os Punks são legais? Sim. Eles ajudam adolescentes excluídos, plantam árvores na periferia e protestam contra o terrorismo. Essa é uma das principais mensagens do documentário "Punks are Alright" (Punks são legais), do diretor canadense Douglas Crawford, que integra a 30ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
O filme surgiu a partir de um curta-metragem sobre a banda punk canadense Forgotten Rebels, que surgiu no final da década de 70 e ainda é febre entre os rockers do país. A divulgação do filme pela internet conectou o diretor a dois países de terceiro mundo: o Brasil e a Indonésia.
Tudo começou quando Henrike, vocalista da banda punk paulistana Blind Pigs, ficou sabendo do trabalho de Crawford pelo site do filme e começou a trocar informações com o diretor sobre a cena brasileira. Surpreendido pelo fato de um latino-americano fazer covers do Forgotten Rebels, o canadense resolveu alongar o filme e fazer uma comparação com os punks do primeiro e do terceiro mundo.
Apesar de uma das adolescentes entrevistadas resumir a banda paulistana como um "bando de playboys" tentando fazer punk, nas longas horas de entrevista, Henrike contou sua história de filho de um oficial da marinha brasileira atento as mazelas do país. Como um punk "legal", Henrique dá aulas de inglês em uma ONG na comunidade de Barueri (infelizmente foi demitido pelo excesso de tatuagens e palavrões) e é um eterno conselheiro de adolescentes que sofrem abusos em casa e procuram a instituição em busca de um futuro diferente.
O documentário classifica o país como um dos mais violentos do mundo e faz comparações lastimáveis com a realidade do Canadá. Mas ao ouvir a versão de uma das músicas do Forgotten Rebels, o vocalista da banda canadense Mickey DeSadist rasgou elogios "Cara, eles tocam melhor que a gente. Isso é que é a nova geração do punk. Era para isso ter acontecido lá, não aqui".
Durante a gravação no Brasil, o diretor foi levado a mais um desafio. Henrike o contou a história de Dolly, vocalista da banda Superman is Dead, sucesso na cena punk da Indonésia. O garoto conheceu o trabalho do Blind Pigs pela internet, enviou e-mails enormes contando o significado da banda e implorando por CDs. Os músicos paulistanos não tiveram dúvida "vamos enviar logo um CD pra esse cara!".
A história despertou mais uma vez a curiosidade do diretor que acabou demorando quatro anos para finalizar toda a produção. Desta vez, a realidade pareceu ainda mais dura. A banda de Jakarta tinha dinheiro apenas para alugar um estúdio de ensaio duas vezes por ano, mais ainda lota shows na cidade. Dolly, guitarrista da banda, 22 anos, trabalha em uma fábrica ganhando US$ 3 por dia. O salário do pai e do irmão mais velho também não garantem uma vida tranquila à família. Um dos integrantes da banda dá uma longa aula de história sobre o país retratando o longo período e colonização e escravidão vivido pelo país, que também agora enfrenta o terrorismo. O documentário lembra o atentado na danceteria de Bali e mostra na lista os mortos brasileiros e canadenses.
Mais do que acordes rápidos e barulhentos, Crawford nitidamente acabou sensibilizado pela dura realidade dos países de terceiro mundo e do significado que o punk carrega além da fronteira norte-americana. Na segunda sessão do filme, o diretor conversou com o público formado por jovens punks, não punks e senhores e senhoras interessadíssimos durante toda a exibição. O diretor ainda mantém contato com os entrevistados e sonha em vê-los conversando numa mesma sala. E ainda revela: punk é mais do que cabelos moicanos e roupas rasgadas, é uma ideologia, é espalhar a idéia do "faça você mesmo".
Última exibição do documentário será terça-feira, 31/10, às 16 horas, no Cine Bom Bril, com a presença de Henrique, vocalista de Blind Pigs
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