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Marcelo Costa: Bizz versus Rolling Stone Brasil

Fonte: IG Pop
Postado em 09 de novembro de 2006

A chegada da edição brasileira da Rolling Stone (que vinha namorando o mercado brasileiro fazia uns bons dez anos) às bancas trouxe consigo uma série de questões que rendem uma análise bastante interessante. Num primeiro momento, a revista chega ao Brasil no momento em que o modelo "gravadoras" está beirando a falência, e as lojas on-line começam a virar obrigação em todo grande portal.

Com a popularização da web já é muito mais fácil ouvir uma rádio gringa de qualidade no lugar de uma nacional movimentada por uma programação ditada por jabá. O grande público ainda é refém das AMs e FMs, mas será que o grande público compra revistas?

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Nas bancas, apenas a Bizz tem uma circulação regular, mensal, e sugere uma concorrência com a Rolling Stone brazuca, mas será que o mercado brasileiro não consegue comportar duas revistas no mesmo segmento? Será que a Rolling Stone brasileira bate de frente com a Bizz, ou será a Trip e a Vip suas grandes "adversárias"? Ou são as três? O que muda com a chegada da Rolling Stone ao Brasil? Essa e outras perguntas, a Revoluttion opina, abaixo:

01) Há espaço no mercado para duas publicações de música no Brasil?
Primeiramente, não existe mercado de música no Brasil hoje em dia. O que existe é apenas um rascunho do que o mercado brasileiro foi um dia. Mesmo assim, se consome música nesse país (e o crescente número de shows internacionais que andam baixando por aqui é apenas um sintoma da valorização da música por estes lados). No entanto, para que duas publicações existam neste país que não lê, elas precisam de foco definido, boas pautas e qualidade editorial. A Rolling Stone têm uma diferença sobre a Bizz, no sentido de ter um maior leque de temas para cobrir, o que acaba sendo uma vantagem para as duas publicações: a Rolling Stone poderá usar esse leque de temas como diferencial, e a Bizz seu foco em música como especialidade. No mais, se a Argentina tem além da boa Mono, as franquias da francesa Los Inrockuptibles e da própria Rolling Stone convivendo bem nas bancas, o que nos impediria de ter?

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02) O preço
Esse é o primeiro grande diferencial da Bizz e da Rolling Stone. A franquia norte-americana chega ao Brasil com mais de 50 páginas a mais do que a Bizz, e custando R$ 1 a menos. Sem contar que o formato da RS é maior do que o da Bizz. Fãs da Bizz dizem que gostam da revista, pois ela é de leitura ágil. Bobagem. Ninguém pode querer uma revista que se lê em dois dias a uma outra cuja leitura demora mais tempo. As longas entrevistas/reportagens são um ponto a favor da RS, que a Bizz terá que saber contornar. Mas, de cara, a relação "custo x benefício" aponta a RS como melhor opção. E se o comprador puder comprar apenas uma revista por mês, preço e quantidade são fatores que podem pesar na sua decisão.

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03) Quantidade é qualidade?
Porém, quantidade nunca significa qualidade. E nisso as duas revistas vão ter que suar para surpreender o público. Na verdade, espera-se o mínimo de ambas: boas reportagens. A RS chegou às bancas em um momento que a Bizz estava em sua capa uma reportagem sobre Renato Russo. O artifício de colocar um morto famoso na capa só seria válido se o material justificasse. Não justificava. A pauta era bisonha e não trazia nenhuma novidade, nada que valesse um box inferior no final da revista. A RS se saiu bem ao escolher a capa: Gisele Bündchen. A chamada de capa era provocativa e inteligente: "A maior popstar brasileira". Mas o texto é fraco, fraco, fraquinho. Havia lógica na pauta, mas o autor buscou ser sutil, tentando mostrar que a agenda superlotada da modelo e o tanto de pessoas que ela movimenta para um sessão de fotos exemplificam o quanto Gisele é famosa. Desculpe, mas não há espaço para sutilezas no jornalismo pop. E era tão simples validar Gisele na capa. Bastava traçar seu perfil, falar nos milhões de dólares que ela ganha por mês e dizer que ela tem mais falas no filme hit da temporada ("O Diabo Veste Prada") do que Rodrigo Santoro teve em toda sua carreira internacional (contando os primeiros episódios da 3ª temporada da série Lost). Gisele é quase tão famosa quanto Pelé (se não for mais), mas a reportagem não discute isso. Uma pena. Jogaram uma bela capa no lixo. No entanto, o assunto qualidade é muito mais extenso, e segue abaixo...

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04) Matérias gringas, resenhas e dossiês...
Um dos fatores interessantes que a RS deverá imprimir no jornalismo nacional é a boa relação "jornalista/artista". No Brasil, a grande maioria dos artistas se acha gênio, e o jornalista é só alguém tentando desmistificar sua genialidade. Bobagem, claro. Não que os artistas sejam idiotas e os jornalistas gênios, menos, por favor. A relação é apenas de entrevistado e entrevistador. Quantas vezes no Brasil poderíamos pegar um artista mainstream e passear com ele pela cidade, como fez a reportagem gringa com o Killers? (que, aliás, bateu no segundo posto da Billboard com "Sam’s Town", duas semanas atrás – e que a Bizz só deu uma nota na edição anterior). Esse é um ponto forte da RS, que deverá trazer bons frutos para o jornalismo nacional. No entanto, a RS vai precisar trabalhar muito para chegar ao nível editorial da Bizz na questão resenhas. A diferença é gritante, e não só em texto. Na RS, fotos de artistas em uma página, resenhas em outra, e textos que nada falam sobre o disco (o do Rakes, por exemplo, é uma bobagem, já que a banda ainda aparece entrevistada na edição – só perde para a resenha do Raconteurs, cuja resenhista parece desconhecer os integrantes da banda, que não são moleques e muito menos novatos. Ao menos, a RS deu um espaço um pouco maior para Lily Allen). A RS ainda tropeça nas traduções das reportagens (a do Bob Dylan traz ao menos um erro grosseiro). Ponto positivo desta primeira edição é a excelente reportagem de André Vieira, Projacre.

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05) Rolling Stone x Bizz
Elas são concorrentes? Sim. Esse papo de que a RS pode ocupar o lugar da Vip ou da Trip é balela. A Vip é totalmente particular, desde o tom textual ao foco (não imagino a RS colocando gostosas na capa - sem que elas sejam cantoras). Já a Trip tem quase nada de música, um dos pilares da RS. Desta forma, a Rolling Stone brasileira pode colocar na capa algum artista que a Bizz planejasse colocar. E essa briga pela melhor pauta deve dar um nó na cabeça das duas redações, e maior qualidade jornalística para os leitores. Elas são concorrentes, mas podem – e devem – caminhar juntas no mercado. A Bizz precisará de um melhor direcionamento editorial, mas é – de longe – uma revista muito melhor acabada do que a RS. A RS, por sua vez, precisará encontrar a melhor forma de edição – e isso irá acontecer com o tempo. No momento, as duas publicações têm muito a melhorar, e seria de bom grado que o público acompanhasse essa evolução. Antes de qualquer coisa, ambas merecem votos de confiança. E críticas, claro.

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Ps1: A comunidade da Bizz no Orkut é uma das comunidades mais agitadas (e legais) do mundo azul. Muitas dessas idéias foram discutidas lá. Confira aqui.

Ps2: O site da Bizz é outro ponto a favor da revista sobre a da RS. Enquanto o da segunda ainda nem estreou (e em tempos de Internet, deveria ter entrado no ar – no mínimo – junto com a revista), o da Bizz sempre traz podcasts gravados pela turma da redação, como também novidades da revista. Olha lá.

Ps3: As edições argentinas da Los Inrockuptibles e da Rolling Stone são beeem mais baratas que as duas revistas brasileiras...

Ps4: Uma capa interessante de música do mês é a da Bravo, que colocou Paulinho da Viola cabeça a cabeça com Arnaldo Antunes. Na verdade, a pauta que fala que agora é "A Hora do Samba" pode ser bem interessante se o autor lembrar de nomes como Curumin, Wado e Rômulo Froes.

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Ps5: A Bizz nova que está chegando ás bancas preparou um dossiê sobre música digital. Mesmo atrasada, é uma pauta bem legal, que deve render nas mãos de Alexandre Matias e Marcelo Ferla. A capa já é a melhor da revista nos últimos meses.

Ps6: Fiquei aqui matutando uma coisa: em que lugar você se informa sobre música, leitor? Você compra revistas? Quais? Ainda ouve rádios? E sites? Diz ai, que vou tentar arrumar algum brinde bem bacana pra semana que vem.

Ps7: zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

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