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Chris Cornell: jornalista foi a último show e percebeu algo errado

Por Igor Miranda
Fonte: USA Today
Postado em 19 de maio de 2017

A jornalista Ashley Zlatopolsky esteve no show do Soundgarden, realizado na última quarta-feira (17), em Detroit, nos Estados Unidos. Foi a última apresentação do vocalista Chris Cornell antes de ele ter sido encontrado morto.

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Em uma resenha sobre o show, publicada no USA Today, Ashley Zlatopolsky disse que o show de Detroit foi a quinta vez que ela assistiu ao Soundgarden ao vivo. Segundo ela, o significado da apresentação mudou após ela ficar sabendo da morte de Chris Cornell.

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Veja trechos resumidos do relato feito pela jornalista:

"Mesmo sem o benefício de retrospectiva da notícia terrível que veio de manhã, estava claro que algo não estava certo com Cornell durante a performance. Ele frequentemente cambaleava de um lado para o outro pelo palco e parecia fraco em seus movimentos. Depois de apenas uma ou duas canções, era como se a energia tivesse saído de seu corpo e o que restou era uma concha de um homem lutando para fazer seu trabalho.

Não é que o show de quase duas horas tenha sido ruim, mas parecia que Cornell não estava mentalmente presente.

Ele pulava palavras das músicas, às vezes trechos inteiros, deixando a multidão cantar as partes das canções que ele não cantou. Ninguém reclamou; na verdade, a audiência de cerca de 5 mil pessoas parecia adorar.

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Cornell ficava visivelmente agitado às vezes. Ele saiu do palco por vários minutos antes de tocar 'Been Away Too Long', fazendo com que a banda começasse de novo e os deixasse tocando trechos instrumentais para preencher a lacuna. Quando ele voltou no palco, ele fez um movimento de 'sigam adiante' com a mão.

O baixista Ben Shepherd riu, mas Cornell pegou o microfone para reclamar que não tinha uma guitarra reserva. 'Been Away Too Long', que foi o single de retorno de Soundgarden, do álbum 'King Animal', depois de mais de uma década de separação, foi interpretada com uma estranha e pesada performance, que se moveu para a direção errada.

Aí estava a irritabilidade de Cornell. Seus vocais estavam muitas vezes atrasados, dessincronizados com as músicas. Às vezes, ele parava de cantar completamente e desistia por vários segundos antes de retomar.

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Na hora, pensei que sua voz não estivesse boa. Talvez estivesse exausto. Afinal, Cornell, que é conhecido por sua faixa vocal de quatro oitavas e uma das vozes mais versáteis no rock 'n' roll, gasta a maior parte de seu tempo gritando no microfone - naturalmente, isso vai custar algo a ele.

Várias vezes durante a noite, ele contou breves histórias de fundo para as canções, destacando o trabalho da banda com gravadora Sub Pop. Para 'My Wave', ele enfatizou a importância de fazer as suas próprias coisas, desde que não prejudique ninguém no processo.

Mas então as coisas tomaram uma volta escura antes que a canção começasse. 'Você pode queimar cruzes em seu gramado, eu não lhe julgarei (como profano). Você pode queimar sua casa. Quem se importa? Eu não. Contanto que você não deixe a casa de outra pessoa em chamas'.

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Mas Cornell falava com carinho de Detroit várias vezes. Era o único elemento do show que parecia deixá-lo animado. Ele falou sobre Detroit Rock City, como o público era incomparável. Como a banda adorava tocar aqui.

[...]

Uma linha dita por ele, que na hora parecia inócua, grudou na mente: 'Sinto-me mal pela próxima cidade', disse Cornell. A citação veio logo após mencionar que nada poderia superar Detroit. Agora, há um significado muito mais profundo e doloroso para isso.

Apenas algumas canções deixaram Cornell imerso: 'Fell on Black Days' e mais perto do fim do show, a segunda canção do bis, 'Slaves & Bulldozers'. Esta última incluiu um refrão de 'In My Time of Dying', do Led Zeppelin, tocada pela banda antes. Ela foi escrita como uma canção espiritual sobre a morte.

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No solo de guitarra para a fusão de 'Slaves & Bulldozers'/'In My Time of Dying', Cornell finalmente deu tudo de si. Ele colocou a guitarra para trás, pendurou sobre sua cabeça e arrastou o suporte de microfone pelas cordas. Preso em um momento catártico, o cantor-guitarrista deixou-se brilhar pela última vez.

Aqui estava o vocalista de rock que tinha, tão pungentemente, esculpido um caminho no rock 'n' roll, ajudando a impulsionar Seattle para a frente da cena do grunge com álbuns multi-platinados. Um vocalista tímido, escondido atrás de uma massa de cachos que pairavam sobre seus olhos, conectando-se com milhões por meio de palavras brutalmente honestas, pesadas, mas, também, delicadas.

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Um fotógrafo com sede em Detroit que passou por Cornell depois do show disse que não achou 'nada anormal' com relação ao seu comportamento. '[A banda] agradeceu a alguns fãs à espera de autógrafos e entrou num carro', disse ele.

Mas minha mente resgata o palco da Fox, cantando o refrão de 'In My Time of Dying', lutando tão duramente para enviar uma mensagem - talvez um adeus escondido que ninguém percebeu."

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Sobre Igor Miranda

Jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital pela Universidade Estácio de Sá. Começou a escrever sobre música em 2007 e, algum tempo depois, foi cofundador do site Van do Halen. Colabora com o Whiplash.Net desde 2010. Atualmente, é editor-chefe da Petaxxon Comunicação, que gerencia o portal Cifras, Ei Nerd e outros. Mantém um site próprio 100% dedicado à música. Nas redes: @igormirandasite no Twitter, Instagram e Facebook.
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