Revivendo o depois: ensaio sobre o novo punk rock
Por Gugu Queirós
Fonte: Taverna Estelar
Postado em 29 de dezembro de 2019
Entender a genealogia de um gênero musical é uma tarefa exaustiva e em alguns casos inviável. Mas sendo a música uma criação humana, ela perpassa e explora diferentes aspectos da culturalidade, e isso por si só é trabalho para todo um campo científico (como a Etnomusicologia ou a História Social da música). Estando ciente dessa complexidade recorro a um recorte categórico e temporal: o gênero do Rock Punk em seus 50 anos de existência.
Qual a primeira banda punk?
Impossível definir. Os aspectos agressivos e simplistas que permeiam o estilo já estavam presentes nos anos 1960 (período auge da contra-cultura em que músicas complexas começavam a dominar o cenário do rock com os últimos álbuns dos BEATLES e o Rock Progressivo). Nesse contexto não se pode deixar de pontuar THE STOOGES. Denominados como Proto-Punk eles surgiram em 1967 com uma agressividade que espantava até mesmo o público mais jovem. IGGY POP, vocalista do grupo, anos mais tarde afirmou que a banda além de preconizar o Heavy Metal poderia ser facilmente definida como Thrash Metal (em entrevista no livro Barulho Infernal). O fato é que THE STOOGES influenciou toda uma safra de grupos nas décadas seguintes. O grunge dos anos 1990, o metal dos anos 1980 e o Punk Rock emergente em 1970.
Podemos entender o Punk como uma ressaca dos anos 60. O período do paz e amor, a efervescência da contra-cultura não alcançou seus objetivos de uma pacificidade mundial. O capitalismo ganhou ainda mais força, a Guerra Fria se mantinha, bem como a Guerra do Vietnam e a Crise Enérgetica. Na Inglaterra uma crise econômica se desenvolve na primeira metade dos ano 70, intensificada com o empréstimo do país ao FMI em 1974.
O clima de tensão que os jovens desse período viviam davam margem para sentimentos de descrença e rancor ao conservadorismo. É com essa climática que RAMONES nos EUA e SEX PISTOLS na Inglaterra ganham destaque com suas composições simples e ousadas. (No Brasil ganha atenção a cena de Brasília que propiciou ABORTO ELÉTRICO, PLEBE RUDE e CAPITAL INICIAL).
Mas com os anos 1980, o cenário internacional da música se diversifica ainda mais. O Metal ganha forma, o Disco se populariza de vez (é o auge de grupos como ABBA e CHIC), e emerge o PÓS-PUNK. Com uma sonoridade mais experimental e de pegada mais pop (que acaba preparando o terreno para o Rock Alternativo e a New Wave), teve como grandes expoentes THE SMITHS, THE CURE, JOY DIVISION e aqui no Brasil, a LEGIÃO URBANA.
No século XXI, todavia, percebemos um retorno estilístico em vários gêneros. O Heavy Metal ganhando outra roupagem no Nu Metal, as estruturas de blues no New Pop (BEYONCÉ, ARIANA GGRANDE e ALICIA KEYS), e esse cenário do Pós-punk é trazido de volta com o REVIVAL PÓS-PUNK.
Há vários grupos que podemos encaixar nesse subgênero, como THE WHITE STRIPES, FRANZ FERDINAND, THE STROKES. Mas prefiro trazer a tona duas bandas, ARCTIC MONKEYS e THE DRUMS.
ARCTIC MONKEYS cresce dentro do cenário comumente definido como Indie (música independente) com a gravadora Domino Records (que produziu também FRANZ FERDINAND e a banda THE KILSS), com Whatever People Say I Am, That's What I'm Not, álbum de estreia, a banda se notabiliza alcançando o top das paradas em diversos países.
O disco contém os elementos mais fortes de revival-pós-punk e de rock de garagem, dada a formação da banda com duas guitarras, baixo, bateria, vocal e vocal de apoio, e riffs simplistas que acompanham o compasso das composições. É o caso na faixa que abre o álbum, The View From The Afternoon. (lembrando a sonoridade de No One Knows de QUEENS OF STONE AGE)
Esse elemento de riff base é marcante no punk como um todo, desde STOOGES, RAMONES, THE SMITHS (What Difference Does It Make? é um ótimo exemplo), e Joy Division (She's Lost Control é icônica por seu riff que acompanha toda a canção)
Do I Wanna Know?, hit de ARCTIC MONKEYS, recebe seu tom de arranjo com o riff de introdução, e a mesma estrutura pode ser ouvida em Arabella, ambas canções do disco AM. (modelo que a banda brasileira MOPTOP faz em Sempre Igual, em História Pra Contar e O Rock Acabou).
THE DRUMS, hoje considerada uma banda Indie Pop, também se notabilizou com essa estrutura de composições que remetem ao pós-punk oitentista. A própria sonoridade eletrônica que o grupo enfatiza em seu último album, Brutalism, se aproxima consideravelmente da New Wave.
Portamento, segundo disco do grupo (e para mim o mais consistente musicalmente) é uma verdadeira homenagem a sonoridade do pós-punk, uma mescla moderna de THE SMITHS e JOY DIVISION. O álbum abre com Book of Revelation demonstrando um traço marcante das letras da banda, a repetição de sentenças, que por sua vez acompanham o arpejo de guitarra (propositalmente fora do tom) e palmas, além do uso massivo do baixo como norteador dos riffs principais. Elemento esse que fica evidente nas músicas Days e Money (esta ultima se dividindo entre guitarra e baixo).
Todavia, o álbum se destaca por essa circularidade entre elementos do revival do punk e da new wave, uma espécie de mistura de THE CURE e NEW ORDER.
Apesar de tais grupos fazerem uso considerável da musicalidade dos anos 1980, não deixam de inovar e trazer sua própria marca, tantos em seus riffs principais, experimentalismo e letras, que por sua vez demonstram as dificuldades contemporâneas de relações humanas. E o fato de tais grupos fazerem um sucesso notável, faz crer que o punk ainda tem muita lenha para queimar, além de ser o provável gênero do rock ainda com mais evidencia no mercado fonográfico.
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