Andreas Kisser: rock não é de esquerda, mas muita gente nem sabe o que é esquerda
Por Igor Miranda
Postado em 10 de agosto de 2021
O roqueiro, seja fã ou músico, precisa ser de esquerda? O rock está sendo tomado pelos "reaças", mais conservadores, nos dias de hoje? As pessoas sabem o que é esquerda? O guitarrista Andreas Kisser, do Sepultura, expressou suas opiniões sobre esse tema em entrevista ao canal "Mais que 8 Minutos", de Rafinha Bastos, no YouTube, com transcrição do Whiplash.Net.
O assunto veio à tona, inicialmente, após um internauta perguntar se "os roqueiros eram revolucionários e hoje são reaças". "Acho que é uma inverdade essa generalização do rock ser de esquerda. Não é verdade", respondeu Andreas, conforme transcrito pelo Whiplash.Net. Ele citou o exemplo de Johnny Ramone, guitarrista dos Ramones, falecido em 2004, que tinha opiniões bem conservadoras, ligadas à direita política.
O músico do Sepultura disse ser a favor de que os artistas expressem suas opiniões, inclusive no campo político. "Se você tem uma ideia, tem que ter liberdade de expressão, de falar. Mas também tem que ter o respeito de escutar. O problema hoje é que as pessoas não querem ouvir nada, ou só querem ouvir o que querem. De repente, a esquerda fala uma coisa, a direita fala a mesma coisa, mas os dois estão se criticando, só porque foi o outro que falou", disse.
As pessoas generalizam esquerda, diz Andreas Kisser
Na visão de Andreas Kisser, muitas pessoas parecem não saber o que é, de fato, a esquerda política. Em muitas situações, há generalizações que impedem a compreensão de cada regime, inclusive comunista, em diferentes países.
"Por que as pessoas acham que algo é esquerda? De onde tiraram isso? Onde elas aprenderam? Como aprenderam?", questionou.
Para explicar sua opinião, o guitarrista recorreu à sua própria experiência familiar, pois a mãe dele nasceu na Eslovênia e ele chegou a visitar o país quando ainda era governado por comunistas.
"Minha mãe nasceu na Eslovênia, em 1945, na Segunda Guerra. A parte da Iugoslávia foi comunista durante muito tempo. Tenho vários parentes lá. Alguns curtem, sentem saudade daquele tempo, e outros - obviamente os mais jovens - não, porque tem outras informações, outras relações com um sistema. Na Iugoslávia, (o comunismo) não foi tão forte como na República Tcheca, que foi invadida", refletiu, inicialmente.
Ele completou: "Tenho uma imagem, porque fui para a Iugoslávia em 1982 para visitar parentes com minha mãe. Ainda era um país comunista. Passei na fronteira como brasileiro, tranquilo, visitei... tinha suas diferenças culturais, comida, não tinha tanto daquela coisa capitalista, mas cada um tem sua experiência. Não é que o comunismo da União Soviética foi igual na Iugoslávia, que foi igual em Cuba, que é igual na China".
Para o integrante do Sepultura, a generalização chega a apontar que o nazismo foi um movimento de esquerda, o que demonstra confusão de conceitos. "As pessoas generalizam muito. Tipo: 'nazismo foi de esquerda'. Um monte de confusão, porque as ideias e a ideologia são muito cegas. 'A cor é vermelha, tem que ser assim'. Se você destrói o conceito daquela pessoa, ela deixa de ser aquela pessoa. Esse é o medo de cada um: desconstruir conceitos e falar: 'o que eu sou?'", afirmou.
O trecho em que Andreas Kisser fala sobre o assunto pode ser assistido no vídeo a seguir.
A entrevista completa está disponível abaixo.
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