A cena gay no final dos anos 60 e começo dos anos 70, segundo David Bowie
Por André Garcia
Postado em 24 de fevereiro de 2023
Em 1972, Elton John e Freddie Mercury ainda demorariam anos para saírem do armário. Enquanto isso, David Bowie já sacudia a Inglaterra ao declarar publicamente, em uma entrevista para o jornal musical Melody Maker: "Sou gay e sempre fui."
Com a criação do personagem andrógino Ziggy Stardust, Bowie se tornou um dos primeiros e mais importantes ícones LGBT do rock. Sua postura aberta e corajosa ajudou a quebrar barreiras e a combater o preconceito, e até hoje serve de inspiração a pessoas que desejam ser o que (e como) realmente são.
Em entrevista de 1995 para a MTV, o Camaleão do Rock relembrou como era a cena gay entre o final dos anos 60 e o começo da década seguinte:
"Para mim, era muito uma questão de automaticamente buscar áreas que eu ainda não havia experimentado, e que eram tabus para a maior parte da sociedade naquela época. Eu achava o mundo gay muito atraente. As outras pessoas também estavam totalmente ligadas em coisas desconhecidas em Londres. Como a música soul. Não havia nenhum outro lugar tocando soul music em 1969, 1970, a não ser as boates gays. A música era sempre muito melhor, todo mundo parecia ótimo e havia um senso de festividade… porque aquilo ainda era praticamente um mundo clandestino underground. Era uma comunidade que ainda não tinha realmente se desenvolvido."
"Hoje a coisa é completamente diferente de quando eu era jovem. Acho que antes havia um sentimento de empolgação na ideia de explorar áreas proibidas para o resto da sociedade. Como qualquer jovem, acho que eu era muito propenso a experimentações, sexuais e filosóficas — eu era budista na terça, e lia Nietzsche na sexta, sabe? Acredito que a maior parte da minha vida foi assim, interessado em coisas que não interessavam ao resto da sociedade. Eu simplesmente queria experimentar de tudo; era esteticamente promíscuo."
A fase Ziggy Stardust de David Bowie não foi apenas uma transformação musical e estética, mas também teve um papel importante na luta pelos direitos LGBT e no combate à homofobia. Ao se apresentar como Ziggy, um personagem andrógino e extravagante, Bowie desafiou as noções convencionais de gênero e sexualidade, tornando-se um ícone para muitas pessoas que se sentiam marginalizadas ou discriminadas por sua orientação sexual ou sua identidade de gênero.
Embora jamais tenha levado a coisa para o lado da militância para não comprometer seu lado artístico, Bowie até hoje inspira a muitos artistas e ativistas — bem como qualquer um que se sinta um alienígena no mundo a seu redor.
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