Como Renato Russo enxergava a qualidade do "Domingão do Faustão", segundo o próprio
Por Gustavo Maiato
Postado em 17 de novembro de 2023
Renato Russo, saudoso cantor e compositor do Legião Urbana, expressou suas críticas contundentes em relação ao programa "Domingão do Faustão" em seu livro "Só Por Hoje e Para Sempre", no qual compartilha seu diário de internação na clínica Vila Serena. Russo, conhecido por sua personalidade intensa e opiniões francas, não poupou palavras ao descrever sua visão sobre o popular programa de televisão.
Em trechos do livro, Russo revela sua irritação em relação ao que percebe como autoritarismo e arbitrariedade, traços que o incomodam profundamente. Sua passagem por um período de isolamento em seus estudos acentuou seu espírito crítico, tornando-o um observador perspicaz da cultura popular.
O cantor, que se autodefine como perfeccionista e exigente, especialmente no campo estético, faz uma comparação curiosa ao mencionar que quem aprecia cineastas como Pasolini e Ernst Lubitsch provavelmente não terá afinidade com o "Domingão do Faustão". Ele descreve o programa como vulgar, manipulador e facistóide, acusando-o de apelar para instintos baixos e preconceitos.
"Antes fazia questão de me isolar em sofisticação e estéticas superiores e alternativas. Agora me vejo aproveitando as coisas simples da vida, mas não pretendo exagerar, já que prezo muito minha inteligência, sensibilidade e cultura. Primeiro eu, mesmo que eu pareça estar sendo esnobe", escreve Russo em seu diário.
Essas palavras revelam não apenas a perspicácia crítica de Renato Russo, mas também sua evolução pessoal e artística. Mesmo reconhecendo o lado idiota do programa, ele não hesita em expressar seu descontentamento com o que considera uma abordagem manipuladora e de baixa qualidade. Essa passagem do diário oferece uma visão única da mente de um ícone da música brasileira, destacando sua postura crítica e sua busca constante por excelência estética e cultural.
Renato Russo, Legião Urbana e Faustão
Em um vídeo revelador sobre os bastidores do icônico "Acústico MTV" da Legião Urbana, gravado em janeiro de 1992 e lançado em outubro de 1999, o jornalista e historiador do rock nacional, Júlio Ettore, desvenda os motivos por trás da escolha da banda por esse formato inovador. A decisão crucial, segundo Ettore, foi moldada por uma série de desafios que a banda enfrentava naquele momento específico. As transcrições são de Bruce William.
O contexto da época era marcado por uma série de complicações para a Legião Urbana, especialmente após o estrondoso sucesso do álbum "As Quatro Estações". Renato Russo, vocalista da banda, estava no epicentro de uma tempestade pessoal, enfrentando a descoberta de sua soropositividade, o término de seu relacionamento amoroso e a recuperação de sua dependência química. Além disso, atritos entre os músicos de apoio da banda e o cenário político-econômico conturbado do Brasil com o confisco da poupança contribuíam para uma atmosfera de crise.
Em meio a esse cenário desafiador, a Legião Urbana se via na necessidade de promover seu novo álbum, "V", mas recusava-se a aderir às práticas tradicionais de divulgação, como participar de programas de auditório, incluindo o "Domingão do Faustão". Nesse momento, a MTV brasileira emergia como uma alternativa viável. Júlio Ettore destaca que a emissora ofereceu uma solução: a gravação de um show acústico, uma proposta que seria benéfica tanto para a banda quanto para a MTV.
Dado Villa-Lobos, guitarrista da Legião Urbana, confirma essa decisão no livro "Memórias de um Legionário", afirmando que o show acústico seria uma maneira eficaz de divulgar o disco sem a necessidade de participar de programas de televisão convencionais. O diretor da MTV na época, Rogério Gallo, explica que a negociação não foi simples, mas a proposta se transformou em uma oportunidade única.
O "Acústico MTV" da Legião Urbana tornou-se o terceiro a ser gravado, seguindo os de Barão Vermelho e Lobão (que foi apenas um piloto não exibido). Júlio Ettore destaca a ousadia da escolha da Legião, trocando as grandes redes de televisão pela MTV, que, naquele momento, só era acessível para quem possuía antena parabólica. Contudo, a banda confiou em sua popularidade pós-"As Quatro Estações" para fazer essa mudança.
O resultado foi notável. O "Acústico MTV" da Legião Urbana, lançado em 1999, vendeu mais de 2 milhões de cópias e recebeu o reconhecimento com um disco de diamante. Além disso, a iniciativa da Legião contribuiu para a consolidação do formato "Acústico MTV" como uma marca, impulsionando o mercado musical brasileiro ao seu auge, como apontado pela Wikipedia.
Dessa forma, a escolha ousada da Legião Urbana não apenas marcou sua trajetória, mas também deixou um legado significativo na história da música brasileira e na evolução da indústria fonográfica.
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