Como Humberto Gessinger se sente quando dizem que ele é o Bob Dylan brasileiro
Por Bruce William
Postado em 12 de outubro de 2024
Comparar Bob Dylan com Humberto Gessinger pode parecer difícil mas não é impossível, pois envolve analisar dois artistas que, embora atuem em contextos culturais e linguísticos distintos, compartilham algumas características importantes, como a habilidade de unir poesia à música e a abordagem de temas sociais e existenciais em suas composições.
Bob Dylan, um dos maiores ícones da música folk e do rock norte-americano, ganhou destaque ao longo das décadas por suas letras complexas e por sua voz como cronista de movimentos sociais, especialmente nos anos 1960. Suas canções frequentemente abordam injustiças, liberdade e a condição humana, o que lhe rendeu um Nobel de Literatura. Ele é conhecido por seu estilo minimalista, tanto na música quanto na performance, colocando sempre a palavra no centro da expressão artística.
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Humberto Gessinger, por sua vez, é um dos principais compositores do rock brasileiro, mais conhecido como líder da banda Engenheiros do Hawaii. Suas letras também carregam forte apelo literário e filosófico, abordando questões contemporâneas do Brasil, como a desigualdade, a alienação e o poder da mídia. Embora seja influenciado pelo rock internacional, incluindo até figuras como Dylan, Gessinger tem um estilo próprio que reflete a realidade brasileira e seus desafios.
Sendo assim, podemos dizer que ambos são profundamente enraizados em suas culturas locais, mas convergem em seu uso de metáforas e críticas sociais, o que permite um diálogo entre suas obras, ainda que suas abordagens e influências diretas sejam bastante diferentes. Mas o que será que Humberto pensa sobre esta comparação? Vamos ver o que ele disse para César Brecailo em entrevista de 2018 publicada no Gazeta do Povo sob o título "Humberto Gessinger do analógico ao digital".
"Acho que são dois momentos históricos diferentes, dois artistas diferentes", diz. "Acho uma coisa meio anos 70 isso de 'fulano parece sicrano'. Mas de uma forma direta, eu não vejo isso. O Dylan compositor tem uma maneira que ele revisita o trabalho dele, da recriação da música a cada noite, como se a música estivesse viva, e isso talvez tenha me influenciado. Que não é uma coisa óbvia no trabalho dele. Não virar um cover de si mesmo e não renegar o passado. É o que eu busco fazer. Só faz isso quem tem uma conexão muito forte com o trabalho que produz."
Prossegue o brasileiro: "Eu hoje sinto, de maneira geral, uma falta de convicção nas coisas que se faz, parece que são relações superficiais da pessoa com a própria arte, com a profissão, eu acho um dos males do mundo moderno. No fim das contas é o que vai segurar tua onda, essa força dessa conexão."
Em outro ponto da conversa, César comenta que Humberto é reconhecidamente um grande letrista nacional, e pergunta como ele faz seu processo de composição, e o músico gaúcho responde: "Como eu me sinto mais à vontade com a letra do que com a música, eu deixo a música sair na frente. Sou muito mais rigoroso com meu texto do que sou com minha melodia, minha harmonia. Mas eu não tenho uma forma muito racional, apesar de muita gente achar que é muito racional o que eu escrevo. Não consigo fazer uma música de propósito. (...) Às vezes fico muito tempo sem escrever uma linha, e de repente escrevo três músicas. A expressão da composição é uma coisa que se dá na parte do cérebro que tu não tem muito controle, irracional, e quando aquilo vem pra parte racional, tu tem a ilusão que tu tá compondo, mas na verdade aquilo já vinha se compondo há muito tempo num pedaço do seu cérebro para o qual tu não tem muito controle."
A entrevista de César Brecailo com Humberto Gessinger pode ser vista, na íntegra, no site da Gazeta do Povo.
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